Entidades lamentam o fim da rádio Cultura de Bagé

Coletiva.net conversou com o Sindjors e Sindicato dos Radialistas do RS sobre o encerramento da emissora que operava havia mais de 70 anos

Emissora encerrou as atividades em 17 de maio - Reprodução/Facebook

Inaugurada em 1946, há exatamente uma semana a rádio Cultura de Bagé saiu do ar. Problemas financeiros e dificuldades para regularizar a concessão foram as justificativas apresentadas por Odilo Dal Molin, proprietário do veículo há 20 anos, ao colunista de GZH Leandro Staudt. A reportagem de Coletiva.net não conseguiu contato com o empresário, mas conversou com os presidentes do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors), Laura Santos Rocha, e do Sindicato dos Radialistas do Rio Grande do Sul, Antonio Ricardo Malheiros. Ambos lamentaram o encerramento das atividades de uma emissora tão antiga.

Ao prestar solidariedade e apoio aos colegas jornalistas, Laura destacou que qualquer empresa de Comunicação que deixe de existir "é uma lástima para a categoria porque são postos de trabalho que diminuem". "Ainda mais quando falamos de um veículo tradicional do interior do Estado, como a rádio Cultura, que com seus 77 anos de existência servia como inspiração e companhia para moradores da região", completou. 

Com relação aos profissionais que perderam o emprego, ela afirma que, devido à Reforma Trabalhista (lei 13.467/2017), que desobriga empresas de fazer a homologação junto ao Sindicato ou ao Ministério do Trabalho, ficou mais difícil acompanhar todas as demissões. "Mesmo assim, oferecemos a estrutura do departamento jurídico do Sindjors para qualquer jornalista que entre em contato conosco, independentemente de ser sindicalizado ou não", explicou.

Malheiros também lamentou: "Completamente triste. Encerrar a Comunicação é deixar a comunidade desinformada". O presidente informou que a empresa tinha cinco radialistas com carteira assinada, que tiveram a homologação acertada e receberam as verbas rescisórias, "sem que fossem lesados". Uma ex-apresentadora da rádio também confirmou à reportagem do portal que as demissões ocorreram legalmente. 

Possível retorno

Contudo, o líder sindical acredita que seja possível um retorno da emissora ao ar. Sem entrar em detalhes, o presidente informou que sabe que há dois grupos conversando com Dal Molin sobre a possibilidade. Ainda assim, Malheiro apontou fatores que podem ter contribuído para o encerramento, como o endividamento. De acordo com ele, quando o empresário comprou a Cultura, ela já possuía dívidas com o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), que cobra direitos autorais de músicas.

Além disso, na visão dele, outro ponto que prejudica o funcionamento das rádios comerciais é a falta de fiscalização e a concorrência com rádios comunitárias e webrádios, que, muitas vezes, empregam trabalhadores sem registro profissional. "Tem que, necessariamente, haver uma regulamentação", defendeu Malheiros, que ainda garantiu que o assunto está na pauta do Sindicato.

Por sua vez, Laura destacou a taxação de grandes plataformas digitais e a criação do Fundo Nacional de Apoio e Fomento ao Jornalismo (Funajor) "como medidas efetivas para garantir a sustentabilidade do ecossistema de produção de notícias". Ela também acredita que a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 206/2012, que restabelece a obrigatoriedade do diploma de nível superior de Jornalismo para o exercício profissional no Brasil, deixará "veículos com credibilidade e força para exercer sua atividade e resistir no mercado atual". 

A reportagem também entrou em contato com o Sindicato das Empresas de Rádio e TV do RS (SindiRádio), que preferiu não se manifestar a respeito, bem como com a Associação Riograndense de Imprensa (ARI), que não retornou até a publicação da matéria. O portal ainda buscou o antigo diretor e comunicador da rádio Cultura, Geraldo Saliba, que não respondeu às investidas.

Mais de sete décadas no ar

Fundada em 4 de julho de 1946 por Atahualpa Dias, a rádio Cultura de Bagé foi chamada de 'A Pioneira' por ter sido a primeira emissora da cidade. No início, o radioteatro foi o carro-chefe da programação, enquanto na música gaúcha o programa 'Céu e Chão da Querência' se destacou. Como integrante da Rede Gaúcha Sat, atualmente, além da grade local, a emissora retransmitia programas da rádio Gaúcha.

 

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