Ao decorrer de suas existências, humanos acumulam muitas coisas, inclusive, outros humanos. Mas, ao contrário de uma caneca, de uma figurinha ou de um disco vintage, é impossível ser proprietário de outro humano. Você pode até agregar outras pessoas à sua caminhada, ter a sensação de que é dono dela e, ainda, que é impossível viver sozinho novamente... Mas nada altera o fato de que você está sozinho e tudo bem. 

Quando falo de acumular humanos, estou falando mais de acumular memórias e, mesmo essas, algumas vezes, são perdidas. Entender isso é assumir uma responsabilidade que pode ser assustadora: no fim das contas você precisa cuidar de você mesmo. Não estou dizendo que não precisamos dos outros, mas que existe uma diferença entre precisar e ser. Humanos estão sozinhos em seus sonhos, medos e alegrias. Embora, tenham a capacidade da empatia, nenhum humano consegue sentir o que o outro sente. Nenhum humano sabe de cor as dores e vivências do outro. As angústias e alegrias mais profundas são vivenciadas em solidão. 

Isso não impede o desejo de tentar compartilhar tudo isso com alguém. Aliás, viver é exatamente isso: o ato de tentar compartilhar sua verdade mais íntima com outras pessoas. É simplório o pensamento de que humanos se conectam porque não vivem sozinhos já que esse raciocínio dá a essa conexão um sentido de necessidade. Mas, é muito mais bonito pensar que toda conexão não é uma necessidade e sim uma escolha. 

Os humanos sobrevivem a dores dilacerantes sozinhos, muitas vezes. A cura verdadeira precisa de um esforço íntimo e solitário. Não quer dizer que outros humanos não possam ajudar no processo. Inclusive, devem. Mas, entender que seus sonhos são seus, que sua saúde mental é sua e que acreditar no seu valor precisa vir de dentro é a melhor maneira de viver. Quando confiamos na gente, estamos seguros o suficiente para confiar no outro e adentrar a estrada de tentar continuamente se ver refletido no olhar daquela pessoa.

Com Amor, Vida.