Cristina Pozzobon: A escultora do bem

Dividida entre várias atividades a jornalista ainda consegue tempo para se dedicar a uma grande causa

A jornalista Cristina Pozzobon se considera uma pessoa persistente, e por isto consegue desempenhar bem as funções de mãe, mulher, filha, esposa, dona-de-casa, cozinheira, empresária, artista plástica, e jornalista. Mesmo diante de tantas atribuições, a sócia-proprietária da Lavoro Comunicação & Marketing ainda cria tempo para se dedicar a uma causa nobre, o voluntariado na ONG Agência Livre para Informação Cidadania e Educação (Alice) e também ao projeto 'Direito à Memória e à Verdade'.

Nascida em 10 de janeiro de 1961 em Terra Boa, no Paraná, a filha do agricultor João Batista Pedro Pozzobon e da dona de casa Maria Toniolo Pozzobon guarda como lembrança da infância as viagens feitas de caminhonete Rural com os pais e com os cinco irmãos. Na época, esta era a aventura preferida da menina que passava às vezes dois ou três dias na estrada até chegar ao Rio Grande do Sul para visitar os tios. Com 10 anos, a viagem a Santa Maria foi definitiva, pois acabou fixando residência por lá até se formar em Artes Plásticas, em 1984, na Universidade Federal, e vir para Porto Alegre.

O primeiro emprego foi aos 16 anos de idade, em um escritório de arquitetura, onde ficou por dois anos, pois havia prestado vestibular para Engenharia Civil e, como não passou, resolveu buscar emprego. Depois que se formou, trabalhou como desenhista e com criação gráfica na Assembleia Legislativa e, por sete meses, com criação na agência Martins & Andrade. Como desenvolveu alguns trabalhos na área de planejamento gráfico, conquistou o registro de jornalista pelo Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul na área de diagramação, em 1986. "Como é difícil nos mantermos financeiramente vivendo das artes plásticas, acabei usando o conhecimento adquirido para trabalhar com arte gráfica em outro lugar', afirma.

E foi o que fez no Jornal Diário do Sul logo que foi inaugurado, em 1986. A colega Marô Silva avisou que tinha uma vaga no periódico. Foi correndo contatar o editor gráfico Jorge Gallina, que lhe entregou a diagramação de cadernos especiais. Em paralelo, acabou montando naquele ano a Lavoro Comunicação & Marketing, junto com Marô e outra sócia que hoje não faz mais parte da sociedade.
Livre para criar

Lembra com saudade que no Diário do Sul tinha liberdade para "fazer o que quisesse", livre para criar. Introduziu cor no jornal e só saiu de lá quando fechou, em 1988. A partir daí, Cristina voltou a se focar na Lavoro, trabalhando com um nicho de mercado específico, a criação gráfica. Como a demanda da empresa não era muito grande, sempre que necessitava de apoio para determinados trabalhos chamava freelancers para ajudar, o que acontece até hoje. Cristina ainda passou pelo Jornal do Comércio em 1995, onde ficou por dois anos, e pela Gazeta Mercantil, empresa na qual atuou por seis anos como editora gráfica

Hoje, ao lado do trabalho na Lavoro, é voluntária da Ong Alice, trabalhando a comunicação com população de rua, prostitutas e idosos. Na ONG, faz a diagramação do jornal 'Boca de Rua', uma publicação feita e vendida por pessoas em situação de rua de Porto Alegre desde 1999. Os textos, fotos e ilustrações são elaborados pelos sem-teto durante oficinas semanais. Eles criam e põem ali seus sentimentos, alegrias e frustrações; apenas a edição e a diagramação são executadas por profissionais de comunicação. O dinheiro arrecadado na comercialização do veículo reverte integralmente para os integrantes do grupo, constituindo uma fonte alternativa de renda.

Há três anos a ONG desenvolve um projeto com Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, que se chama 'Direito à Memória Verdade'. É realizado junto à Fundação Luterana de Diaconia e mostra o período da ditadura, de 1964 a 1966, por meio de exposições fotográficas, debates e memoriais. Ali, nossa artista trabalha com esculturas.

Neste projeto ela já tem 12 memoriais no Brasil e seis esculturas distribuídas em locais públicos nas cidades do Rio de Janeiro, Osasco, Florianópolis, Recife, Brasília e Ibiúna. Cristina diz que considera este um trabalho muito interessante, pois é dirigido para a juventude, que não viveu no período da ditadura e acaba conhecendo um pouco da história daqueles que foram mortos na época.

A jornalista ainda trabalha como editora do jornal 'Terra Viva', da Agência de Noticias italiana Inter Press Sevice (IPS), e eventualmente viaja para a cobertura de eventos ligados à área social, como o Fórum Social Mundial.
A vida em família

Casada há 20 anos com o fotógrafo Paulinoo de Menezes, Cristina lembra que se conheceram através de um ex-namorado dela. Na época, Paulo estava produzindo um documentário e a convidou para assistir a uma sessão de vídeo. A partir daí, começaram a se ver mais seguidamente, mas, garante, apenas como amigos. Quando o relacionamento com o outro acabou, se encontraram e acabaram assumindo o namoro: após um ano de relacionamento, foram morar juntos. Da relação nasceram a filha Clara, hoje com 15 anos, e Pedro, 7.

Nos dias de folga o tempo livre é dedicado à família, aos cuidados com a casa e à culinária. "Moramos em uma casa na Vila Nova, onde as crianças têm sua liberdade, e acabamos ficando mais tempo por lá", revela Cristina. Para o marido, diz que reserva a quinta-feira, quando saem para namorar e fortalecer a relação a dois.

Na sua rotina, está acordar às 6h servir o café dos filhos e levá-los à escola. Após, passa no supermercado, antes de começar a jornada na Lavoro. Ao meio-dia busca os filhos, com quem faz questão de almoçar, e retorna para a empresa. A rotina ainda inclui a diagramação de livros e a participação em reuniões semanais com os voluntários da ONG Alice.

Cristina diz que se sente realizada naquilo que faz atualmente, principalmente pelo trabalho voluntário que desenvolve, mas planeja para próxima década montar um ateliê e trabalhar com arte, conciliando mais tempo livre para ficar com o marido e os filhos. "Apesar desta correria, acho que minha vida é tranquila, principalmente porque faço o que gosto", explica. E conclui lembrando que entre as muitas atividades que tem que conciliar, acha importante contribuir para a sociedade e deixar a sua marca. "Eu não vim para vida a passeio e o fato de poder conciliar a minha profissão com uma atividade que contribui para o avanço da sociedade é o que me dá prazer e me motiva a continuar."
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