Eugênio Bortolon deixa o Correio do Povo após quase 30 anos

Jornalista foi comunicado de seu desligamento semana passada em meio à série de reformulações do jornal

Profissional foi desligado por conta de reformulações - Créditos: Arquivo pessoal

Entre as mudanças na redação anunciadas pelo Correio do Povo no início deste ano, uma delas foi a saída do editor-chefe Eugênio Bortolon. O profissional, que completaria 30 anos no jornal em 2022, conversou com o Coletiva.net sobre o seu desligamento. Ele, que entrou na empresa em primeiro de agosto de 1992, passou pelos cargos de pauteiro, editor da central do interior e de economia, até chegar ao posto do qual se despediu.

Segundo Eugênio, ele foi informado do seu desligamento na tarde de segunda-feira, 4, em uma reunião com o diretor-presidente da empresa, Sidney Costa, e o diretor de redação, Telmo Flor. Para o jornalista, o sentimento maior é o de espanto, visto que não havia nada, até então, que indicasse a sua demissão. "Fui desligado com 30 anos de trabalho, dispensado sumariamente, mas fiquei realmente surpreso. Nada além disso", destacou ao portal.

Confira abaixo a entrevista completa:

1 - Como tu foste informado do desligamento do Correio do Povo?

Eu não tenho a pretensão de ser intocável, essa questão de contratação e demissão faz parte das relações de trabalho de qualquer pessoa. A minha demissão ocorreu da seguinte forma: Segunda-feira, 4, pela manhã, recebi uma ligação do diretor de redação, Telmo Flor, informando sobre uma reunião às 14h para definir alguns planos com o presidente. Estávamos nós três, o Sidney fez algumas considerações sobre o meu trabalho, elogios, me disse que o Correio do Povo estava passando por um processo de reformulação e que precisava me dispensar. 

Fiquei meio surpreso, pois até então eu tive uma participação bem considerável no jornal, tinha um bom relacionamento com todo mundo, inclusive com o Telmo. Na hora eu respondi ao presidente que tinha muita lenha para queimar ainda como jornalista, que não estou defasado e poderia contribuir muito para o engrandecimento do jornal. Neste momento, ele também alegou questões econômicas, embora todo mundo saiba que os meios de comunicação não pagam muito bem.

O diretor de redação disse, na minha frente, que não sabia de nada, que era uma decisão que o presidente também o estava comunicando, o que se comprovou, posteriormente, que não era verdade. Eu acredito que ele sabia de tudo desde a semana anterior, pois estava meio estranho inclusive na comemoração de final de ano. Ele não teve nenhuma consideração pelos 30 anos de convivência, disse que não sabia de nada. Fui desligado com 30 anos de trabalho, dispensado sumariamente, mas fiquei realmente surpreso. Nada além disso.

2 - Qual o sentimento de deixar o jornal?

O sentimento é um pouco de tristeza, de decepção. Ser dispensado não é muito agradável para qualquer trabalhador de qualquer ramo. É difícil assimilar o golpe e entender a sistemática adotada. No caso o Grupo Record, que é dono do Correio do Povo, agiu como eles agem com qualquer outro trabalhador: Não interessava mais, não queriam mais meu trabalho e me dispensaram.

Meu sentimento é esse principalmente com a forma como o Telmo sabia de tudo e não quis falar. Ele poderia ter falado, afinal a gente teve uma convivência agradável durante tanto tempo e ele sempre teve alguma consideração por mim. Me considerava, segundo ele, um braço direito. É muito doloroso. Isso é o que mais me entristeceu.

Mas estou de cabeça erguida. Eu acho que os dissabores que ocorrem na vida são parte da nossa presença aqui na Terra. Uma hora a gente está em uma situação extraordinária, outra hora não. Vamos em frente!

3 - Tu esteve no Correio do Povo por quase 30 anos. Como avalias a tua trajetória?

Eu avalio positivamente. Fui convidado em 1992, pelo Hiltor Mombach, colunista de esportes, que me indicou ao José Barrionuevo, na época diretor de redação. Fui efetivado primeiramente como pauteiro, depois como editor da central do interior, editor de economia, onde fiquei uma longa temporada e, posteriormente, o Telmo me convidou para ser capista e, enfim, editor-chefe. Foram anos positivos, fiz muitas amizades, tentei agir com ética, dignidade, humildade, respeitando todas as opiniões, agindo com calma e tranquilidade. A prova disso foi que eu recebi muitas palavras elogiosas de meus colegas pela minha participação.

Claro que a gente nunca agrada 100%, sempre tem coisas que alguma ou outra pessoa não gosta, mas isso faz parte do jogo. Cresci muito, evolui, aprendi como editor, sempre com a ajuda dos companheiros de redação, dos colegas que foram muitos sinceros e honestos comigo e agiram com integridade. Estou satisfeito com o trabalho que exerci lá durante esse período.

4 - Quais os teus planos daqui para frente?

Ainda não tenho muitos planos definidos. Embora alguns colegas de outras empresas de Comunicação tenham falado comigo, não há nada muito concreto ainda. Eu tenho 50 anos de jornalismo, comecei em primeiro de junho de 1971, estou firme até hoje e pretendo continuar o quanto for possível, desde que tenha saúde boa e bom senso no que escrevo, digo e edito. Se for possível, vamos até nossas condições permitirem.

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