Davi dos Santos: Em paz com a vida

Designer trocou, temporariamente, o apartamento para viver em um sítio, em meio à natureza, com a esposa e os filhos

Davi dos Santos, diretor de Criação da agência Matriz - Arquivo Pessoal

O diretor criativo da Agência Matriz, Davi dos Santos, está trocando a vida agitada na cidade pela paz e pelo contato com a natureza. Tudo isso para proporcionar bem-estar maior aos filhos Max, quatro anos, e Gael, que estava completando seu primeiro ano de vida exatamente no dia desta entrevista. 

Atualmente morando em um sítio, em Águas Claras, Viamão, o filho caçula do advogado Dilceu Gomes dos Santos e da professora Judite Gomes dos Santos recorda do tempo em que morava em Lajeado. Adorava andar de bicicleta e ir para aula de violão na Casa de Cultura da cidade, pedalando. Na infância, gostava também de estar sempre subindo nas árvores para colher frutas e brincar com os irmãos Alexandra, Andréia e Lucas. Jogar futebol e descer de carrinho de lomba eram as brincadeiras favoritas da trupe.

As viagens para o litoral gaúcho, em Cidreira, e para Serra, Gramado e Canela, também eram sempre uma aventura, afinal, era a 'Caravana da Coragem': seis pessoas e um cachorro a bordo de um carro pilotado pelo patricarca. "Adorava as viagens. Eram sempre superdivertidas", alegra-se. 

"Eu, você, dois filhos e um cachorro?"

Prestes a completar 11 anos de casado, em novembro, conta que conheceu a esposa, também designer, Camila Soares, no coral da Igreja Luterana, em Porto Alegre. Posteriormente, a questão profissional aproximou ainda mais o casal, que hoje formam uma família com os dois filhos e o vira-latas Nacho, que foi adotado quando ainda estavam tentando a primeira gravidez. 

Atualmente, os dias de folga são todos em função das crianças. Devido à pandemia, as energias ficam acumuladas e, como não podem sair, mudaram-se, provisoriamente - pois venderam o apartamento e compraram um terreno próximo -, para o sítio dos sogros. O trabalho hoje é remoto, mas provavelmente permaneça assim, pois fica mais fácil estar em contato com a natureza e de olho na prole. Já começaram, inclusive, a plantar árvores frutíferas para fincar o pé na terra.

A rotina atual é compartilhada entre o trabalho e o cuidado com os filhos. E ganha um reforço com a ajuda dos sogros. Porém, ele garante que sempre sobra tempo para atividades novas, fazer passeios de bicicleta, piqueniques e as brincadeiras de super-heróis com Max. Além disso, Davi já fez um carrinho de mão para o filho e a famosa casinha na árvore, tudo para que as crianças se divirtam e cresçam da melhor maneira possível. "O lado artístico é algo com o qual nos envolvemos bastante, até pela questão profissional mesmo. Gostamos muito de cantar, por isso, tu estás ouvindo o Max cantando ao fundo. Gosto de tocar violão e banjo, e estamos sempre cantando", compartilha, ao citar a voz do primogênito durante a entrevista. 

Violão e Banjo

A paixão pela música, ele diz que herdou da mãe, que sempre o incentivou a tocar algum instrumento. Nos últimos anos, alguns gostos foram se modificando e as músicas favoritas dependem do momento. Vai de progressiva, clássica, instrumental, jazz até pop. Varia de acordo com o contexto, se precisa se animar, se acalmar ou pensar. Banda favorita? Está aí mais uma coisa que foi mudando com o tempo. Gostava muito de ouvir Pink Floyd, Bach e por aí vai. 

Algo que mudou também foi a paixão e o fanatismo pelo Grêmio. "Estes dias estava comentando com a Mila o quanto estou desapegado e o quanto mudei de como era. Já nem sei quando o meu time ganha ou perde. As coisas mudam bastante", confessa. O gosto pela prática esportiva não perdeu, apenas deu um tempo em função da pandemia. Em tempos normais, jogava bastante futebol, de quadra e campo, vôlei e lutava boxe. 

Cristão, gosta de se perder em seus devaneios lúdicos e está sempre lendo dois ou três livros ao mesmo tempo, até um cativá-lo de vez. Se for acompanhado de uma xícara de café, então, melhor ainda, já que curte novas e diferentes safras.

Além das leituras técnicas e criativas, lhe faz bem drama e romance. Atualmente, está focado em 'Originais: Como os inconformistas mudam o mundo', de Adam Grant, e 'Sobre os ossos dos mortos', em que Olga Tokarczuk oferece um romance instigante sobre temas como loucura, injustiça e direitos dos animais.

