Carolina Bahia: Fôlego e dedicação

Há 12 anos em Brasília, Carolina Bahia diz que não deixou de ser gaúcha e conta sobre a rotina agitada de ser multimídia

Carolina Bahia - Divulgação/RBS

Por Márcia Farias

O dia a dia de todo jornalista que atua em veículo é geralmente corrido - e com Carolina Bahia não é diferente. Formada em Jornalismo e pós-graduada em Derivativos do Mercado Financeiro, sua trajetória foi traçada de forma natural. As oportunidades apareceram rapidamente e ela aceitou a maioria dos desafios propostos. "Não lembro de ter negado algum trabalho", afirma. Com a mesma voz firme com que é possível ouvi-la em suas participações na programação da Rádio Gaúcha, Carolina se mostra concentrada nas perguntas e séria nas respostas. Ao menos em um  primeiro momento, já que a seriedade não demora a dar lugar a brincadeiras. Uma delas é sobre sua altura e idade. "Muitos me acham uma menina, mas não sabem que tenho 40 anos. E quem me ouve no rádio nem sempre sabe que sou baixinha."

O relógio mostra 7h e Carolina já está no trabalho. Menos de uma hora depois entra na Gaúcha, com um comentário no programa de Antônio Carlos Macedo e, logo, na CBN, de Santa Catarina. O Atualidade, programa que divide com André Machado e Rosane de Oliveira, é transmitido das 8h10 às 9h30.

Ao final da atração, a jornalista trata de falar com os editores do Jornal do Almoço (local e catarinense) e do Mercado & Companhia (programa da RBS TV de Santa Catarina, voltado para o Agronegócio) para integrar seu comentário à pauta do dia. Toda esta sequência acontece na parte da manhã, mas a tarde ainda é longa. Após o almoço, Carolina se reúne com a colega Kelly Matos para preparar a coluna do dia seguinte em ZH, que deve ficar pronta por volta de 17h30 em dias "normais", ou seja, sem eventos relevantes após este horário. No meio da tarde, ainda tem outro comentário na CBN. Tem dificuldade de dizer em qual veículo mais gosta de atuar, mas dá pistas: "O rádio dá resposta mais rápido. É instantâneo em todos os sentidos".

Uma responsabilidade e tanto

São 20 anos de mercado, 14 deles dedicados ao Grupo RBS, sendo 12 na sucursal de Brasília - de 1998 a 2000, trabalhou no caderno Campo & Lavoura, em Porto Alegre e, desde então vive na Capital Federal. O início de carreira no centro do País foi no Canal Rural, uma estreia que não foi difícil. Vaidosa desde pequena, reconhece a importância de manter-se "montada", como brinca, ao detalhar os cuidados com a aparência.

O grande marco da carreira foi mesmo substituir Ana Amélia Lemos (hoje, senadora pelo Partido Progressista) em rádio, TV e jornal, todos de uma só vez. "Cresci acompanhando ela. A responsabilidade de assumir o lugar de uma profissional que saiu para se eleger senadora, com a expressão de voto que ela fez, foi realmente o maior desafio da minha carreira até agora", revela.

A forma encontrada para enfrentar o novo momento foi priorizar os veículos e aprimorar-se em um de cada vez, identificando fraquezas e vantagens. Aos poucos, conta, foi encontrando seu estilo, especialmente por saber que era totalmente diferente de Ana Amélia. "Eu tinha que ser eu mesma. Minha imagem é diferente, minha maneira de falar é diferente, até meu público é diferente do dela", salienta. Dois anos após a substituição, não se acomoda e reconhece que ainda tem muito para conquistar. Apesar de não gostar de planejar o futuro, ou ao menos nada a longo prazo, considera que a principal meta é consolidar a marca Carolina Bahia.

Hoje, Ana Amélia admite que tem menos tempo de ouvir determinados programas, mas opina sobre a colega: "Carolina tratou de ocupar o lugar dela. Com suas características, dá continuidade ao bom jornalismo que deve ser feito".

Trabalhos inesquecíveis

Nos tempos da Famecos, ela se imaginava apenas repórter de jornal. A editoria de Economia acabou sendo a preferida na metade do curso, quando começou a estagiar na Fundação de Economia e Estatística (FEE). "No colégio, confesso que não gostava muito das exatas, mas me aproximei do tema e passei a gostar. Tanto que adorava ler a Gazeta Mercantil", recorda. A experiência seguinte foi no mesmo setor, mas voltada para o agronegócio - Carolina cobriu férias na Agência Safras & Mercados. O final da experiência resultou em um convite para atuar no jornal O Interior, publicação da Fecotrigo (hoje, Fecoagro). "Minha trajetória me levou para este setor, mas, ao contrário do que muitos pensam, não sou do Interior nem tenho família lá ou, menos ainda, tenho terras", explica. Jornal do Comércio e revista A Granja também estão no currículo da jornalista.

