Assim como o coelho da Alice, tenho muita pressa

Por Márcia Martins

Hoje, 30 de novembro, último dia do penúltimo mês de 2023, e bateu aquele desespero de que ainda tenho tanta coisa a realizar antes que o próximo ano chegue com sua promessa de vida no meu coração, tantas palavras a serem ditas, tantos encontros precisam ser marcados, tantas saudades pungentes necessitam ser diminuídas e tantas encrencas exigem solução rápida. E, por isso, tudo neste instante, assume um caráter desenfreado e desmedido de urgência e não é possível ficar na janela feito Carolina e não ver o tempo passar.

Assim como o Coelho Branco (White Rabbit) de 'Alice no País das Maravilhas', livro de Lewis Carroll, todo o tempo carregando um relógio enorme, porque está sempre atrasado, correndo, com muita pressa e precisa levar a personagem de volta ao seu destino (Mundo Subterrâneo), viverei os próximos dias e noites deste resto de 2023 em ritmo acelerado, ágil e ligeiro. Simplesmente porque é preciso aproveitar, ao máximo, o que me resta deste ano ímpar (já disse em outras colunas, anos ímpares jamais me trouxeram sorte), e tocar o que falta fazer (e é viável) numa cadência endoidecida.

Caso contrário, vou repetir incontáveis vezes, como disse White Rabbit no livro, posteriormente transformado em filme, "vou chegar atrasada demais", toda vez que consultar o relógio de pulso ou me deparar com o horário no canto inferior direito do notebook. A partir de agora, sem desculpas, preciso agendar o café com aquela amiga de todas as horas, chamar as manas (Lessa e Neneca) para nosso encontro de final de ano, organizar melhor as finanças para tentar, quem sabe, começar 2024, mais equilibrada, retomar as aulas de alongamento, fazer uma pequena e enxuta lista de presentes de Natal.

É necessário apressar as pendências, ativar o sinal de alerta do que realmente é urgente ser feito, porque, certamente, vai faltar tempo e iniciarei o próximo ano com a sensação indigesta de que não consegui zerar todos meus compromissos assumidos para 2023. Talvez, e algum especialista possa até explicar, esta urgência de final de ano parece ser um estresse do período, uma pressão de que devo resolver tudo ao mesmo tempo, com a nítida consciência de que 24 horas não é tempo suficiente para os meus dias até 31 de dezembro de 2023.

Já que usei o Coelho Branco para exemplificar essa minha angústia de pressa para encerrar 2023 um tanto quanto zerada (digamos assim), vou me apropriar de dois pensamentos que constam no livro de 'Alice no País das Maravilhas', para dizer como tentarei equacionar tantas pendências. A primeira é: "a única forma de chegar ao impossível é acreditar que é possível". E a segunda, que é a minha preferida (porque procuro sempre aplicá-la): "o segredo, querida Alice, é rodear-se de pessoas que te façam sorrir o coração. E então, e só então, que você estará no País das Maravilhas".

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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