O Florense encerra operação impressa nesta quinta-feira

Jornal de Flores da Cunha mantém versão digital e passa a apostar também em conteúdos em vídeos

Diretor e fundador do jornal, Carlos Raimundo Paviani conversou com a reportagem - Crédito: Arquivo pessoal

Nesta quinta-feira, 21, circulará pelas bancas de Flores da Cunha a última edição impressa de O Florense, tradicional jornal local, lançado há 37 anos no município serrano. No entanto, a versão digital da publicação será mantida e passará a apostar também em conteúdos em vídeos, além de preparar um novo site que deverá ser lançado em janeiro. 

Conforme Carlos Raimundo Paviani, fundador e diretor de O Florense, em conversa com a reportagem de Coletiva.net, contou que a decisão por encerrar a produção imprensa se deu por causa de um problema característico dos tempos atuais: a diminuição de receitas no meio. "Nesses últimos anos, busquei alguém que pudesse continuar o jornal ou adquirir o título, mas não encontrei. É muito difícil atualmente. Nós disputamos verbas com o Google, com a Meta, ou seja, qualquer comércio, por menor que seja, que pudesse investir conosco, prefere as grandes plataformas", explicou.

Além disso, para ele, causas externas também influenciaram para esse desfecho, como a diminuição da confiabilidade no Jornalismo, inflada por decisões governamentais nos últimos anos. "Isso pode até não afetar diretamente o nosso trabalho, mas faz com que toda a profissão sofra com essas questões", contextualizou.

Adaptando-se a uma nova realidade, O Florense passou de uma tiragem semanal, em 2022, para quinzenal neste ano, com o intuito de diminuir custos, o que fez com que as contas se equilibrassem, mas não a ponto de conseguir reverter o encerramento do impresso. "Trabalhamos bastante, mas não obtivemos resultados positivos", contou. 

A decisão, que foi "bastante difícil" para Carlos e o fez relutar muitas vezes, também foi recebida com tristeza pela comunidade local. "Houve movimentos que partiram do Conselho Municipal de Cultura, da Associação dos Produtores de Arte e Cultura e, inclusive, de alguns vereadores, mas efetivamente, a solução passa por ter recursos", relatou. 

Os recursos também são necessários para o pagamento de pessoal já que, segundo o diretor, todos os jornalistas eram pagos corretamente, tomando como base o piso da categoria e "dentro da legislação", com horários adequados e horas extras. "A nossa opção foi sempre fazer a coisa correta, então não dando para seguir assim, melhor interromper. Mas, é um sentimento muito grande de dor. O jornal é quase como um filho para mim", destacou o jornalista,  que dedicou 37 anos dos seus 62 para a atividade. 

Trajetória

Com uma operação de quase quatro décadas, O Florense acumula história. Nascido na época "em que tudo era mecânico", logo depois, em 1986, a publicação cresceu com o chamado "ano dos milagres" em meio ao Plano Cruzado, que fez o jornal crescer. "Tudo dava certo, preços congelados. Estava uma maravilha, mas não durou muito tempo, infelizmente", recordou.

Mas, o jornal não era o único produto da empresa, que já havia lançado publicações ligadas aos setor das vinícolas e o extinto jornal A Vindima, que, além de da vitivinicultura destacava a agricultura familiar. Também, há 15 anos é editado o Perfil Socioeconômico de Flores da Cunha, publicação que deve ser mantida e faz parte da Editora Novo Ciclo, braço de O Florense, que também produz livros e lançamentos de conteúdos especiais. 

Tendo a forte ligação com a comunidade como um elemento central de atuação, O Florense também sempre esteve à frente do oferecimento de eventos culturais para a população. O jornal também é responsável pela criação do Toni Sbrontolon, personagem reclamão, que se comunica em Talian, dialeto de imigrantes italianos que chegaram ao Brasil. 

Futuro

Adaptação é a palavra-chave para esse novo momento de O Florense, conforme Carlos. O portal, que está no ar há mais de uma década, deverá ser repaginado, com uma nova versão sendo lançada em 2024, com o objetivo de transformá-lo em "algo mais dinâmico". O intuito, também, é poder alcançar outras faixas-etárias que não consumiam o meio impresso. 

Outra mudança será no quadro de funcionários, que passará por alterações para se adaptar à nova realidade. Além disso, faz parte do planejamento a manutenção dos colunistas já existentes na publicação. Porém, um movimento considerado muito importante está no investimento de publicações em vídeo, com a produção de notícias no formato. 

Além disso, mais uma aposta está nos programas transmitidos pelo canal de  YouTube, em parceria com produtores locais: o 'Parla Talian', às quintas-feiras, atração de entrevistas totalmente veiculado no dialeto e o 'Política em Pautas', nas terças-feiras. "Queremos fazer veiculações em todos os dias da semana, com diferentes temas, com a segunda-feira reservada para esportes, na terça política, na quarta e economia e negócios, na quinta o 'Parla' e na sexta falaremos sobre arte e cultura", explicou. 

Para isso, outros três programas ainda serão anunciados para preencher a grade do canal, que tem as atrações gravadas em um pequeno estúdio de propriedade de O Florense. Carlos ainda concluiu informando que um plano comercial será lançado em janeiro para buscar recursos para os novos produtos e a manutenção dos atuais. 

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