Wesley Vaz propõe 'profissional adolescente' e Estado inteligente no 'GovTech' 2025
Secretário de Controle Externo de Governança, Inovação e Transformação Digital do TCU apresentou provocações filosóficas e análises técnicas para refletir sobre o futuro


Em uma palestra provocadora no encerramento da manhã do primeiro dia do GovTech 2025, Wesley Vaz, secretário de Controle Externo de Governança, Inovação e Transformação Digital do Tribunal de Contas da União (TCU). Ele ofereceu ao público uma mistura de provocações filosóficas, metáforas culturais e análises técnicas para refletir sobre o futuro do Estado brasileiro diante da inteligência artificial (IA).
Entre analogias com os pintores Michelangelo e Leonardo da Vinci, Wesley falou sobre a tensão entre a profundidade do especialista e a versatilidade do generalista. "Michelangelo dizia que só se pode ser bom em uma coisa. Leonardo achava que era preciso saber um pouco de tudo. E os dois eram gênios", afirmou, ao ilustrar a necessidade de valorizarmos diferentes formas de abordagem para inovação pública.
Mas a metáfora central da sua fala foi outra: a do profissional adolescente. "O adolescente vive o problema. Para amadurecer, precisa passar por ele", explicou, dizendo que a inovação exige essa postura. "A gente precisa ser como um adolescente: saber que tem muito a aprender, que vai errar, mas que precisa viver o processo. É assim que se amadurece."
Agentes de IA e o futuro do Estado
Wesley abordou o avanço dos agentes autônomos de IA, capazes de executar tarefas complexas sem supervisão humana. "É possível, tecnicamente, que um agente de IA realize contratações públicas do início ao fim? Sim. Vai demorar muito para isso acontecer? Provavelmente não." Para ele, o desafio não é mais técnico, e sim cultural, institucional e ético.
E mais: segundo ele, a chegada desses agentes exige que o setor público pense além da eficiência. "Estamos diante de um momento que exige pensar grande. Não só em aumentar em 30% a produtividade. Mas em redesenhar completamente a forma como o Estado se relaciona com os cidadãos."
Wesley destacou a importância da personalização dos serviços públicos - uma resposta às demandas de uma sociedade cada vez mais diversa e exigente. "Cada cidadão é único. E a confiança no Estado nasce quando o serviço público é capaz de reconhecer isso."
Ele também alertou para a necessidade de líderes públicos entenderem que parte fundamental de seu trabalho será produzir equilíbrios estratégicos, algo que, segundo ele, "não é fácil e não é só técnico". Isso inclui saber lidar com dados imperfeitos, ambientes incertos e expectativas da sociedade que já está mais disposta a confiar em algoritmos do que em políticos.
Transformação digital
O secretário ainda compartilhou dados que mostram a aceleração exponencial da codificação por IA e o impacto disso na transformação digital do setor público. "Imagine um futuro próximo em que o cidadão não precise mais buscar o Estado. O Estado vai até ele, no momento certo, da forma certa, no canal certo."
Para ilustrar a ideia, Wesley usou um exemplo pessoal - uma foto estilizada de sua família - utilizada em diferentes desenhos gerados por IA para falar sobre representação, reconhecimento e como cada um se vê e se sente diante da tecnologia. "O problema não é a IA. O problema é se a gente não se sentir reconhecido por ela."
Ao encerrar sua fala, Wesley fez um chamado à ousadia: "Talvez não seja mais tempo de pensar em pequenas melhorias. É tempo de redesenhar tudo. E, para isso, precisamos ser adolescentes profissionais: curiosos, corajosos e prontos para crescer."
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