Flávio Del Mese: Formação em curiosidade
Famoso pelas diversas viagens que já realizou, o fotógrafo conta suas idas e vindas pelo mundo
"Descobri que não há nada mais chato do que projeção de slides, a não ser que seja cobrado", diz, explicando como surgiu a ideia de transformar suas imagens em documentários e lucrar com isso. A partir daí, começou a cobrar ingresso para fazer suas projeções e percebeu que o negócio dava certo. A exemplo, o filme
A China que eu vi manteve lotados, durante meses, todos os teatros onde foi passado.
Com algumas demonstrações na bagagem, o fotógrafo, sempre autodidata, aprendeu técnicas para tornar seus documentários mais atraentes. Ele chegou a fazer alguns cursos na Inglaterra, mas afirma que aprendeu mesmo com a vida. "Se a pessoa for um pouco mais curiosa, a própria vida ensina muita coisa. Se puder unir a experiência à teoria, melhor ainda."
Cansado de apresentações itinerantes, o fotógrafo decidiu que precisava de um lugar único e seu. Com isso, surge o 'Studio', fundado em 1980. No local, ele apresentou 48 documentários durante 22 anos. "Mais especificamente, 540 semanas", enfatiza. Ao se dar conta do tempo que passou "entre quatro paredes negras, sem nem jantar com amigos nos finais de semana", decidiu encerrar um ciclo, já que era ele quem viajava, fotografava, escrevia os textos, fazia a locução e a técnica, e, se faltasse alguém na bilheteria, ele mesmo vendia os ingressos. Após negociações, vendeu o estabelecimento que hoje é o conhecido Studio Clio.
Antes de criar um espaço próprio, Del Mese ainda fez comentários na Rádio Pampa, no programa do amigo Rogério Mendelski. Com a ida do comunicador para a Rádio Guaíba, ele foi junto, mas permaneceu lá por pouco tempo. Aos 75 anos, ele lembra com carinho de todas as suas passagens pelo mundo da Comunicação, mas garante que não teria vocação para cursar Jornalismo, por exemplo, por achar que a prática ensina muito mais.
Longe das câmeras
Sob a opinião de que, hoje em dia, a fotografia não se vende mais, Del Mese dedica-se a outras paixões. Plantas e animais fazem parte das preferências. "Quando vim morar aqui, esse terreno era mais careca que eu", recorda, referindo-se à diversidade de plantas que o local abriga atualmente, muitas trazidas de Madagascar. Já sobre animais, ele apresenta a cachorrada que mora com ele. São sete cães da raça Dachshund - mais conhecidos como linguicinhas. "A cada ninhada fico com um", diz explicando a quantidade.
Outro lazer é seu blog, '
Viajando por Viajar', ideia da secretária Silvia, que estava cansada de reescrever seus textos e guardá-los na gaveta. "Tenho leitores em 13 países, até na Hungria tem gente que lê o meu blog. Pra mim, que sou totalmente analógico, esse alcance é fantástico", conta.
Del Mese não se considera um homem polêmico, mas contestador. "Tenho opiniões sobre tudo, certas ou erradas, são opiniões. Não fico em cima do muro", conta para logo deixar claro que, em seu blog, procura sempre analisar os dois lados das situações. Ele demora para achar alguma outra característica marcante e brinca: "Meus defeitos? Pergunte aos meus inimigos".
Como um bom italiano e participante da Confraria Bom Gourmet, ele não come massa fora de casa. "Cada vez que eu peço massa em restaurante, a chance de me decepcionar é muito grande." Por outro lado, garante que gosta de boa comida e não sabe definir o prato preferido.
Com um acervo de 60 mil slides, Del Mese assegura que encontra qualquer imagem em, no máximo, 15 minutos. Segundo ele, o fotógrafo profissional não é melhor do que o amador, ele apenas sabe para quem vender, como fez diversas vezes para agências como Martins e Andrade e a extinta MPM. E foi essa renda que sustentou suas inúmeras viagens. Para quem pretende colocar o pé na estrada, Del Mese dá a dica: "Aonde for, leve na mochila meia champagne, para os bons e maus momentos".
