A amizade e os humanos

Por Luan Pires

Amigo é um termo usado bastante, de muitas maneiras e impregnado de diversos significados. Mas, em todos eles, existe uma coisa em comum: a escolha. Nenhum humano é obrigado a ser amigo de outro, muito menos a continuar essa amizade. Até porque na sociedade em que vocês vivem, tudo joga contra essa relação: as bases da civilização moderna estão na produtividade, o que leva a uma necessidade de competitividade. Fico me perguntando: como os humanos conseguem torcer e, mais do que isso, ficar felizes por outros que conquistaram algo que eles próprios queriam? Eu, sinceramente, como estudiosa das entranhas humanas, fico surpreendida e admirada. Não é algo típico de vocês, me perdoem a honestidade.  

Eu sei que vocês são seres sociais. Queria lembrar, meus queridinhos, que eu sou a Vida, não a sociedade. A sociedade é um produto vindo das suas necessidades, para o bem ou para o mal. Digo isso porque embora exista no intrínseco de vocês a necessidade de conexão, a amizade é algo além disso: é uma conexão não só instintiva, mas consciente, que exige esforço, renúncia e manutenção. A amizade exige autocrítica e aperfeiçoamento. Todas essas exigências não tornam a amizade algo menos lindo, pelo contrário. É fácil gostar de uma pessoa e desgostar no primeiro defeito que aparece dela. Mas, entender que aquele outro ser-humano é uma camada de falhas e traumas e mesmo assim querer partilhar pontos importantes das suas pequenas existências é algo tão bobo que chega ser poético.

É claro que amizades existem em outros tipos de relações: com namorades, familiares e colegas de trabalho. Mas, todas essas relações têm como centro outro objetivo. A família, pelo menos no conceito geral, é responsável pela sua percepção de você mesmo. Já os namorades entregam amizade, mas também entregam sexo, vida à dois, planos conjuntos para o futuro (a amizade em si não é o único fator). Mas quando falamos de amigos, não há uma moeda de troca ou uma condição pré-estabelecida. Vocês humanos escolhem uns aos outros baseados em critérios nada mensuráveis. Na minha pesquisa eterna sobre vocês, percebi que não importa o tempo, a convivência, muito menos a quantidade de desentendimentos: amigos podem - sim - se machucar, mas estão sempre dispostos a se perdoar e seguir porque na balança da relação, a convivência de trocas sempre vale mais. 

Amizades são curas para os males que vocês vivenciam. São feitas de olhares que não precisam de explicação, de explicações que não precisam de justificativas, de justificativas desmascaradas por quem te conhece muito bem. O colo que cura, a lágrima transformada em risada, o desamor compartilhado, o amor celebrado como se fosse uma conquista de ambos. Amizades são amores conscientes, esforçados e em constante mudança. Por isso, quando duram, é como um rio que enfrenta a seca sabendo que a chuva virá: amizade é a partilha da esperança por um "estar no mundo" melhor. 

Em época de inteligência artificial e empatia programada (procurem na internet, vocês adoram isso), é lindo perceber que para os humanos a conexão pura e imensurável acontece como o rio que se sente mais forte ao saber que o mar está logo ali na frente.

Com Amor, Vida.

Autor
Luan Nascimento Pires é jornalista e pós-graduado em Comunicação Digital. Tem especialização em diversidade e inclusão, escrita criativa e antropologia digital, bem como em estratégia, estudos geracionais e comportamentos do consumidor. Trabalha com planejamento estratégico e pesquisa em Publicidade e Endomarketing, atuando com marcas como Unimed, Sicredi, Corsan, Coca-Cola, Auxiliadora Predial, Deezer, Feira do Livro, Museu do Festival de Cinema em Gramado, entre outras. Articulista e responsável pelo espaço de diversidade e inclusão na Coletiva.net, com projetos de grupos inclusivos em agências e ações afirmativas no mercado de Comunicação. E-mail para contato: [email protected]

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