Mas é carnaval e depois tudo volta ao normal

Por Márcia Martins

Na minha adolescência, e já se vão longos anos desta época de muita farra, festas e em que tudo é permitido, fui uma foliona que organizava fantasias para as gurias da turma da rua, comparecia a todos os bailes de salão possíveis, virava as noites cantando as marchinhas com a roupa toda enfeitada de confete e serpentina, beijei muito Pierrot e deixei uma legião de Arlequins chorando. Mas, o tempo, esse compositor de destinos, me transformou, junto com a chegada dos enta, numa carnavalesca que aproveita o feriado para descansar, talvez um retiro com as amigas ou simplesmente acompanhar o desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro pela televisão.

Se não estou enganada - às vezes, a memória pode falhar - a última vez que pisei num clube para curtir um carnaval foi pelo início dos anos 2.000, para levar a minha filha para o baile infantil do Grêmio Náutico Gaúcho. Gabriela, que sempre foi linda e continua uma belezura ainda hoje, estava maravilhosa com uma fantasia de fadinha que improvisei e pulou um pouco com outras crianças. Não sei foi aí que ela adquiriu a paixão pelo carnaval de rua e hoje é uma foliona que não perde uma saída do Bloco da Laje.

Como estou aposentada, o feriado do carnaval não chega, nos dias atuais, a me entusiasmar muito. Quando não se trabalha, todo dia é de descanso. No entanto, gosto quando o período do carnaval se aproxima porque ele me traz duas sensações fundamentais para a minha vida. A primeira é de que em breve, logo depois dos quatro dias de folia, quando tudo se acabar na quarta-feira, a cidade voltará ao seu ritmo normal. E a outra é que com o fim do carnaval, muito em seguida, talvez mais uns 30 dias, termine os dias mais calorentos do verão e os suores excessivos.

Então, se você é ainda da turma do carnaval, aproveite ao máximo os dias de folia. Beba o necessário. Namore muito. Improvise fantasias. Cante com vigor as marchinhas antigas. Não ultrapasse os limites, isto é, lembre-se que não é sempre não, independente da roupa que uma mulher veste. Se você vai ver os desfiles das Escolas, manifeste a sua torcida com respeito, aplauda quem sorri trazendo lágrimas no olhar. E se for para um canto qualquer, praia, serra ou outro destino, sossegue, medite, leia, faça do retiro o seu carnaval.

Neste carnaval, eu vou sair no Bloco dos Acadêmicos da Netflix, Unidos do Meu Sofá, Escola das Torcedoras da Fernanda Torres no Oscar, Amigos da Cerveja de Toda a Noite e Assaltantes de Tudo de Bom da Geladeira. Porque é carnaval, amanhã tudo volta ao normal, deixa a festa acabar, deixa o barco correr, deixa o dia raiar...

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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