As obras que desfiguram a Rua dos Andradas

Por Márcia Martins

Sem muito dinheiro (aliás, orçamento muito apertado já na metade do mês), aceitei finalmente o convite do amigo para uma caminhada pela Feira do Livro, que se encerrou ontem (15/novembro). E lá pelas 17h da terça-feira, 14, fui para o centro de Porto Alegre a fim de encontrar o parceiro de conversas na Praça da Alfândega. Para chegar até o local que recebe anualmente os livros, resolvi andar pela Rua dos Andradas, que atende pelo apelido de Rua da Praia. Juro, por tudo que é mais sagrado, pelo sangue de Jesus, que o cenário desolador de obras e obras na Rua dos Andradas, dificultando a passagem de pedestres, me causou uma tristeza profunda.

Pode ser que esteja atrasada e que as obras, que deixam um espaço pequeno para o trânsito das pessoas, trancando todo o centro do calçamento na via, sejam algo antigo, e quem sabe, muito em breve, devem estar concluídas. Oxalá! Porque, simplesmente, o caminhar pela rua está inviável, insuportável. Além de desviar das pessoas no sentido contrário, é necessário espanar e sacudir o que for possível da roupa para tirar o pó que se acumula, cuidar para não cair no isolamento do canteiro da obra neste exercício de passar pelo local e arrastar bem o calçado para tirar a sujeira acumulada na caminhada.

Segundo reportagem do SUL21, publicada em 6 de outubro, a obra faz parte do processo de revitalização da Rua dos Andradas e do chamado Quadrilátero Central. Prevê a reconstituição do desenho dos paralelepípedos, colocação de uma camada de asfalto para melhor assentamento das pedras e substituição de redes de água do Departamento Municipal de Água e Esgotos. Agora, a informação cruel: a data prevista para a conclusão das obras no local é só em junho de 2024. Parece que Oxalá, citado mais acima, não entrou em ação.

Quer dizer: se puder, evite de todo jeito passar pela Rua dos Andradas. Mude o itinerário. Altere o trajeto. Mesmo que a caminhada fique mais longa. Repense bem se é mesmo necessário cruzar pela via. Não teste a sua paciência. Lamento profundamente os trabalhadores que tem sua base ali naquela rua, aqueles que precisam obrigatoriamente andar pela via e todos que realmente não tem outra alternativa. O estado atual da Rua da Praia é desanimador.

Vejam bem. Não sou contra a modernização e o embelezamento da cidade. Não sou contra o progresso e o desenvolvimento. Mas entendo que um planejamento mais eficiente pode atenuar os problemas das obras. Acredito que a cidade não precisa ser entregue de mão beijada para as construtoras (aí, não me refiro às obras da Rua dos Andradas). E sou contra toda e qualquer intervenção que resulte em prejuízos para o meio ambiente, como o corte indiscriminado de árvores.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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