De tudo um pouco e nada muito profundo

Por Márcia Martins

As teclas do notebook à minha frente me desafiam a encontrar algum assunto para a coluna da semana. Não sei se é a chuva em dias alternados e a tragédia que se instalou sobre populações em áreas alagadas. Pode ser o final do mês a indicar que faltou, como sempre, orçamento para o período e lá vou sortear as prioridades até o dia 30. Talvez o cachorro Quincas Fernando, em época de guarda compartilhada na minha casa, completamente entojado com os dias que fica trancado em consequência da chuva. Ou a saudade de minha mãe que, às vezes, sai da gaveta das emoções guardadas e me invade de jeito.

A única certeza é que a inspiração, nesta semana, resolveu tirar folga. Se arrumou toda e saiu. Não há forma de aparecer. Se dizer presente. Indicar um tema. Apontar uma saída. Ou sugerir uma alternativa.

Poderia falar sobre o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro (segunda-feira passada), e de como, em pleno 2023, ainda precisamos refletir sobre a superação das diferenças, a igualdade para todes e o racismo presente em atos cotidianos. Sobre o recente caso da apresentadora e empresária Ana Hickmann que registrou um boletim de ocorrência contra seu marido por lesão corporal e violência doméstica. E, novamente, como já fiz em outras colunas, lamentar os números surpreendentes de violência contra as mulheres que só crescem, principalmente, nas sociedades patriarcais.

Ou lastimar, demasiadamente, não só pelo cenário de omissão inexplicável e capitalista da produção do show de Taylor Swift, a T4F, ao ignorar a sensação térmica perto de 60ºC, a morte da jovem Ana Clara Benevides, no primeiro dia da apresentação da cantora no Rio de Janeiro. Mas, especialmente, como uma mãe que chora desesperada a morte de sua filha, cujo desejo era apenas ver o show de uma artista da qual era fã. Imaginem a tristeza desta mãe ao receber o corpo da filha para enterrar, sem saber ainda a causa real da morte, mas com uma suspeita de que foi motivada pela exposição ao calor intenso.

Na realidade, a morte da Ana Clara Benevides, incitou meu lado materno, se é que alguma vez ele esteve adormecido. Porque, independente da faixa etária, da situação financeira e de qualquer outro detalhe, os filhos continuam sempre a ser a nossa maior preocupação. Podem já não morar mais conosco. Não depender financeiramente da gente. E até mesmo, de vez em quando, esquecer de mandar notícias. Mas seguem sempre, irremediavelmente, nos nossos pensamentos e para onde irradiamos nossas melhores intenções. Por isso, em lágrimas, envio toda minha solidariedade à mãe de Ana Clara. Mãe é tudo igual. Só muda o endereço.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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