Lara Piccoli: Energia de sobra

Sócia-diretora da Morya, Lara Piccoli fala do desafio de dirigir uma agência e se revela uma apaixonada pela natureza

Lara Piccoli - Reprodução

Por Márcia Farias

Os olhos azuis claríssimos, que brilham diversas vezes em meio a variados assuntos, se destacam em um rosto que mantém o sorriso constante por quase toda a conversa. No cenário local, é raro uma mulher figurar no quadro societário de agência. Não é o caso de Lara Piccoli, que, além desta condição, integra um pequeno grupo de profissionais de Planejamento que se tornam sócios - quando o mais comum é que estes sejam da área de Criação. Ela sabe que é comunicativa e expansiva, e este foi um dos primeiros motivos que a levou para a Propaganda. A curiosidade, o poder de convencimento e a paixão por estudar a conduziram ao natural ao curso na Famecos. Não satisfeita em seguir apenas com a Comunicação, durante dois anos e meio Lara enfrentou a dupla jornada de conciliar a Publicidade com a faculdade de Direito, também na PUC - até que se convenceu a ficar apenas com a primeira opção.

Uma mulher definitivamente intensa, talvez esta seja a melhor denominação para a empresária. Aos 38 anos, esbanja energia em tudo o que faz, seja no trabalho, nos relacionamentos ou nos momentos de folga. Ela trabalha. Faz pilates, ioga, corrida, anda de bicicleta e vai na academia. Gosta de estar com os amigos o tempo todo e com a família também. E adora viajar e pensa em voltar a estudar. Haja ritmo! Mas, ao contrário do que possa parecer, Lara está longe de parecer cansada. Curtindo "um grande momento", sente-se uma pessoa realizada e diz vibrar muito com a vida, por tudo o que tem.

Filha do empresário Pedro e da contadora Iolanda, a caçula de mais dois irmãos - Flávio e Ricardo - só perde o sorriso quando fala na perda da mãe, que faleceu em 2010, vítima de um enfisema pulmonar. "Foi muito dolorido. Tinha uma ligação muito forte com ela", lamenta, para em seguida completar: "Mas a gente aprende com tudo e estas situações geralmente nos tornam mais fortes."

Da monografia ao emprego

Mesmo tendo desistido de ser advogada, a monografia na Famecos foi sobre Legislação Publicitária. Era o início da década de 1990, quando o mercado gaúcho começava a discutir outra forma de cobrança de serviços que não fossem os convencionais 20% de comissão sobre a veiculação de mídia. O assunto era polêmico e a Paim foi uma das primeiras agências, senão a primeira, a mudar a maneira de valorizar seu trabalho. Concluinte do ensino superior, Lara foi entrevistar Antônio Marcos Paim, dono de uma consultoria e irmão de Cesar, sócio majoritário da Paim, para entender tal medida. Acabou concordando com o ponto de vista apresentado e fez sua defesa no trabalho de conclusão de curso (TCC). Terminada a etapa, voltou à Paim para presentear seu entrevistado com uma cópia da pesquisa e foi surpreendida por uma proposta de emprego.

Primeiro, a atividade era na área de branding, na consultoria com Antônio Marcos, com quem trabalhou por oito anos. "Foi uma experiência muito legal, pois me proporcionou uma visão horizontal de todo o negócio", recorda. Foi neste período que a paixão por estudar voltou e resultou em Pós-Graduação em Teorias e Comunicação de Massa, MBA em Marketing e especialização em Comportamento. Ao entender que precisava sair da teoria e "colocar a mão na massa", como brinca, pediu para sair. Inconformados em perder o talento de Lara, os irmãos propuseram então que ela fosse para dentro da agência. Foi o que fez, inaugurando a área de Planejamento da Paim.

Mudanças na estrutura da agência fizeram de Lara diretora de conta, algo que recorda com muita empolgação. "Se eu queria meter a mão na massa, essa foi a oportunidade para isso. Com toda a bagagem de planejamento, fui para o contato direto com o cliente, quando atendi à rede Walmart", diz. Em 2010, antes de assumir a conta reconquistada da Renner, ela ainda teve a experiência de ser vice-presidente de Gestão da Paim.

Ano sabático

A longa jornada ali durou 16 anos, entrecortada por algumas experiências, como o período de dois meses em que morou em San Diego, na Califórnia, quando aprimorou seu inglês e se especializou em Marketing Digital, num tema em que ainda era uma novidade no mercado. Ao voltar para o Brasil, fez trabalho freelancer para a Dez, mas o temporário não foi suficiente para desvinculá-la da Paim - e retornou ao velho ninho. Após toda a bagagem adquirida, chegaram as dúvidas e a vontade de alçar novos voos: "Comecei a sentir falta de algo mais com a minha cara, onde eu pudesse trabalhar mais os valores que acreditava", explica.

