Cinco perguntas para Carina Furlanetto

Jornalista viaja o mundo de carro ao lado do companheiro João Paulo Mileski

Carina Furlanetto percorreu todos os estados do Brasil - Crédito: Arquivo pessoal

1 - Quem é você, de onde vem e o que faz?

Sou Carina Furlanetto, 36 anos, natural de Bento Gonçalves. Formei-me em Jornalismo, em 2009, pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e trabalhei em assessorias de imprensa e jornais impressos locais até 2018, quando pedi demissão para, ao lado do meu companheiro, João Paulo Mileski, também jornalista, realizar o sonho de conhecer toda a América do Sul e o Brasil de carro. Como escrever sempre fez parte da nossa rotina, pensamos em contar nossas descobertas em textos, e por isso criamos o projeto 'Crônicas na Bagagem'. Em 2019, saímos para essa empreitada com o carro que tínhamos na garagem (um Sandero 1.0, que virou também a nossa casa) e as nossas economias. Mas a pandemia nos forçou a voltar para casa antes de o objetivo ser concluído. No tempo em que nos vimos forçados a ficar parados, escrevemos um livro contando nossa volta por 10 países ('Crônicas na Bagagem: 421 dias na estrada - uma jornada de desprendimento pela América do Sul') e criamos alguns produtos físicos e virtuais para rentabilizar o projeto e viabilizar a continuidade da viagem. Então, em maio de 2021, caímos novamente na estrada, agora com a missão de percorrer todos os estados brasileiros.

2 - Por que escolheu o Jornalismo?

Acho que foi ele quem me escolheu. Sempre fui uma criança curiosa, que gostava de ler e escrever. Minhas brincadeiras preferidas, sem que soubesse, envolviam o Jornalismo: escrever revistinhas (pesquisando curiosidades em enciclopédias, já que internet não era uma realidade), gravar programas de rádio (com gravador de fita K7) e filmar telejornais (com filmadora VHS). Quando chegou a hora de escolher um curso no vestibular, pensei: se já fazia isso como diversão, por que não fazer ganhando dinheiro? 

3 - Em abril, junto com o João Paulo Mileski, você completou o objetivo de conhecer todos os estados do Brasil. Como foi essa experiência e o que ela agrega de bagagem para a profissão de jornalista?

Embora fora da imprensa tradicional, de certa forma nunca deixamos de fazer Jornalismo ao compartilharmos nossa rotina nas redes sociais. É impossível se despir do olhar de jornalista ao ver o mundo e ter contato com universos distantes do nosso. Em alguns momentos produzimos um Jornalismo mais informativo (como quando estivemos em Serra Pelada ou vimos a triste realidade de queimadas às margens da Rodovia Transamazônica), em outros mais de entretenimento (contando os percalços da vida diária na estrada).

Mas, mais do que agregar algum conhecimento ou habilidade para a carreira, toda essa saga nos fez repensar muito a profissão como um todo. Uma das perguntas que mais nos fazem é se não temos medo de dormir dentro do carro e rodar por regiões mais remotas, já que 'o Brasil é um país perigoso'. Mas quem faz essa afirmação, a faz depois de ter sentido na pele algum perigo ou são apenas induções com base nas manchetes negativas que se tem acesso na TV, nos jornais e nas redes sociais? Todo viajante é unânime em afirmar: o mundo é um lugar bem menos hostil e os bons são maioria. É claro que a realidade de grandes metrópoles inspira mais cuidados do que as de cidades pequenas, mas, de modo geral, sempre nos sentimos seguros. 

Quando comentamos essas percepções, nos questionam: então os jornais mentem? Não! Tudo é recorte. O erro está em achar que esse recorte que vemos corresponde ao todo. Para cada pessoa assaltada ao passar em determinada rua, quantas outras passaram por ali sem nenhum problema? Mas manchetes positivas não dão tanta audiência, não é? E embora isso seja reflexo dos hábitos de quem consome a informação, não podemos deixar de questionar o nosso papel. Até que ponto não estamos apenas alimentando um estado permanente de tensão que também adoece as pessoas? Quais os limites da informação? Como o Jornalismo pode contribuir para um mundo melhor?

4 - Quais são os próximos objetivos dessa viagem?

Já estamos de volta ao Rio Grande do Sul e pretendemos, nas próximas semanas, percorrer os quatro cantos do estado para conhecer as diferentes faces do povo gaúcho. Quando estacionarmos em casa, em Bento Gonçalves, terminam apenas os deslocamentos, mas não a viagem em si, já que queremos escrever um novo livro para contar sobre os diferentes Brasis que conhecemos.

5 - Quais são os seus planos para daqui a cinco anos?

Na estrada aprendemos a viver e planejar um dia de cada vez. Não tenho a mínima ideia de em que cidade estarei amanhã ou onde irei dormir, então não é precipitado querer saber o que farei nos próximos anos? Pode ser que engate outras viagens ou que volte a fincar raízes; que volte à rotina do Jornalismo ou até que troque de profissão (pouco antes do início da expedição comecei a cursar Psicologia e interrompi no quarto semestre). Tudo pode acontecer, até mesmo um cenário que hoje sou incapaz de imaginar. Mas, independentemente de qual caminho escolher, o hábito de registrar o que vejo e questionar o mundo ao meu redor deve seguir existindo - uma vez jornalista? sempre jornalista.

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