A violência contra as mulheres segue em ascensão

Por Márcia Martins

Um dia ainda vou escrever uma coluna comemorando a eliminação total da violência contra as mulheres. Preciso muito acreditar que isso será possível. E se eu não estiver mais neste plano, uma vez que não sou eterna, confio que muitas companheiras abordarão com sabedoria este tema. Até porque sei que a garra, a força e a persistência dos movimentos feministas jamais sossegarão enquanto tal objetivo não for atingido. Mas, enquanto existir uma mulher sendo desrespeitada, discriminada, agredida, violentada e sofrendo qualquer tipo de assédio, minha voz, minha escrita e minha luta não serão interrompidas.

Por isso, fiquei estarrecida ao ler na Matinal News, reportagem veiculada em Zero Hora no dia 10 deste mês, informando que os registros de casos de ameaça e lesão corporal contra as mulheres aumentaram no Estado. Inclusive, a chamada da Matinal dizia que a cada 27 minutos uma mulher é agredida no Rio Grande do Sul. Nos primeiros 11 meses deste ano, foram registrados 47,7 mil casos de lesão corporal e ameaça contra mulheres, conforme levantamento da Secretaria da Segurança Pública do Estado. Isso sem falar que o número pode ser maior em função da subnotificação.

De janeiro a novembro de 2023, as ocorrências de lesão corporal tiveram uma elevação de 9,3%, na comparação com o mesmo período do ano anterior. A mesma reportagem indica que foram 17.739 mulheres agredidas nos 11 meses deste ano aqui no Estado. E que as notificações de ameaças, no intervalo de tempo já citado, subiram 6%, ou seja, um caso de agressão ou ameaça a cada dez minutos. Lamentável tomar conhecimento destes números porque confirmam que, nós mulheres, estamos constantemente sujeitas aos mais variados tipos de violência.

Mas, por outro lado, na mesma reportagem, as autoridades policiais ouvidas arriscam que este crescimento pode ser interpretado como um sinal de que as mulheres começam, finalmente, a romper o silêncio. Ou seja, se sentem mais acolhidas para fazer as denúncias e estão melhor informadas de seus direitos e de como podem recorrer. E uma ameaça ou lesão silenciada, isto é, em que o agressor não corre risco nenhum, é um caminho livre e fácil para um caso de feminicídio mais adiante.

Mulheres, por favor, não se calem, não se omitam, não aceitem silenciar ante qualquer tipo de violência. Não é este o caminho natural. Façam valer os seus direitos. Denunciem os seus agressores. Não esperem um fim mais trágico. 

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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