Quando começa realmente a fase do envelhecimento

Por Márcia Martins

Será que entramos definitivamente na etapa do envelhecimento do corpo, independente da faixa etária, quando levantamos bruscamente de alguma posição e os joelhos fazem um barulho estranho, intercalando sons de croc e crec? Ou quando o corpo apresenta sinais avançados de envelhecimento e preferimos ficar em casa maratonando séries ao invés de bebericar e trocar ideias nos bares da vida? Ou será quando, usando a desculpa do conforto, trajamos preferencialmente abrigos ou pijamas dentro de casa?

Não sei qual das alternativas citadas, e poderia enumerar outras, se encaixa mais na minha rotina de mais de 60 anos (sim, voltei a não falar a idade exata). Mas adoto todas elas cotidianamente de forma intercalada e vou descobrindo mais e mais opções de um certo enclausuramento e confinamento. Às vezes, sair, se arrumar, ir até um lugar, já dá um cansaço. Deve ser o peso dos anos cobrando sua fatura.

Mas, para não enferrujar totalmente - uma vez que percebi que o barulho de croc e crec é da idade e não significa que fiquei crocante - tenho me empenhado bastante nas aulas semanais de alongamento. Estica daqui, puxa dali, espicha outro lado e estende o braço. O que me tranquiliza um pouco - pelo menos quero pensar assim - é que o corpo responde, confesso que não tão facilmente, aos movimentos. E isto basta para eu tentar organizar o orçamento em 2024 a fim de sobrar uns trocados para voltar a investir nas aulas de Pilates.

Uma das situações que me mostram o nível do envelhecimento - e não sei o motivo exato da chateação, mas essa me deixa irremediavelmente possessa da vida - é quando me chamam de Dona Márcia. Nunca entendi a razão de tanta raiva, mas o Dona me incomoda profundamente, quase me contorço de ira. Tá bem. Pode ser indicativo de respeito. Mas sempre quando ouço Dona Márcia, sei que junto vem o atestado de que fiquei velha e não há mais saída. Ai, meus sais!

Só que na fase atual do meu envelhecimento, que espero seja a inicial, adotei uma teoria para a mente que, seguramente, irá funcionar para reduzir o envelhecimento do corpo. Sem preocupações com as rugas que já se avolumam, cuidados necessários e sem neurose com a alimentação, controle do consumo de bebida alcoólica (nunca fui sócia dos Aas) e eliminação de encrencas que geram dores de cabeça. E evitar, pelo menos na rua, roupas que nos tornam bem mais idosas do que já somos (Marcinha agora usa calças jeans).

E, o mais importante, conforme minha última resolução, é envelhecer sim, mas com a preocupação prioritária de continuar alegre, de exercer a magia de viver, de praticar a arte de gargalhar, de contornar os pequenos problemas. Uma senhora velha sim. Mas uma senhora muito feliz. Envelhecer com felicidade!

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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