Régis Montagna: Avesso à rotina

O publicitário, apaixonado pelo trabalho, procura viver intensamente cada momento e aprecia tudo o que é esteticamente belo

A cada instante, as idéias se multiplicam. Qualquer momento é fonte de inspiração. Assim é o cotidiano do publicitário Régis Montagna, diretor de Criação da agência Escala. "Se tem uma coisa que pra mim é abominável é a rotina. Isso não existe na minha vida, a ponto de eu não fazer todos os dias o mesmo caminho para vir para a agência", exemplifica. Ao mesmo tempo em que se mantém conectado ao trabalho durante praticamente as 24 horas do dia, é uma pessoa que demonstra viver intensamente. "Então a minha vida vai mudando muito e esse caos organizado é superbom, pois eu vou aprendendo e descobrindo outras coisas", constata.


Nascido em 24 de janeiro de 1968, em Canoas, começou atuando em agências do Vale dos Sinos e veio para a Capital com 25 anos. Há 15 , é casado com Cissa, profissional da área que trabalha na Voicez, produtora de áudio de São Paulo com sede em Porto Alegre. É pai-coruja das pequenas Antônia, 8 anos, e Catarina, 4, que já se arriscam a fazer seus primeiros traços: duas gravuras, uma de cada, estão emolduradas na parede da sala de Régis, na agência.


Talento hereditário


Entre as memórias mais remotas da infância, Montagna lembra do pai - que tinha uma transportadora e, por isso, passava muito tempo fora de casa - desenhando. "Uma das imagens que me vem à cabeça, de quando eu era criança, é que, quando ele voltava, ele me botava no colo e desenhava pra mim. Desenhava caminhões, pontes e estradas. E ele desenhava superbem, em perspectiva. Então , eu acho que isto ficou registrado e, a partir dali, eu comecei a desenhar", conta o publicitário.


Montagna foi precoce. Começou a atuar na área antes mesmo de ingressar na faculdade. Aos 17 anos, ainda estudante do Ensino Médio, teve sua primeira experiência. Foi em estágio na Procan Publicidade e Propaganda, de Canoas, pequena agência da sua tia Suzana, a primeira publicitária da família. "Eu sempre gostei muito de desenhar?", conta o publicitário que chegou a pensar em cursar engenharia civil, pois gostava de desenhar pontes. "Quando eu descobri que, na Propaganda, tinha uma área relacionada a desenho, na época, pensei: gostei!". A oportunidade influenciou Montagna a optar pelo curso de Publicidade e Propaganda.


E a escolha foi acertada. "Eu até digo que tenho muita sorte, pois tem muita gente que não sabe bem o que quer fazer profissionalmente, e eu descobri, antes de entrar na faculdade, o que eu ia fazer pro resto da minha vida", reconhece. Aos 18 anos, ingressou na Unisinos. Quando já estava no meio do curso, começou a trabalhar na agência Blanke, de Novo Hamburgo, onde permaneceu até 1992. Montagna lembra que, para conseguir o estágio na Blanke, que era para fazer past-up, teve que enfrentar entrevista com a diretora de arte da agência, que mostrou uma pintura que utilizava uma técnica superapurada e o questionou se ele conseguia fazer igual. "Eu gostava de desenhar, fazia meus rabiscos, mas eu não era um ilustrador. Mesmo assim, eu respondi "sim, consigo". A partir dali, eu rezei para que não aparecesse nada parecido, porque eu não ia conseguir, e graças a Deus nunca apareceu, e eu estou aqui até hoje, acho que "enganei" bem", brinca.


Já formado, foi para a RBA Publicidade, da mesma cidade. Em 1993, veio para a Capital com proposta de trabalho na SLM Ogilvy. Em seguida, foi para agência Escala, onde fez uma "escala", de quatro anos. De 1998 a 2000, passou pela Paim e depois pela DCS, onde ficou até meados deste ano, quando retornou à Escala. Nos últimos oito anos, vem exercendo a função de diretor de Criação.


