Doze minutos

Por José Antônio Moraes de Oliveira

"Temos conosco uma máquina do tempo.

Que nos leva ao passado, despertando lembranças.                   

Ou nos conduz para diante, criando sonhos."

 

Charles Spencer Chaplin.

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Em 1972, Charles Chaplin deixa seu exílio voluntário na Suíça e viaja a Los Angeles para receber da Academia de Hollywood seu segundo Oscar honorário. A homenagem é acompanhada pela mais longa ovação em pé da história do Oscar, com uma duração de doze minutos. De regresso a Vevey, ele comenta para sua esposa Oona O'Neill:

"Fizeram de meus sonhos minha melhor lembrança".

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O reconhecimento de Hollywood teve imediato eco na imprensa norte-americana que escreve: "os filmes de Chaplin tiveram um efeito incalculável - de fazer do cinema a arte do século". Porém, os elogios tardios não foram suficientes para apagar as sombras dos anos 50, quando o macartismo obrigou o criador de Carlitos a renunciar sua cidadania e se auto-exilar na Suíça. O tempo se encarregou de redimir Charles Chaplin e consagrá-lo como um verdadeiro gênio e um dos "Pais do Cinema", ao lado dos Irmãos Lumière, Georges Méliès e D.W. Griffith. Ele atuava, dirigia, escrevia, produzia e financiava seus próprios filmes, com influências do comediante francês Max Linder e de Buster Keaton. Uma carreira que durou por mais de 75 anos, desde as primeiras atuações infantis nos teatros londrinos até quase até sua morte, aos 88 anos de idade. A vida pública e privada de Chaplin incluiu muitas controvérsias e polêmicas, mas sua genialidade nunca foi contestada. Juntamente com Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D. W. Griffith, fundou em 1919 a United Artists, um dos pilares da indústria do cinema.

Ele encerrou a carreira sem explicar seus métodos de filmar, alegando que seria o mesmo que pedir a Houdini revelar sua mágica. Na verdade, antes de produzir filmes falados em 1940, com 'O Grande Ditador', ele não usava roteiros. Seu contrato com o Essanay Studios lhe dava total liberdade de roteirizar e dirigir. Assim, ele filmava partindo de uma simples referência, como "Carlitos entra em uma loja" ou "Carlitos como vidraceiro". Ele tinha cenários construídos e dirigia na base de piadas, sempre improvisando na hora de filmar. Ele morreu no Natal de 1977 e foi sepultado em um pequeno cemitério em Corsier-sur-Vevey. Mas, seu repouso ainda não estava garantido - dois imigrantes desempregados violam sua sepultura e roubam o corpo com caixão e tudo, na tentativa de extorquir dinheiro de sua viúva Oona O'Neill.

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Meses depois, a polícia prende os criminosos e recupera o caixão em um vilarejo próximo ao Lago Léman. Chaplin é novamente enterrado em Corsier-sur-Vevey, desta vez, blindado por um ataúde de concreto. E no local é erigida uma estátua evocativa  de sua mais famosa criação, conhecida como Charlot na Europa  e como Carlitos no Brasil. Um personagem imortal do Cinema: um andarilho pobretão com gestos e maneiras refinadas de um gentleman, que usa um fraque preto apertado no copo, sapatos de clown, chapéu-coco, bengala de bambu e um pequeno bigode, herança do personagem Adenóide Hynkel, de "O Grande Ditador".

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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