Cinco perguntas para João Paulo Mileski

Jornalista cruzou o Brasil a bordo de um Sandero

João Paulo Mileski é natural de Bento Gonçalves - Crédito: Arquivo pessoal

1 - Quem é você, de onde vem e o que faz?

Eu me chamo João Paulo Mileski e sou de Bento Gonçalves. No momento, estou no final de uma expedição de carro, que já dura quase dois anos e meio por todos os estados do Brasil. 

2 - Por que escolheu o Jornalismo?

Entrei na faculdade em 2006, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). No mesmo ano, tive a primeira oportunidade para trabalhar como repórter, em um jornal impresso de Bento Gonçalves. Não cheguei a concluir o curso (a distância de Bento era exaustiva e a grana era curta), mas o Jornalismo, desde então, nunca mais saiu de mim. Trabalhei em outros jornais impressos e assessorias de imprensa. 

Hoje, viajando pelo Brasil, sigo fazendo Jornalismo, no formato de crônicas, sobre todos os 'Brasis' que cabem neste País. Acredito que esse é o momento em que melhor me encontrei na profissão. Não pela liberdade que temos ao produzir um Jornalismo independente, mas porque nunca vivemos tanto a pauta como agora. Quando falamos da Amazônia, por exemplo, estamos dormindo na floresta, em redes amarradas a árvores gigantes ouvindo pessoas que nasceram e cresceram ali. Quando falamos das queimadas, estamos vendo as cinzas caírem no para-brisas do carro e sentindo o ar pesado nas cidades que mais registram focos. Quando falamos da menor cidade do Brasil em população, estamos dormindo dentro do nosso carro, na praça deste município, escutando o que os moradores ouvem pelo rádio. 

Eu me recordo, quando era criança, de ver reportagens na TV e nos jornais sobre lugares distantes, e não me contentava em estar ali, apenas assistindo ou lendo sobre o que o repórter contava. Eu queria estar presente, vendo com os meus próprios olhos, e foi por isso que escolhi o Jornalismo. Foi por isso, também, que escolhemos a estrada para viver. 

3 - Como foi a experiência de visitar todos os estados do Brasil?

A chegada em Brasília, em 9 de abril, 707 dias após partirmos de Bento Gonçalves, foi um dos momentos mais especiais da minha vida, porque coroou uma jornada cheia de aprendizados, mas bastante extenuante em muitos momentos. Só o que tínhamos era um Sandero 1.0 e recursos apenas para comida e combustível. Ou seja, precisávamos dormir no próprio carro, sem banheiro, tampouco chuveiro. Esses foram os maiores desafios. Mas tudo isso nos forçou a olhar melhor para dentro, como se descobríssemos uma parte desconhecida de nós mesmos. Se há poucos anos me falassem que eu conheceria todos os estados do Brasil morando em um carro popular, possivelmente acharia aquilo uma piada. A gente só descobre do que é capaz quando tenta. E acho que somos sempre muito mais capazes do que pensamos.

4 - Você e a Carina Furlanetto anunciaram que escreveriam um livro sobre esse desafio. Como está esse projeto?

Escrevemos diários todos os dias e desse material pretendemos extrair o livro. São mais de 850 textos escritos até o momento, apenas metade deles publicados nas redes sociais. Pretendemos que a obra seja um mergulho por um país profundo, desconhecido, onde muitas vezes nos sentimos estrangeiros. Saímos para conhecer o Brasil e acabamos descobrindo 'muitos Brasis'. É sobre isso que o livro contará. 

5 - Quais são os seus planos para daqui a cinco anos?

Olha, no momento em que respondo essa pergunta, não sei onde passarei essa noite. Há quase dois anos e meio nossas vidas têm sido assim. Não por uma escolha consciente, mas forçados pelas circunstâncias da estrada, aprendemos a viver um dia de cada vez. Sabemos que em três ou quatro semanas essa longa jornada chegará ao fim. Quero dar um abraço forte nos meus pais, finalmente conhecer o nosso primeiro afilhado e depois começar a contar essa história em livro. Cinco anos parece distante demais, mas espero não perder nunca essa vontade de espiar por cima do muro e descobrir um mundo novo para ver.

Comentários