Paixão pelo trabalho e o apreço pela beleza


"Eu tenho uma grande virtude que é também um grande defeito: eu amo isso aqui. Eu amo o que eu faço, eu amo propaganda. Eu respiro propaganda e me faz bem. É a minha paixão. A estética da propaganda, do design, da fotografia e da filmografia me atrai", descreve Montagna que, todos os dias, acorda com disposição de sobra. "Em contrapartida, isso consome todos os minutos da minha vida. Então, isso fez com que eu nunca conseguisse ter um hobby definitivo. O meu hobby é o que eu faço", afirma o workaholic assumido.


Montagna trabalha praticamente 24 horas por dia, já que, mesmo fora do local de trabalho, a todo o momento, está tendo novas idéias. "E isso não me faz mal", garante. "É difícil a cabeça do publicitário se desligar, está sempre funcionando. Parece um clichê, mas é verdade. Eu funciono assim. Eu tenho idéias à noite, durante o banho, vendo TV, brincando com as minhas filhas, viajando. O cérebro está sempre funcionando", explica. Por conta disto, nas horas de lazer, ele faz de tudo um pouco.


Ele e a esposa fazem pelo menos duas viagens por ano. O roteiro é escolhido de acordo com os participantes, seguindo a combinação estipulada pelo casal: uma das viagens é em família, e a outra em dupla. Também gosta de ler, cozinhar, reunir amigos em casa, ensinar as filhas e brincar com elas. Adora esportes. Freqüenta academia e joga futebol, corrida, bicicleta, pádel e snowboard, entre outros, dependendo da época. Num futuro próximo, quer aprender a jogar tênis e assim por diante. "Eu faço tudo isso, tudo meio junto, sou um cara intenso, não tenho problema de fazer várias coisas ao mesmo tempo e talvez por isso eu não me aprofunde muito numa ou noutra", acredita.


Montagna, que já teve "coleção de coleções", agora se limita a colecionar latinhas de mints de todas as cores, formatos, épocas e nacionalidades. Os exemplares, em geral, são arrecadados nas viagens e ficam expostos em uma enorme gaveta, em um balcão da sua casa. O design das embalagens é o que desperta sua atenção. Afinal, o gosto por tudo que é esteticamente belo, inevitavelmente, acompanha o publicitário, que também aprecia artes, moda, arquitetura e decoração. Montagna costuma brincar que é um arquiteto frustrado. "Tanto que, para fazer minha casa na praia, eu chamei um engenheiro e disse: "tu vais fazer a casa do jeito que eu quero". Eu que desenhei, eu que fiz tudo", conta. A habilidade complementar será um incentivo para, daqui a algum tempo, cursar Arquitetura.


Equilíbrio, satisfação e destino


Hoje, aos 40 anos, o publicitário comemora a conquista de algo que há tempos vinha buscando: a plenitude e o equilíbrio. "A minha atividade me proporciona uma vida muito boa. Agora eu consegui reduzir um pouco, porque antes eu trabalhava demais. Hoje, eu consigo dar mais atenção para a minha família",  destaca. Sobre felicidade, Montagna é racional: "a felicidade é utópica, ninguém alcança, tu vives a felicidade. Porque sempre que tu achas que alcançou, tu vais querer uma outra coisa. As pessoas são assim. Por isso, eu acho que o equilíbrio na vida pessoal e profissional faz parte disso", observa.


A satisfação do profissional se dá no dia-a-dia, quando alguém da equipe "coloca um trabalho bom na rua". "Isto me dá uma satisfação diária. Eu não fico esperando uma satisfação máxima. A minha satisfação é em doses homeopáticas, está nas pequenas conquistas", analisa. Para o publicitário, foco e planejamento são fatores indispensáveis para o sucesso profissional.


Montagna carrega com ele uma convicção: o destino. "Existem muitas pessoas que acreditam que tu possas mudar isso, mas eu acho que as coisas estão definidas. As coisas acontecem porque têm que acontecer", acredita. Em contrapartida, aparece a persistência, definida pelo publicitário como sua maior virtude. "Eu sei que parece contraditório, mas se tu me perguntares o seguinte: "tu vais mudar este destino?", eu te digo: vou tentar sempre".

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