Além dos tijolos, edificando valores

Por Beto Carvalho

Certa vez estive na cidade de São Luís-MA para realizar uma palestra. O evento, organizado e promovido por uma empresa incorporadora na área da construção civil, destinava-se ao mercado imobiliário da capital maranhense, mais especificamente para empresários e corretores de imóveis.

Chegando à cidade no dia anterior e observando a paisagem urbana no trajeto aeroporto ao hotel, já era possível verificar a pertinência mercadológica de eventos como o que iria participar: a cidade apresentava forte ritmo construtivo, transformando-se em verdadeiro canteiro de obras, adornado por praias belíssimas sob calor intenso temperado por permanente brisa tropical.

O local do evento, um aprazível hotel cinco estrelas ancorado à beira-mar, não poderia ser escolha melhor para abrigar mais de trezentas pessoas para o lançamento de um imponente empreendimento comercial dotado de estética invulgar e sofisticados requintes construtivos.

A programação do encontro iniciou pela manhã, incluso almoço conjunto, sendo a minha apresentação, estabelecida como atividade de encerramento, prevista para o final da tarde. Assim, cheguei ao local dos acontecimentos no começo da tarde e postei-me entre os presentes para observar preliminarmente o clima e perfil comportamental dos participantes.

Decisão acertada, pois desta forma pude presenciar a exposição do seu Juraci, proprietário da Incorporadora responsável pelo lançamento imobiliário. Chamado a falar, percebi erguer-se entre os presentes um senhor longilíneo, passos lentos e cadenciados em firme direção ao microfone. No seu rosto a marca indisfarçável do sol em excesso, como que sinalizando o seu perfil laboral: homem forjado na prática, empreendedor de carteirinha e luzidia predileção pelo fazer e acontecer.

Não deu outra. A emissão das primeiras palavras do seu pronunciamento evidenciava o acerto da minha caracterização preconcebida. Frases curtas, gestos comedidos e simplicidade vocabular descortinavam aos meus olhos um típico e autêntico self-made man.

Fixei-me, então, no conteúdo da sua exposição que, presumia, seria rápida, objetiva e prática. E nela, para minha surpresa - e satisfação - fui brindado por uma frase tão simples quanto genial, capaz de fazer-me reverenciá-lo ato contínuo à entrada da sua voz em meus ouvidos:

- Tenho dito aos meus colaboradores que o maior patrimônio que construí ao longo desses vinte e oito anos de empresa é a qualidade das nossas obras e o respeito a quem nos prefere. Assim, digo e repito: como resultado, devemos sempre buscar o maior lucro possível. Mas se preciso for, admito dar até prejuízo para sempre fazer o certo.

Em poucas palavras, uma regra básica de quem conduz uma empresa voltada à perpetuação mercadológica. A busca do lucro é primado pétreo do capitalismo, ingênuo seria pensar empresas que duram sem este referencial. Porém, na gênese existencial dessas mesmas longevas empresas está o foco no cliente, o respeito ao seu dinheiro e, sobretudo, a valorização da congruência entre o prometido e o entregue. E na simplicidade da prática de entregar o que se promete, não tenho dúvida, imagino repousar todo o sucesso da incorporadora do seu Juraci. Talvez, para muitos, seja isso apenas detalhe. Mas certamente, na realidade, um detalhe que faz toda a diferença.

Retornei de São Luís com o desejo de que o exemplo daquele empresário maranhense não seja fato isolado, com a esperança de que a construção do Brasil continental seja cada vez mais pródiga em Juracis.

Autor
Beto Carvalho é consultor, mentor e conselheiro Empresarial, escritor e palestrante. Executivo com mais de 25 anos de experiência diretiva em empresas nacionais e internacionais, foi recentemente diretor-executivo de Marketing do Grêmio, tendo sido eleito em três oportunidades, o melhor executivo de Marketing de Clubes do futebol brasileiro. Escritor, Beto Carvalho é autor dos livros A Azeitona da Empada (2007), A Cereja do Bolo (2009), Você é o Cara (2011) e Diferencie-se (2023).

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