Quando o assunto é a sétima arte, é bem eclético também, aprecia desde ação, filmes argentinos e europeus até séries. "Gosto de tudo. Adoro ver filmes e seriados. Não tenho muitos preconceitos quanto a isso." 

Nasce um designer

Formado em Publicidade e Propaganda pela PUCRS, em 2007 (ano em que veio morar com a irmã em Porto Alegre), recorda que, primeiro, até pensou em cursar Fisioterapia ou Desenho Industrial, mas acabou optando pela área da Comunicação. Nunca havia conhecido um publicitário, seus três irmãos enveredaram para a área da saúde. Contudo, a veia criativa falou mais alto. Tanto é que na escola teve uma gincana para criar uma marca para uma empresa e acabou ficando em segundo lugar. "Não conhecia muito da publicidade, mas achei que pudesse ter relação com desenho e arte e acabei me relacionando bem. O que me abriu bastante portas", conta, dizendo, em seguida, que sempre recebeu incentivo da esposa para buscar um estágio na área. "Não sabia muito o que me esperava na carreira, mas foi uma grata surpresa", comemora. 

Iniciou no Design na agência Global, em 2004. "O primeiro trabalho lembro que não sabia usar a ferramenta de software que eles usavam na época. Não sabia fazer curvas, entreguei uma marca toda geométrica e foi aprovada. A partir daí, virei autodidata e fui aprendendo. Tudo por conta própria. Eu tinha capacidade e interesse, e deu certo." Dois anos depois, migrou para a Bendito Design, passando também pela extinta DCS, onde ficou até abrir a That Design Company, em 2012, com outros dois sócios, Diego Rocha e Vanessa Dorneles. No segundo ano, ganharam o Prêmio Colunistas como diretores de Design. 

Em 2014, descobriu que adorava criar, mas não tinha gosto por esta parte financeira e empresarial, então partiu para novos horizontes. Chegou na Agência Matriz por intermédio do amigo Maurício Oliveira, para coordenar o núcleo de Design. "Eu era o head de Design, um cargo de nome bonito que me deu muita autonomia para trabalhar", afirma. Um ano depois, a Matriz ganhou como Agência de Comunicação do Ano  também no Colunistas e ainda levou o GP de Empresa de Design do Ano e o GP de Anunciante do Ano para Grupo Zaffari. "Foi demais, uma experiencia fantástica", festeja. 

Desde a saída de Maurício, em 2018, está no cargo atual, como diretor de Criação, e tem a oportunidade de fazer alguns projetos sociais como campanhas para o Hospital Espírita de Porto Alegre, para o Educandário, para a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), sobre as mulheres na Política, e para o Centro de Educação Ambiental (CEA), da Vila Bom Jesus.  "Esta parte do trabalho com os projetos sociais me agrada muito", revela.

Agregador

Definindo-se como agregador e aberto a mudanças, nunca ficou muito preso e sempre teve abertura para crescer e abandonar velhos hábitos. "Até como pai, eu desconstruí muitas ideias", orgulha-se. Já a qualidade e o defeito são algo que diz que "andam meio juntos": paciência, procrastinação e falta de memória. "Sou calmo demais, às vezes até em situações que deveria ser mais ágil. Também acabo divagando muito e fugindo", ri.  

Para a próxima década, acredita que estará dormindo bem, sem precisar acordar várias vezes à noite para atender aos filhos. Também deseja estar se dedicando à casa no sítio, ainda ligado ao Design e, quem sabe, abrir um café diferenciado. Como casal, quer voltar a viajar com a esposa. "Estamos querendo ir para o Japão após a pandemia. Tínhamos programado de visitar minha irmã mais velha, que mora nos Estados Unidos, mas, em função do coronavírus, tivemos que adiar. Agora, estamos planejando quais serão nossos destinos quando tudo isso passar", vislumbra. 

Entre as referências pessoais, estão os pais e irmãos, cada um com suas especificidades, e a esposa, a quem considera uma mãe e profissional excepcional, e com quem tem uma relação superbacana de amor e parceria. Para admirações profissionais, destaca o designer e amigo Maurício Oliveira e Beto Philomena, um dos sócios da Matriz, que é descrito como uma pessoa emocional e focada no ser humano. Tanto que exibe com carinho o texto que recebeu do chefe em seu último aniversário, 8 de junho: "Davi, o irmão mais novo, entrou na corte de Saul como harpista, o músico que acalmava o espírito perturbado do rei, e também cuidava do rebanho de seu pai em Belém. Certo dia, ainda adolescente, ao levar provimentos para seus irmãos que estavam combatendo contra os filisteus, se deparou com o guerreiro Golias. Assim é o nosso Davi também. Um artista, um cara da paz e um bom pastor. Mas, se o chamarem para a luta, creiam, meus irmãos, ele se tornará um gigante".

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