A decisão de deixar a agência teve como consequência um ano sabático. Ela e o marido, o criativo e ex-colega da Paim, Fábio Bernardi - que já havia se desligado da agência - tomaram a decisão de criar seu próprio negócio. Antes de dar um passo assim ousado, houve um período de reflexão, conversa a dois, pesquisa, viagens e benchmarking. "Eu e o Fábio temos muita sintonia nos negócios, a gente se complementa. Além disso, somos de áreas diferentes, mas que precisam interagir, que são naturalmente questionadores", analisa, para em seguida contar: "quando estava tudo decidido sobre o formato desta nova empresa, veio o contato da agência Morya". "Em um mês e 10 dias já estávamos, eu e o Fábio, com tudo pronto, trabalhando na campanha institucional do Moinhos Shopping", conta.

O sócio, o marido e o amor

"Passamos por vários momentos na relação", diz Lara, ao explicar como separar o sócio do marido. Para ela, "é impossível não misturar os papéis em alguns momentos, mas isso se ajeita com o tempo". A publicitária lembra ainda que, quando atendeu à Renner, não atuou ao lado de Fábio, separação que fez com que sentisse falta da parceria profissional. "Foi quando percebi o quanto damos certo. Dificilmente pensamos diferente, especialmente sobre valores e postura", revela. E acrescenta que a sintonia profissional acontece também fora da Morya, pois algumas ideias surgem no meio do jantar, no final de semana, em qualquer lugar. "Respiramos propaganda", resume.

Falar do marido é fácil para Lara, que não poupa elogios e brinca: "Se eu sou curiosa, o Fábio é 10 vezes mais. Ele é o nerd da informação". Ela diz que, ao acordar, precisa respirar, tomar um café, praticar algum esporte e aí sim ler jornal ou algo parecido. Já o companheiro, ela conta, necessita saber o que acontece no mundo logo de manhã. Apesar dessa mistura de vida pessoal e profissional, ela garante que a relação é muito leve e não é um fardo viver a propaganda durante 24 horas por dia.

"Fabio é uma pessoa maravilhosa", derrete-se a companheira. "Ele tem muita facilidade com relacionamentos, é inteligente, com pensamento muito rápido e um coração enorme. Admiro muito meu marido." O sonho de aumentar a família existe sim, e ela brinca: "Falta ligar a chave da maternidade". Envolvido com a mudança de residência, o casal ainda pretende curtir um pouco mais esta fase, mas garante que o assunto vai entrar na pauta em algum momento.

A vida sem planejamento

Considerando o momento atual como "o marco zero", Lara diz que se sente recomeçando tudo. Realizada com os novos desafios, não descarta nenhum meio de informação: "Estou aprendendo todos os dias. Televisão, rádio, redes sociais, nada é bobagem". Além de toda a felicidade, ela se viu mais prestigiada do que imagina, pois, ao divulgar a sociedade na Morya, recebeu inúmeras mensagens e ligações de profissionais - algumas que ela nem imaginavam que sabiam da sua existência.

Na intimidade, ela também se diz realizada, mas, ao contrário da especialidade do planejamento, pessoalmente não consegue ser organizada e não gosta de rotina. "Faço o que tenho vontade na hora, sem muitos planos." Se tem uma atividade capaz de tomar seu tempo é cozinhar. Íntima da gastronomia, gosta de comida tailandesa, mas a especialidade é outra: "Minha lentilha é imbatível". Fábio, porém, admira ainda outro prato, o estrogonofe. A única mania de Lara também é relacionada com a cozinha: ela sempre toma o mesmo café da manhã, ainda que esteja em um hotel que ofereça as mais diversas opções. Tem o suco da saúde, que ela criou combinando ingredientes, uma fruta e um pão integral, nada mais.

O contato com a natureza é essencial na vida da publicitária, que surfa desde a adolescência. "Todos os esportes que pratico são meramente paliativos. Só faço eles porque não moro num lugar com mar. Se morasse, viveria dentro dele." Gosta de tudo natural, que tenha a ver com a essência das pessoas, contanto que não tenha muita relação com consumismo.

Falar da natureza também faz com que Lara reflita sobre ela mesma: "Sou afetiva e gosto de olhar no olho. Também acho que tenho a capacidade de motivar as pessoas". Mais do que uma autoanálise, ela é enfática: "Sou grata por tudo e celebro o que eu tenho. Me considero humana e simples. Resumindo, amo a vida".

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