Foco, resistência e expectativas reais para um 2024 diferente

Por Márcia Martins

Depois de um recesso do portal, escrevo no quarto dia de 2024, que é bissexto e nasceu com 366 dias, com votos sinceros de que um dia a mais que os anos normais, permita com fé, resistência e expectativas reais que todos, todas e todes consigam fazer um novo ano diferente. Para isso, não basta apenas virar as folhas do calendário, nem comer lentilha na ceia do 31 de dezembro de 2023, nem encher de folhas de louro a carteira, e menos ainda, pular sete ondas no mar. Quem faz o novo período de 12 meses ser mais promissor, próspero, feliz e renovado são as atitudes de cada pessoa.

Se você comeu 12 bagos de uva para atrair sorte, prosperidade e energias para cada mês de 2024 e guardou as sementes em um pacotinho na carteira, mas segue fazendo dívidas desenfreadas no cartão de crédito e acumulando mágoas de encrencas não resolvidas, lamento avisar: mas a simpatia da uva não irá funcionar. O máximo que pode acontecer, se ingerir os 12 bagos, e ainda abusar dos comes e bebes na ceia do dia 31 de dezembro do ano passado, é iniciar 2024 com algum problema intestinal. Somente fazer simpatia e prosseguir com gestos negativos não mudará o rumo da sua vida.

Saiu feito um (a) endoidecido (a) para comprar uma roupa branca, ritual de origem nas religiões de matriz africana, a fim de usar na virada do ano que traz a simbologia de paz e harmonia, ou vestiu uma calcinha ou cueca branca, com o mesmo objetivo, porém já pisou no primeiro dia de 2024 com sentimentos de ira, rancor e cobranças emocionais, desista. O efeito da simpatia também não dará resultado. Se trajou amarelo para atrair dinheiro, vermelho para paixão e verde para a sorte e pretende permanecer cometendo os mesmos erros, sinto informar, mas tudo será como antes.

Não sou pessimista e nem quero tirar a esperança de quem fez tais simpatias, mas, como já disse Carlos Drummond de Andrade, o poeta de Itabira (Minas Gerais), "é dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre". De nada adianta ter colocado uma nota de dinheiro no calçado ou na carteira ou ter subido com o pé direito em um lugar mais elevado (um degrau ou cadeira) e mentalizado sucesso e ascensão profissional, se passar os 366 dias de 2024 sem ir atrás de novas perspectivas, apostar em mudanças, acreditar no seu potencial.

Então, caros leitores e caras leitoras: façam de 2024 um ano melhor, mais justo, com menos desigualdade social, preconceito e discriminação mudando as atitudes que em nada contribuem para isso. Termine com qualquer picuinha. Lembrem-se, me apropriando novamente do Drummond: "para ganhar um Ano Novo, que mereça este nome, você tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo". "Não é fácil, mas tente, experimente, consciente".

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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