Marketing ‘de branco’

      Conforme informação divulgada ontem, a população brasileira é constituída de 45% de indivíduos negros e pardos. Para ser mais exato, são 6,1% de negros …

      Conforme informação divulgada ontem, a população brasileira é constituída de 45% de indivíduos negros e pardos. Para ser mais exato, são 6,1% de negros e 38,9% de pardos. Houve um incremento no número de pessoas de cor negra, e uma das causas deste aumento, conforme o IBGE, é o aumento da consciência e afirmação da condição negra.
      Portanto, quase metade do Brasil é composta de negros e pardos. Indivíduos diferentes requerem produtos diferentes. Isto qualquer estudante de marketing sabe. Mas parece que muitas de nossas empresas não estão atentas a isto. A pele e o cabelo dos negros, por exemplo, têm características diferentes das dos indivíduos de cor branca. Por que, então, tamanho desprezo por esta diferença e, principalmente, por este mercado?
      A Unilever estará lançando, nos próximos dias, o sabonete Lux para pele negra e morena. Parece que as grandes empresas começam, ainda que lentamente, a identificar este mercado como atraente e diferenciado. A Lux estima que haja no Brasil 35 milhões de mulheres negras e morenas. Não é um mercado que se possa desprezar, não é mesmo?
      Uma das causas desta desatenção das empresas para com os indivíduos negros pode ser uma leitura míope. Pode acontecer a idéia de que, se há muitos negros entre os pobres (por razões históricas, de ter sido a raça negra explorada e maltratada à exaustão, ao longo da história do Brasil), todo negro é pobre. E que, portanto, tem baixo poder aquisitivo. E que, portanto, não interessa.
      Mesmo esta distorção (de que o mercado de baixa renda não é atraente) está sendo corrigida pelas grandes empresas. A Procter & Gamble viu o consumo do sabão Bold crescer mais do que o do Ariel (este destinado às classes com poder aquisitivo maior). A Danone adquiriu, há um ano e meio, a Paulista, ao ver sua participação de mercado de iogurtes diminuir, perdendo para produtos de preços mais baratos. Já a L"Oreal adquiriu da Revlon, no ano passado, a Colorama, por motivo semelhante ao da Danone.
      Já abordei aqui a preocupação de grandes empresas com o crescimento das marcas populares, assim como este tema já foi tratado pelas revistas de economia. Portanto, não é um fenômeno novo. Espero somente que as empresas não fiquem esperando num futuro próximo saírem matérias nas revistas de negócios sobre "marcas negras", dando conta de que elas, apesar de desconhecidas, estão ganhando mercado, para fazerem alguma coisa. É preciso deixar de fazer marketing "de branco". É preciso fazer marketing.
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