Chargista da Folha de São Paulo se pronuncia após polêmica com arte

Jean Galvão e jornal sofreram pressão do público por publicação de conteúdo sobre as enchentes no Rio Grande do Sul

Charge foi criticada nas redes sociais por suposto tom humorístico - Crédito: Reprodução

Na última semana, a Folha de São Paulo publicou uma charge do cartunista Jean Galvão que tratava sobre as famílias ilhadas por conta das enchentes no Rio Grande do Sul. No entanto, a arte causou revolta nas redes sociais e após a pressão do público, o artista pediu desculpas nesta segunda-feira, 6, por meio de uma publicação no Instagram. Além disso, a Associação do Ministério Público do Rio Grande do Sul (AMP/RS) escreveu uma carta para Sérgio Dávila, diretor de Redação do jornal, expressando indignação com o veículo.

A charge publicada pela Folha e de autoria de Jean traz uma família refugiada em cima do telhado da casa, com a água da enchente chegando perto aos seus pés. Enquanto mãe e pai têm um semblante de preocupação, o casal de filhos se entristece com a situação. O menino, então, começa a chorar e a menina diz ao irmão: "não chora, vai alagar ainda mais...". O diálogo, no entanto, foi entendido como um deboche e com tom de humor descabido ao momento vivido, pelos que criticam o trabalho.

Jean Galvão disse entender a indignação do público e que o conteúdo não teve o efeito pretendido. "Charge não se resume a piada, não é deboche, não é meme. A natureza primeira é provocar a reflexão. Para isso, na maioria das vezes, usamos humor, mas nem sempre é o caso." O cartunista então explica que a intenção era mostrar algo sério e triste, por meio das expressões dos pais e das crianças.

"Aqui dou voz à inocência da menina, que entende que cada gota a mais que cai do céu fará o nível da água subir. Até uma gota de lágrima." Jean ainda relata a tentativa de mostrar que, se esse choro pudesse ser medido, seria muito mais volumoso que toda a chuva que cai sobre o Estado, "tamanha a dor que estão passando". Por fim, o desenhista apela por doações para as vítimas da catástrofe, inclusive chamando atenção para o Pix SOS Rio Grande do Sul.

Repúdio 

Em carta de repúdio, a AMP/RS, entidade que congrega mais de mil promotores e procuradores de Justiça gaúchos, manifestou tristeza por meio de nota, afirmando que o Estado vive a maior calamidade pública de sua história. A publicação trata de destacar a situação de extrema emergência em 336 cidades, assim como enaltecer as instituições públicas e autoridades mobilizadas para socorrer e acolher as vítimas, e o suporte de voluntários de todo o Rio Grande do Sul. 

A carta destaca acima de tudo as vidas perdidas nesse momento, dizendo que o Estado está chorando por aqueles que não conseguiram ser salvos. "Por esses motivos, dentro dos limites da liberdade de expressão que tanto prezamos, manifestamos o nosso repúdio ao tom da charge publicada pela Folha de São Paulo." Por fim, a nota afirma que só existem dois sentimentos possíveis diante deste cenário: empatia e solidariedade, e, de acordo com a entidade, eles não foram representados na charge.

"Temos certeza de que a Folha de São Paulo compreende a extensão da imensa tragédia que estamos vivendo em nosso Estado e há de compreender, também, a nossa tristeza e indignação referente ao conteúdo publicado", finaliza a carta assinada por João Ricardo Santos Tavares, presidente da AMP/RS. 

Ao contatar a Folha de São Paulo para ouvir o lado do jornal sobre o caso, a reportagem de Coletiva.net não obteve retorno.

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