João Batista Melo: Homem de sentido

Diretor de Novos Negócios da Paim, ele se descobriu na Comunicação após se aventurar no universo das maquetes e dos livros Vade Mecum

João Batista Melo | Crédito: Cinthia Dias

Por Cinthia Dias

Às vésperas de concluir os estudos do secundário, hoje Ensino Médio, no Colégio Marista Rosário, em Porto Alegre, e de, consequentemente, prestar vestibular, o publicitário João Batista Melo escolheu, prematuramente, a graduação em Direito, na PUC. Ele afirma que a tomada de decisão pode ter sido influenciada pelo exercício profissional de seu avô materno, Alcebíades Cabral, em Erechim, e por sua identificação com questões mais humanitárias, além do gosto por filmes sobre justiça. Após um curto período frequentando o curso, identificou que teria um grande volume de bibliografia para ler, o que, para ele, seria uma dificuldade.

"Anos mais tarde, fui diagnosticado com déficit de atenção, mas, na época da faculdade, não sabia. Apenas detectei que tinha problemas de concentração", acrescenta. Em paralelo ao Direito, estudou Arquitetura e Urbanismo, na Ufrgs, sob a justificativa de que gostava de desenhar letras e formatos geométricos. O torcedor assíduo dos jogos do Internacional recorda que, em algumas oportunidades, saía mais cedo das disciplinas na universidade federal para acompanhar as aulas na PUC. A maratona, conforme avalia, não era nem um pouco produtiva.

Prestes a se tornar arquiteto, começou a refletir sobre seu futuro profissional, porque, até então, estava vivendo a faculdade, as viagens e a convivência com os colegas. Nesse momento, já estagiava em um escritório do setor, mas os processos lentos estavam lhe desmotivando a seguir na carreira. Tempos mais tarde, durante um evento de Arquitetura em Buenos Aires, na Argentina, tomou conhecimento de uma vaga para arquiteto na MA/Frank Mayer, agência de Design e Comunicação, ligada à, hoje extinta, DCS, para trabalhar com projetos de ponto de venda e displays. "Pelo acaso, comecei a ter contato com esse mundo", fala, referindo-se ao movimento que o levou para a Publicidade e Propaganda.

O que realmente importa

Natural de Porto Alegre, o diretor de Novos Negócios e de Marketing da Paim - desde 2012 - lembra que teve uma infância sem muitos recursos financeiros em uma casa no bairro Partenon, na região da Intercap, ao lado da mãe, Carmen, e da irmã, Leonor. Aos sete anos, foram todos morar com seus avós maternos, Alcebíades e Maria Leonor, que deixaram o interior do Estado para residir na Capital. Entre as memórias que carrega de quando era criança, estão os almoços de domingo em família e as brincadeiras inspiradas no programa 'Emergência', sobre bombeiros, e de mágica, apresentado pelo Tio Tony. "Tinha uma loja na avenida Borges de Medeiros, perto do viaduto da Duque de Caxias. Adorava aquele lugar."

Na adolescência, confessa que tentou tocar violão, mas não tinha talento e desistiu. A falta de habilidade com instrumentos não afetou seu interesse pela música, tornando-o uma pessoa eclética, com gosto que vai do pop às clássicas. Revela que suas canções preferidas são aquelas que emocionam e lamenta não conseguir ir a muitos shows, como o da banda britânica Coldplay, em novembro do ano passado, em Porto Alegre.

De sua criação, conta que não recebeu muitos ensinamentos sobre disciplina e limites, mas que Carmen o ensinou valores "mais profundos e importantes", como respeito à diversidade e intolerância ao preconceito, e garante que a mãe, com 86 anos, é seu exemplo de amor e empatia. Ainda que não morem sob o mesmo teto, o publicitário frequentemente está por perto e a leva ao Estádio Beira-Rio para assistirem às partidas do time do coração.

Além do querido na Propaganda

É casado com a arquiteta Gabriela Gervini, proprietária do escritório BWB Arquitetura, desde 2005. A dupla se conheceu na Ufrgs, onde foram colegas de curso. A amizade só se transformou em namoro devido à sua insistência, como brinca João. Da relação, nasceu Joana, em 2010. "Ela é muito especial e cheia de personalidade. Uma menina incrível", diz, referindo-se à herdeira, cheio de orgulho. Fora das rotinas profissionais e escolares, o trio gosta de viajar junto, tanto para Canela, na Serra gaúcha, quanto para o Litoral. 

Ainda que sua esposa prefira ficar em casa, ele e a filha adoram sair para tomar café, almoçar e jantar. "Joana é mais da rua como eu", observa, explicando que também gosta de cozinhar, principalmente churrasco. Entre os pratos favoritos, também está a receita de strogonoff que aprendeu a fazer com uma tia.

Esportista desde pequeno, rememora que praticou basquete durante toda a infância. Atualmente, corre e joga tênis de três a quatro vezes na semana na Associação Leopoldina Juvenil, onde é diretor de Comunicação. Apesar de ser um admirador de esportes, confessa que detesta fazer musculação, uma prática que exerce hoje por ser um "mal necessário". Ainda, pretende retornar às quadras de futebol, fazer meditação e, quem sabe, incluir na rotina a yoga.

