Até quando atos de racismo e misoginia?

Por Márcia Martins

Será que viverei o suficiente para acordar um dia e não ler mais nas mídias ou nas redes sociais que um novo ato de racismo e misoginia foi cometido em algum lugar deste imenso Brasil? É toda hora, em diferentes cantos do País, alguém que se acha superior, um alecrim dourado, protagonizando uma cena cruel de preconceito, discriminação e perseguição contra nós mulheres, população negra e comunidade LGBT. Sem falar nos feminicídios que seguem em ascensão e precisam, com urgência, passar a ser tratados pela mídia pelo nome de feminicídio (crime de ódio baseado no gênero) e não mais crimes passionais.

Assim, foi com uma indignação incontrolável que li sobre um crime de transfobia ocorrido na madrugada do dia 19 na casa de shows Casarão do Firmino, que fica na Lapa, Rio de Janeiro. Pois na famosa casa de samba, três mulheres trans foram brutalmente agredidas por mais de 15 homens, incluindo seguranças do local, ambulantes e um motorista de aplicativo. Ao deixar o estabelecimento, Zuri, uma modelo trans de 25 anos, e mais duas amigas, sofrerem agressões verbais e físicas. Entre os xingamentos proferidos pelos agressores, muitos comentários transfóbicos.

Num primeiro momento, o Casarão do Firmino não se manifestou sobre o caso de transfobia e chegou a dizer que tal crueldade não passava de mais um boato e fake news. No entanto, após a divulgação de imagens confirmando as agressões, a casa decidiu afastar os seguranças envolvidos na confusão. Já foram ouvidos depoimentos de oito pessoas, entre vítimas e agressores e o caso passou a ser investigado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. Importante reforçar que recentemente o STF determinou que casos como esse devem ser enquadrados como crime de injúria racial.

Por isso, a luta para assegurar os direitos da comunidade LGBT precisa seguir com força e coragem, sem esmorecer em nenhum momento, respeitando a vida desta população. Afinal, somente em 2023, foram assassinados 145 travestis e transexuais no Brasil. Mais do que nunca, é preciso investir na inclusão desta parcela que segue discriminada na nossa sociedade e punir, com o rigor da lei, os casos de transfobia. Cada pessoa tem o direito de ser e viver como quiser. Ninguém tem nada com isso. Absolutamente nada!

E na sexta-feira, 26 de janeiro, atletas do Tijuca Tênis Clube denunciaram um caso de racismo no jogo contra o Curitiba Vôlei, partida válida pela Superliga Feminina B. No Clube Círculo Militar, em Curitiba, local do jogo, a levantadora Thais Oliveira e as centrais Camilly Ornellas e Dani Suco ouviram imitações de sons de macaco vindo das arquibancadas. "Eu queria dizer que ouvir tais insultos racistas é como se a gente não tivesse alma, como se não fôssemos humanos, é muito doloroso e não podemos normalizar", relatou Dani. Ela prossegue: "Parece que tinham me batido. Nós fomos trabalhar, proporcionar espetáculo para as pessoas que gostam de voleibol e acabamos violentadas da pior forma possível".

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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