Do contraste, a sabedoria

Por Flavio Paiva

Se não há contraste, não há consciência. E não sou eu quem afirma isso, não só. É a filosofia oriental, há alguns milhares de anos. Basicamente, a ideia é de que enxergamos e nos conscientizamos (e, em princípio, nos tornamos mais sábios) a partir desses contrastes. Podem ser perda e ganho, quente e frio, ausente e presente, normal e anormal, alto ou baixo, enfim, a lista seria quase interminável.

A questão toda é que é sempre a partir do contraste que nos atentamos para alguma coisa e mesmo temos consciência dela. É quase inevitável esse aprendizado na vida, todos independente de cor, raça, classe social, idade, passamos por esse processo. De fato, alguns passam mais vezes por ele na vida e isso pode se dar por alguns motivos.

Um dos motivos é ter uma vida mais fácil ou para usar um termo atual, com muito menos atrito, no sentido da tecnologia, marketing e processos, em que as coisas acabam fluindo. Quem não quer uma vida com redução de atrito, uma vida fluída? Quase todo mundo quer, embora nem sempre o resultado na ponta seja bom. 

O que eu quero dizer é que uma vida com menos atrito acaba por gerar indivíduos com um grau de consciência menor das coisas e das pessoas, da vida em geral, além de não tirar as pessoas de suas zonas de conforto, sejam elas quais forem. Com isso, o indivíduo não cria uma casca grossa para suportar os baques da vida. Ou seja, se torna mais frágil, o que complica as coisas um pouco quando pensamos que a vida é difícil em sua grande parte.

O outro motivo fácil de apontar aqui é o próprio processo de amadurecimento, que tem a ver com o que descrevi acima. O aumento de consciência em tese gera um maior amadurecimento (falo em tese porque há exceções), logo a redução ou uma menor consciência, acaba fazendo das pessoas seres mais inconscientes, muitas vezes alheios à vida em si, com todas as suas vicissitudes.

Portanto, mesmo que por exemplo calor e frio, nos seus extremos, possam ser indesejáveis, nos trazem um crescimento geral. Então, antes de reclamarmos desses contrastes, podemos ver com outros olhos: os de que mesmo no desconforto(e principalmente nele, em algumas ocasiões) está havendo uma contribuição fundamental para a criação de uma pessoa melhor(o melhor aqui é no sentido de mais consciente e maduro). 

Logo, idealmente ninguém quer passar a vida com dificuldades, mas não vamos esquecer que as dores geram as melhores músicas e obras artísticas em geral. E assim acaba acontecendo com todos, ou quase todos. Então e voltando ao começo, quando passar por uma situação de contraste, não esqueça que ela pode estar te trazendo uma maior consciência.

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