Pelo amor e pela dor

Dentro da MA/Frank Mayer descobriu seu interesse pelo comportamento do consumidor, o que o levou a fazer um MBA sobre o assunto na ESPM-Sul. Com a formação, passou a entender um pouco mais a respeito de Marketing, o peso das marcas e o que elas representam para as pessoas. A partir desse entendimento, não queria mais ser designer e começou a atuar na área de Produção, onde passava mais tempo dentro da fábrica em contato com as matérias-primas dos produtos. Pelo perfil inquieto e por não conseguir ficar parado em frente ao computador, acabou passando por várias funções dentro da agência, na qual integrou o time de colaboradores entre 1997 e 2003.

Mário Paravisi, então diretor de Atendimento da MA, convidou João para liderar a unidade de Novos Negócios em São Paulo, fazendo com que se mudasse para a capital paulista. "Uma experiência muito rica e dolorida em alguns momentos", comenta, lembrando que a avó Leonor faleceu enquanto estava longe do Rio Grande do Sul. Lá, também atuou dentro da JWT, multinacional vinculada à DCS. Neste trabalho, reconhece que tinha grandes expectativas de que fosse um espaço vibrante, mas era muito silencioso - o que o fez retornar para a cidade natal.

E foi na volta para casa, em 2003, que conheceu Marcus Paim, com quem trabalhou como consultor em branding na Brandcom. Dessa época, destaca o projeto de reposicionamento do Nacional, do qual se orgulha muito de ter participado. Pouco tempo depois, Cesar Paim o chamou para liderar uma unidade de Design na Paim, "que nunca chegou a ter um nome por causa do nosso perfeccionismo". Ainda que considerasse a rotina de gestor chata, ficou fascinado com a primeira experiência do gênero. Dois anos mais tarde, a unidade teve suas operações encerradas devido à saída da conta das Lojas Renner após 13 anos de parceria com a Paim. "Uma hecatombe do ponto de vista emocional e estrutural. Nós nos reinventamos, a agência seguiu e sobreviveu", resume o período de reorganização da empresa, e completa: "A gente muda pelo amor ou pela dor".

Pelo desejo de conhecer o outro lado do balcão, em 2007, concorreu a uma vaga na Grendene, em Farroupilha, para atuar com Marketing nas empresas. Dos quatro anos e sete meses que ficou lá, valoriza a amizade com os colegas Fábio Tonetto e Pedro Adamy, além da admiração pela empresa e as oportunidades de crescimento. "Até hoje, me nego a usar Havaianas. Pode parecer bobagem, mas, para mim, faz todo sentido. Tenho gratidão e respeito por tudo que ela me proporcionou", diz, referindo-se ao Rider, marca de chinelo da Grendene que usa.

Com o nascimento de Joana, os 100 quilômetros entre Porto Alegre e a porta da fábrica em Farroupilha começaram a pesar. O publicitário queria estar com a filha, pois não teve seu pai presente, e, então, retornou à Capital. Logo em seguida, assumiu o atual cargo na Paim, onde trabalha desde 2012. "Digo, sem puxação de saco, que retornei por ser uma empresa que respeito e tenho admiração pela cultura da organização." Ainda, foi segundo vice-presidente na gestão 2016/2017 da Associação Riograndense de Propaganda (ARP), ao lado de Andrea Correa, Daise Aimi e Zeca Honorato.

Vulnerabilidade é potência

Tendo nítida capacidade de se relacionar, João afirma gostar genuinamente de gente, mas, ao mesmo tempo, garante que não consegue estabelecer vínculos por interesse nem prospectar com quem não tenha um mínimo de empatia. "Talvez eu seja muito idealista, mas ainda acredito nas relações verdadeiras." Explica que sempre buscou tratar bem as pessoas e confessa que precisa ouvir a opinião alheia para ser aceito e se legitimar; e, ao fazer terapia, descobriu que a necessidade de ajudar e agradar ao próximo eram algo natural e não um comportamento forçado. "Se me violentasse, não o faria. Faço por mim também."

Porém, só foi ter a real dimensão do quanto era querido por todos em dezembro de 2017, quando sofreu um infarto durante uma partida de tênis. Uns chamam de sorte que seu adversário era um cardiologista, que o assistiu rapidamente, e por ter um desfibrilador novo no clube onde jogava, mas ele não vê desta forma, e tampouco acredita que não morreu por 'ser querido'. Avalia que tem algo a fazer aqui: "O mercado está carente de conexões, de amor e de humanidade. Eu tenho isso a oferecer".

Diz que, antes mesmo de adoecer, sempre buscou um significado para os diferentes aspectos da vida e que o infarto o fez acentuar essa necessidade de dar sentido às suas ações e decisões. Com isso, faz um curso de coaching ontológico, no Chile, que consiste em três conferências presenciais e atividades EAD. A formação visa a entender os indivíduos em seu processo de aprendizagem, para ampliar seu poder de ação e entendimento do aluno sobre si mesmo.

Embora se movimentasse para ser bem relacionado, garante que não o foi com todos que demonstraram preocupação naquele momento. "O que ficou disso tudo é que quero gostar de mim tanto quanto as pessoas demonstraram, porque tive a percepção de que o meu gostar ainda é pouco", completa. Após o episódio, fez uma oficina de autoconhecimento no Rio de Janeiro e uma das frases ouvidas virou seu lema de vida: 'Vulnerabilidade é potência'.

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