"Foram momentos de tensão e terror", diz jornalista hostilizado em Rio Grande

Eduardo Silva, repórter freelancer do SBT RS, foi agredido verbalmente por funcionário público

Eduardo Silva prestando serviço para o SBT RS - Divulgação/Arquivo pessoal

Na última semana, o jornalista Eduardo Silva, que atua como freelancer para o SBT RS, na região Sul do Estado, foi hostilizado por um funcionário público federal, em Rio Grande, enquanto exercia a profissão. O repórter, que estava no bairro Getúlio Vargas, conhecido como BGV, onde faria imagens na rua onde ocorreu um crime, presenciou um acidente. O condutor de um dos veículos, de acordo com o profissional, interpretou a sua presença ali de maneira equivocada e começou a lhe agredir verbalmente. "Foram momentos de tensão e terror", contou Silva ao Coletiva.net.

O jornalista, que precisava captar imagens do bairro em que ocorreu um linchamento e homicídio, foi informado que a Brigada Militar estava nas proximidades, o que fez com que ele se dirigisse até lá, prestando serviço para o SBT RS. "Eu só queria mostrar o cenário onde aconteceu o crime, com a BM no bairro. A cena do acidente não era de meu interesse. No entanto, o condutor de um dos carros entendeu errado", explicou Silva ao portal. 

Ao começar a ser agredido verbalmente pelo servidor público e sua esposa, o jornalista pediu ajuda aos policiais que estavam no local, mas a solicitação não foi atendida e os policiais teriam ido embora, deixando-o sozinho com o homem visivelmente alterado. O profissional registrou imagens da situação, as quais foram publicadas no jornal Em Questão.

O servidor público da Fundação Federal do Rio Grande tentou impedir que Silva registrasse as imagens e o acusou de estar no local a "mando de alguém", exigindo crachá, mesmo com o jornalista mostrando a canopla do microfone do SBT. O repórter lembrou, então, que os dois estavam em via pública, mas foi ofendido diversas vezes. Nos vídeos, após Silva alegar que estava trabalhando e sendo agredido verbalmente, é possível ouvir o homem dizendo: "Não estou te agredindo verbalmente p... nenhuma. Tu é homem ou é bicha? O que tu é? (sic)". Ele ainda continua: "Vai te f.., rapaz. Não quero saber se tu está trabalhando (sic)".

Assim que a Brigada Militar foi embora, Silva ficou com medo de dar as costas ao casal, para entrar em seu carro e sair dali, temendo agressões. O repórter somente conseguiu deixar o local após ser escoltado até o seu veículo por um mecânico que havia chegado à cena do acidente.

Após finalizar a reportagem, o jornalista afirmou ter contatado o Comando da Brigada Militar, para saber por qual motivo a equipe havia deixado o local sem prestar assistência. O Major Castro, responsável interino, afirmou que será aberta uma sindicância interna para apurar o ocorrido, mesmo que o repórter não tenha registrado um Boletim de Ocorrência. "Não quis formalizar por ser o único repórter do SBT na região Sul do Estado. Não quero um batalhão inteiro atrás de mim", contou. 

Ao levar o caso para o gerente de Jornalismo do SBT RS, Danilo Teixeira, o repórter disse que não queria uma nota de repúdio por parte da emissora, mas, sim, uma aproximação com a Brigada Militar da região na qual atua. O jornalista também decidiu acionar a Justiça contra o homem que aparece nas imagens lhe agredindo verbalmente, em busca de uma compensação pelos danos morais sofridos.

Ao Coletiva.net, o jornalista ainda relacionou o atual tratamento que os profissionais da imprensa têm recebido com a falta de valorização à categoria: "Tiraram o nosso diploma e deu nisso. Qualquer um vai lá com um celular e acha que é jornalista, fazendo um trabalho que não condiz com o realizado pelos profissionais formados". Com mais de 15 anos de atuação, Silva enfatizou: "Nunca tinha passado por uma situação tão difícil quanto essa".

Manifestações

O presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Marcelo Träsel, lamentou as tentativas de intimidação e se solidarizou com o jornalista Eduardo Silva. "Não custa lembrar que o uso de crachás não é obrigatório para o exercício da profissão e que recomendamos que repórteres registrem as ofensas e ameaças junto às autoridades", disse Träsel.

Já o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) emitiu o seguinte posicionamento: "O Sindjors lamenta profundamente que cenas como esta ainda aconteçam, aqui no Estado, com o agravante da inépcia da polícia, que preferiu não tomar conhecimento das agressões verbais e intimidação do funcionário público ao repórter. O artigo 220, da Constituição Federal de 1988, garante que a 'manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição'. Por isso, o sindicato acredita que o papel da Brigada Militar, naquele momento, deveria ser o de proteger o profissional e garantir-lhe o exercício da profissão. O Sindjors se coloca à disposição do repórter Eduardo Silva e repudia as atitudes do funcionário público, da mulher que estava com ele e dos policiais da viatura da BM, que estavam no local".

 

Comentários