Luan criança entrevista Luan adulto

Por Luan Pires, para Coletiva.net em especial Diversidade e Comunicação

Luan Pires - Arquivo pessoal

Em ano que é novo, a gente sempre resolve dar uma olhadinha pra gente. Nenhuma meta é alcançada se não tirarmos o binóculo da direção do horizonte e pegarmos uma lupa para olhar pra dentro. No ano que passou, o assunto diversidade e inclusão me fez criar consciência de muitos aspectos de mim mesmo que estavam escondidos. Quero acreditar que o movimento faz bem para o mercado, mas tenho certeza que fez bem para mim e para o menino Luan de anos atrás, também. Por isso, decidi fazer um experimento e deixar o Luan criança tomar a dianteira e fazer algumas perguntas pro Luan de agora. 

Luan criança: Quando eu crescer vou me tornar você. Ainda vamos nos sentir diferentes? Vamos ter que continuar fingindo gostar de coisas que não gostamos para não ficarmos sozinhos?

Acho que mesmo os adultos uma vez que outra se sentem diferentes e precisam amenizar algumas vontades. Mas a coisa vai melhorar. O psicólogo Abraham Maslow, que é um cara que fala sobre relações humanas, escreveu que as necessidades de felicidade individual não podem ser supridas sem primeiro satisfazermos a necessidade da conexão humana. Já o psicanalista Heinz definiu o ato de pertencer como a sensação de ser um "humano entre seres humanos". O que eu quero dizer com isso é que a vontade de ser diferente e a vontade de fazer parte de um grupo são a mesma coisa. Queremos ser respeitados enquanto indivíduos, mas não queremos ser isolados por isso. 

Luan criança: Eu ouvi de um colega que não existe um grupo de Luans. Como se eu não tivesse pessoas parecidas com o meu jeito. Como se eu não combinasse com ninguém. Vai ser sempre assim?

Você vai aprender muito sobre quem você é e porque os meninos da sua classe não são tão parecidos com você. Mas posso te garantir que você vai achar muitas pessoas que passaram pelo mesmo que você passou, ou até por situações piores. Você vai achar o seu grupo ou melhor: vários grupos de diferentes tipos. Você vai combinar com muitas pessoas e vai entender que apesar da sua individualidade, do seu jeitinho de agir, você não estará só. Nunca esteve. Você só está numa bolha. Essa bolha vai se ampliar e sua missão vai ser cada vez mais tentar sair dela. Você vai gostar disso: conhecer outras histórias E isso é algo que vai guiar a sua vida e vai te levar a escrever.

Luan criança: Então você sabe quem a gente é? Digo, o que representamos? Às vezes me sinto um papel em branco?

A gente vai procurar sempre chegar mais perto dessa resposta. A busca não tem fim. Mas vamos descobrir aspectos fundamentais do que é nossa identidade. Todas as pessoas fazem isso. Tem uma autora chamada Stefanie K., especialista em diversidade e inclusão em grandes empresas que cunhou o termo "Inclusificar". É a síntese do nosso desejo de querer ao mesmo tempo nos destacar e nos encaixar no grupo. E nesse processo existem aspectos que resistimos a abandonar porque são a gente. Se a gente fosse uma casa, seria a nossa base. Nunca vamos deixar de gostar de ouvir as pessoas e dar conselhos, nunca vamos abrir mão de falar sobre o que é justo, continuaremos sem paciência para alguns argumentos, teremos que aprender a entender mais as pessoas e o mais importante: todas essas falhas nossas, continuamente trabalharemos para ter orgulho delas porque elas também fazem quem a gente é. 

Luan criança: Para encerrar que a mãe quer que eu ajude a lavar a louça. O mundo vai ser um local mais feliz pra gente?

Nós vamos trabalhar dia e noite para que isso aconteça. Para nós e para todos que, em algum momento de suas vidas, não se sentiram aceitos por aquilo que são.

Luan Pires é jornalista e executivo de Planejamento Estratégico e Comportamento.

 

 

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