Mais um mês de março para refletir e pouco a comemorar

Por Márcia Martins

E mais uma vez, nós mulheres lutadoras, sairemos unidas, exercendo a sororidade e conscientes num ato unificado, no dia 8 de março, a partir das 18h, em caminhada da Esquina Democrática até o Largo Zumbi dos Palmares, aqui em Porto Alegre. Para marcar o Dia Internacional da Mulher, com vários temas a serem ressaltados, mas, principalmente, pelas nossas vidas, contra todos os tipos de violência, pedindo um basta de feminicídios e o fim das privatizações. Será mais um mês de março com muito para refletir, muitas pautas a defender e, infelizmente, ainda pouco a comemorar.

Mas, o que nos move, é sempre mostrar à sociedade como um todo que nós podemos construir cidades, Estados, Países, enfim, lugares melhores para se viver. Locais em que a igualdade entre os seres não seja apenas uma palavra repetida à exaustão e pouco praticada. Em que a diversidade seja respeitada e que João possa amar Jorge e Marcela possa amar Sandra, sem que ninguém tenha nada com isso. Em que todes ganhem o mesmo salário ao exercerem a mesma função. E, especialmente, que nós mulheres possamos viver sem medo de morrermos pela simples condição de sermos mulheres.

Apesar de retrocessos, especialmente no governo do presidente Jair Bolsonaro, não nos é permitido desistir, reduzir o passo, deixar que o cansaço diminua as nossas lutas. Afinal, é preciso com urgência quebrar o ciclo de violência contra as mulheres que, fatalmente termina no feminicídio, em famílias destroçadas e crianças sem mães. Em 2023, segundo uma postagem da deputada estadual Laura Sito (PT) no Twitter, ao menos 7 mulheres foram mortas por mês no RGS, numa média de idade entre 18 e 39 anos. Destas, 64 eram mães e 32 tinham filhos com o autor do feminicídio, crianças e adolescentes que ficaram órfãos.

Quando marchamos unidas e gritando palavras de ordem no 8 de março, mais do que comemorar, queremos e precisamos alertar que é necessário quebrar o ciclo de violência que ceifa as nossas vidas. Que temos o direito de encerrar um relacionamento sem correr o risco de agressão ou morte porque o ex não aceitou o fim. Que uma repórter não pode ser importunada, seja pelo mascote do clube ou por qualquer outro indivíduo, ao exercer seu trabalho, como ocorreu no clássico Grenal de 25 de fevereiro. Que uma roupa mais ousada não é passaporte para assédio moral ou sexual. E que não é sempre não!

Enfim, seguiremos em marcha até que todas sejamos livres. Ou como diz o lema do Levante Feminista contra o Feminicídio: "nem pense em nos matar, quem mata uma mulher mata a humanidade". Como já ensinou Rosa de Luxemburgo: "por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres".

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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