Na Famecos, ouviu do professor Marques Leonan que o melhor do Jornalismo é ser repórter. Hoje, concorda integralmente. "É o mais divertido. É a atividade que permite viajar, conversar com as pessoas e contar histórias, tudo que sempre gostei." Nesta função, destaca algumas coberturas marcantes na carreira, como um caderno especial do Campo & Lavoura sobre a entrada clandestina de soja transgênica no Estado. "Foi uma surpresa emocionante ver este trabalho na capa de Zero Hora, com a palavra Exclusivo bem destacada", orgulha-se.  A febre aftosa no Rio Grande do Sul também é lembrada, pois acompanhou o caso de dentro do Ministério da Agricultura. "Praticamente morava lá dentro", brinca, para em seguida registrar o Mensalão como outra cobertura inesquecível. "Naquele momento, toda a imprensa brasileira estava no Congresso Nacional atrás das mesmas informações e conseguimos matérias bem interessantes".

Há pouco tempo, já atuando como colunista, comentarista e apresentadora, Carolina conseguiu uma entrevista pela qual teve de batalhar durante três longos meses. Considera "a melhor de todos estes anos em Brasília": o presidente do Senado, José Sarney, foi sabatinado pela jornalista e pelo colega Fabiano Costa, de ZH. Apesar de reconhecer as denúncias que o acompanham sobre corrupção, ela é enfática: "É uma autoridade, se está ali é porque foi eleito. Como jornalista, não posso ter menos respeito por ele, que está ali como fonte". A observação é feita após contar que recebeu diversos emails e mensagens com opiniões bastante críticas. Mas faz questão de explicar: no seu entender, "qualquer cidadão pode se manifestar, mas como profissional tenho que respeitar a autoridade. Fiz todas as perguntas que queria e ele não escapou de nenhuma, muito menos foi indelicado".

'Não sou brasiliense, sou gaúcha'

O Colégio Aplicação, a quem atribui a escolha pelo Jornalismo, já que foi na adolescência que fez a opção - tanto que a possibilidade de cadastrar uma segunda opção na inscrição para o vestibular foi ignorada - tem grande participação nas escolhas de Carolina. E não apenas profissionais. O professor de educação física Marcelo Asmus, com quem está casada há 12 anos, ela conheceu nos tempos de escola. 'Um grande companheiro', este é o título que o esposo tem: "Casar com jornalista não é fácil, ainda mais para quem não é do meio". Sozinhos e sem estrutura de família em Brasília, eles dividem todas as atividades da casa e na criação do filho, João Marcelo, de cinco anos.

Brasília virou raiz, Porto Alegre sinônimo de saudade. Não pretende voltar a morar aqui, mas sempre que retorna traz João Marcelo a tiracolo, uma forma de fortalecer os laços com pais, irmão e primas. "Sofremos com a saudade, claro. Mas acabamos fazendo muitos amigos, já que Brasília agrega muitos desgarrados", brinca. Outro vínculo que mantém com a cidade é o time do coração. Gremista desde pequena, ela e Marcelo não deixam de acompanhar os jogos, mesmo que seja pela internet.
As origens são ressaltadas a todo momento, e é enfática: "Não sou brasiliense, sou gaúcha", diz, contando em seguida que, quando fez tratamento com fonoaudióloga para adaptar a voz, deixou claro que poderia perder tudo, menos o sotaque. A explicação é o fato de falar e escrever para o Rio Grande do Sul, o que a mantém identificada com os conterrâneos.

Longe do Jornalismo

A rotina agitada se mantém nos finais de semana por um motivo simples, a família quer fazer tudo o que não consegue em dias úteis. Além disso, ter filho pequeno dá apenas duas alternativas ao casal: ou deixar João Marcelo com a babá e ir ao cinema, por exemplo, ou aproveitar os poucos momentos de lazer ao lado dele. A opção escolhida é quase sempre a segunda, o que, no entanto, afasta a mãe de seus gêneros preferidos, entre os quais estão drama, policial e suspense.

Além da música, em especial Bossa Nova e Samba (aliás, Carolina adora dançar e tem a companhia do marido para isso), ler está entre os principais passatempos. "Fico angustiada quando olho para uma pilha de livros que tenho em casa e não consigo lê-los", brinca, citando os títulos A lebre com olhos de âmbar', de Edmund de Waal, e 'Os desafios do crescimento', de Celso Pinto, como atuais obras de cabeceira. Outro prazer é viajar, mesmo a trabalho. A China, por exemplo, é citada como um lugar inesquecível e que não estaria na sua lista de destinos se não fosse a profissão - ela acompanhou a viagem da presidente da República, Dilma Rousseff. "Foi definitivamente uma experiência fascinante", resume, destacando Paris como a cidade preferida e Londres como o desejo de próxima parada.

Carolina se considera perseverante e muito agitada, até mesmo nos momentos de folga, e faz questão de explicar que tenta, o tempo todo, controlar a inquietação. E como já era de se esperar, declara: "Estou aqui, falando há um tempão, e não consigo parar de pensar em tudo que ainda tenho para fazer".

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