O som do tempo
Por José Antônio Moraes de Oliveira
 
                                        
                                        
                                     
No bairro de minha infância morava um relojoeiro aposentado que colecionava relógios de parede. Os vizinhos comentavam que eram relógios que haviam sido esquecidos pelos clientes. Ele se divertia, assustando as crianças, dizendo que em seus relógios moravam gênios, que faziam mover os pêndulos e tocar as horas. Mas um dia, o ouvi falando sério:
"Os relógios devoram nosso tempo".
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As palavras do velho relojoeiro, mesmo distantes no passado, ainda retornam quando um carrilhão bate no meio da noite. Ou quando soa o sino de uma igreja ao longe. Certas crenças medievais diziam que os sinos das grandes catedrais não existem para chamar fiéis, mas para afugentar entes demoníacos que se escondem nas torres de pedra.
Para alguns historiadores, algumas das lendas sobrevivem até nossos dias. A Catedral de Valência, uma das mais antigas da Espanha, ainda preserva mistérios insondáveis. É comum ouvir um valenciano afirma que o sino principal da velha catedral costuma soar no Dia dos Finados e no Sábado de Aleluia, sem ser acionado pelos sineiros.
É possível que a Catedral de Porto Alegre também guarde seus próprios mistérios. Um ilustre historiador da cidade, o jornalista e escritor Dante de Laytano contava aos colegas do Correio do Povo que colecionava depoimentos de moradores da Praça da Matriz jurando que o sino Mãe de Deus - um gigante de quatro toneladas - toca na noite do 18 de janeiro, a data dedicada à Nossa Senhora Mãe de Deus, padroeira da catedral.
 
                 Coletiva
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                         José Antônio M. Oliveira
                                            José Antônio M. Oliveira