Bandidos e mocinhos

Por José Antônio Moraes de Oliveira

 

"Nada é mais prejudicial à vida humana

do que a ignorância do mal."

Cicero.

 

Thomas Hezikiah Mix foi um ator de enorme sucesso nos tempos do cinema mudo. Mais conhecido pelo seu nome de guerra, Tom Mix, ele praticamente inventou o far-western, quando John Wayne ainda usava fraldas. Quem dirigia, Tom Mix era o húngaro naturalizado William Fox, um dos fundadores de Hollywood. Mas era Thomas Mix que definia os personagens de seus filmes. Não abria mão de seu chapelão branco e exigia que os vilões usassem chapéus pretos. E justificava:

 "- As pessoas precisam identificar

quem é bandido e quem é herói."

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Antes disso, no século XV, um pensador florentino escrevia que Moisés apenas foi elevado à condição de líder carismático devido à escravidão do povo de Israel no Egito. E que Ciro, o Grande, apenas mostrou seu poder e força quando foi preciso libertar o povo persa oprimido pelos medas.

Voltando aos tempos modernos, teria Franklin Delano Roosevelt se revelado como o estadista capaz de galvanizar o povo norte-americano  se os japoneses não tivessem atacado Pearl Harbour?

Tanto nos livros de história como na literatura, os salvadores surgem no horizonte quando malfeitores oprimem as pessoas e a sombra do mal escurece a Terra. Assim foi com Teseu e com os semi-deuses da mitologia grega.

E na Chicago moderna, quando Eliot Ness é chamado para salvar a cidade dos gangsters, ele não procura a ajuda dos cidadãos de bem, mas recorre aos maiores desajustados que pode encontrar. Nas planícies do Oeste Bravio, quando o gado começa a ser dizimado por lobos e pumas, os desbravadores não ensinaram novilhos a correr mais rápido. Criaram cães ferozes e os lançaram contra os predadores.

As crônicas da História ensinam que muitas vezes, é preciso chamar os feiticeiros para combater os feitiços. Quando os blindados de Adolf Hitler avançavam pela Europa, a diplomacia e negociações se revelaram inúteis. Foi preciso desencadear uma guerra mundial para aniquilar o dragão da maldade.

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De volta ao cinema - o crítico francês André Bazin definia o far-western de Hollywood como uma perfeita fábula da eterna luta entre o Bem e o Mal. Que teve início nos toscos bangue-bangues de Tom Mix, mas que maturou quando as pradarias do Wild West foram visitadas por talentos criadores como John Ford e Clint Eastwood. A partir do clássico 'No Tempo das Diligências', de 1939, o tiroteio entre chapéus brancos e chapéus pretos assume contornos de confronto primordial e atemporal, com o enfrentamento do homem da lei com o criminoso, do civilizado com o selvagem, do desbravador com as feras.

Em uma rara entrevista à TV, Clint Eastwood declarava que não tinha interesse em filmes que reduzem pessoas a heróis e vilões, mas sobre o homem pacífico, que é forçado a recorrer à violência para enfrentar a maldade.

Não por acidente, alguns de seus filmes se alimentam na figura bíblica do Anjo Exterminador ou no protótipo Shane, o pacificador, que é obrigado a voltar às armas para proteger os que ama. Talvez estivesse pensando no pensador florentino que advertia que os caminhos da bondade e da maldade frequentemente se cruzam:

 "Em um mundo de perversos, aquele que pretende seguir cegamente os ditames da bondade, está no caminho da própria perdição."

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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