Quem não deve não teme

Por Márcia Martins

Mais de 1,1 milhão de clientes em todo o Rio Grande do Sul foram seriamente afetados e ficaram sem energia elétrica por mais de um dia - alguns chegaram a padecer sete dias sem luz - depois do temporal que atingiu o Estado no dia 16 de janeiro deste ano. Os danos são irreparáveis. Principalmente para o pequeno comércio e aqueles que dependem da energia para cuidados com a saúde. E em função da tempestade que se abateu no território gaúcho na madrugada do dia 21 deste mês (última quinta-feira), mais de 1,2 milhão de pontos de luz ficaram apagados um período considerável.

E os deputados, desde o dia 16 de janeiro, tentam conseguir uma assinatura (*) para que seja possível instalar uma CPI, que vem sendo chamada de CPI da CEEE Equatorial, mas pretende também analisar a área de concessão da RGE (responsável por 65% da distribuição de energia no RGS). A ideia é, com a CPI, investigar as frequentes falhas das distribuidoras de energia elétrica no Estado. Muito mais do que - ao contrário do que possa parecer - avaliar se foi correta ou não a venda da CEEE, a CPI é necessária em respeito à população gaúcha, que não pode, a cada temporal, ser penalizada pela falta de luz.

Logo, não se trata de uma CPI política, a favor ou contra a privatização da CEEE efetuada pelo governador Eduardo Leite. É uma questão de transparência com o povo gaúcho que tem o direito, principalmente no caso da empresa que foi vendida, de saber qual o andamento dos investimentos prometidos na assinatura do contrato e o motivo de tanta demora na normalização dos serviços. É inaceitável que em algumas regiões, a energia - no caso do último temporal - tenha retornado somente no domingo à noite.

No caso da CEEE, agora Equatorial, penúltima no ranking de desempenho da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em 2023, tudo ficou pior. O atendimento, as soluções, a demora em resolver, as promessas equivocadas e os apagões inexplicáveis. Antes, quando era estatal, existia uma previsão de retorno da energia quando faltava luz. E ela era cumprida. Antes, quando tinha algum temporal, os telefones da CEEE não eram tirados do gancho depois de 12 horas sem a retomada da luz. Antes, os funcionários eram melhores treinados e tinham respostas.

Com o temporal do último dia 21, fiquei mais de 24 horas sem luz. Sem trauma, um banho frio. Sem morrer ficar sem acesso às notícias. Sem problema não ter como carregar a bateria do celular. Mas prejuízos superiores a R$ 150,00 com produtos estocados no freezer e que estragaram, não é possível. Até porque eram itens do rancho mensal de uma aposentada. Eu não jogo dinheiro no lixo.

Já abri um pedido de ressarcimento na CEEE, que ainda não foi avaliado pelo excesso de demanda. E se for o caso, irei recorrer à Aneel. O que irrita é a resposta do funcionário da CEEE na quinta-feira, por volta das 12h, na esquina da minha casa, dizendo que "se tudo der certo, a luz irá voltar um dia". Ou a atendente, quando liguei para o 0800, assegurar que estava mandando uma equipe emergencial. Ou a Clara, robô do whats da CEEE, dizer que estava ciente do problema. Mentira. Despreparo. Desrespeito. Descaso. O povo gaúcho merece respostas, sim!

(*) Para protocolar um pedido de CPI na Assembleia Legislativa é preciso a adesão de um terço dos deputados, ou seja, 19 assinaturas. Falta apenas uma assinatura.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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