Martin Albert Haag: Vendedor de idéias

Interdisciplinar, ele relaciona o Marketing, a Administração e a Filosofia na rotina profissional

Martin Haag - Reprodução

Martin Albert Haag, 40 anos, é natural de Sapiranga e tem lembranças de uma infância dividida entre dois mundos: o dos avós, que viviam em uma propriedade rural e eram fortemente ligados à vida no campo, e o dos pais, que buscavam novidades tecnológicas e desfrutavam do promissor mercado de calçados do Vale dos Sinos. Contudo, foi a liberdade o fator que mais lhe marcou a meninice e permeou os dois mundos onde transitava. "As crianças aproveitavam o espaço da rua para brincar e as famílias se sentavam em frente às suas casas para conversar no final do dia. Hoje isso é impensável", conta.

A vivência na cidade de origem, junto aos pais e às duas irmãs mais novas, Daniela e Aline, foi interrompida aos 14 anos, quando ele partiu para São Leopoldo e tornou-se interno do Colégio Sinodal. Lá, destacou-se como um dos primeiros alunos da turma. "Sempre me senti desafiado pelas áreas de estudo mais complexas, pelos conteúdos mais difíceis", revela. A sede por conhecimento e o desinteresse pela construção de uma carreira profissional o levaram a prestar vestibular para o curso de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no qual foi aprovado em terceiro lugar, em 1982, ano em que fixou residência na capital.

Permaneceu na graduação dos 17 aos 22, "um período de experimentação", como ele mesmo define. Nessa época, estudou paralelamente à Ffilosofia o teatro, as artes e a Antropologia e recebeu remuneração através de uma bolsa de iniciação científica, mantendo-se distante do mercado de trabalho. Avalia que "a Filosofia é uma grande aventura no mundo da linguagem", mas confessa que, após a formatura, em 1987, entrou em crise por não encontrar aplicações práticas para os seus estudos. Cheio de dúvidas, recusou dois convites para lecionar e viajou para a Alemanha, onde a irmã Daniela já estava instalada, e passou cinco anos percorrendo a Europa. "Apenas a passeio, sem objetivos profissionais", explica.

Exportações e importações

Voltou ao Brasil em 1992 devido a um convite de seu pai, que estava montando uma empresa de importação. Como ambos possuíam planos de vida diferentes - "ele estava abrindo seu último negócio, pensando na aposentadoria, e eu queria testar coisas novas" -, a parceria acabou não dando certo.

Entretanto, o interesse pelo comércio exterior levou Martin, que trazia no currículo a fluência em alemão, inglês e espanhol, para a Catléia, empresa de calçados situada no Vale dos Sinos. Passou a atuar como assistente de exportação e conheceu o empreendimento em sua melhor fase. Primeira fabricante brasileira de calçados a exportar com uma marca própria, a Catléia destinava, na época, 90% de sua produção à exportação.

Entre 1992 e 1995, tempo no qual permaneceu na empresa, o Plano Real foi implantado no país e as exportações, até então vantajosas em função da desvalorização da moeda, deixaram de ser um bom negócio. Nesse momento, a equipe da Catléia percebeu a necessidade de cativar os consumidores brasileiros e renovar a marca, tarefa que seduziu Martin e fez dele um dos criadores do setor de Marketing da indústria. A experiência colocou-o em contato com uma área pouco conhecida no mercado e o motivou a voltar para a universidade em busca de qualificação.

De volta à academia

Matriculado no mestrado em Administração e Marketing na Ufrgs, deixou o emprego e debruçou-se sobre os livros por três anos. "A volta ao ambiente acadêmico me permitiu construir uma base conceitual que é fundamental no meu trabalho até hoje", associa. Novidade absoluta, o Marketing abriu uma nova possibilidade na vida do filósofo, a de lecionar. Isso porque as instituições de ensino superior sistematicamente passaram a abrir cursos na área e a recorrer aos poucos profissionais habilitados para ensinar sobre o tema. Como Martin era um deles, teve passagens por diversas universidades e chegou a coordenar a graduação em "Administração voltada ao Comércio Exterior" na La Salle, no município de Canoas.

Após o término do mestrado, testou-se durante um ano na agência Over, objetivando conhecer a rotina publicitária. Concluiu que o ambiente da empresa de propaganda limitava suas alternativas de atuação e optou por abrir uma consultoria própria, a Haag MC, em 1997, e buscar na prática as respostas para suas inquietações. "Foi quando descobri um trabalho de maior envergadura dentro da propaganda", relata. Martin preocupava-se em construir os produtos de Marketing em um nível simbólico e entender o seu efeito na mente humana, retornando a sua crise filosófica da juventude: "Como tornar conteúdos essencialmente de análise conceitual da linguagem humana em produtos que possam ser comercializados?", questionava.

Firmando-se no mercado

Responsável por estruturar a comunicação de seus clientes e desenvolver pesquisas, ele acabou sendo descoberto em 2002 pela agência Escala, para a qual passou a prestar serviços. "Meu desafio na Escala era trazer ferramentas conceitualmente consistentes para estruturar a área de planejamento e esse foi o melhor presente que eu podia receber. É o que eu gosto de fazer", conta satisfeito. Seguiu com sua empresa de consultoria até 2003, quando optou por trabalhar exclusivamente para a Escala. Iniciou na equipe de planejamento e, hoje, tornou-se o diretor do setor. Ele faz planos de permanecer no cargo e garante ter encontrado na agência o ambiente perfeito para a aplicação de conceitos, principalmente pela diversificação da carteira de clientes.

As aulas na Universidade ele precisou abandonar devido à falta de tempo, mas encontrou como alternativa ministrar palestras para acadêmicos. Os assuntos mais requisitados são marcas e planejamento, suas especialidades. "Durante as palestras, posso extrapolar os limites do currículo de uma cadeira e, por isso, é muito mais interessante", explica. Quanto a sua carreira profissional, ele avalia ter tido "muito mais sorte do que juízo", já que tudo aconteceu sem projetos.

Ele destaca como o episódio mais marcante de sua trajetória a popularização do Marketing na década de 90, processo do qual participou ativamente. Na atualidade, aponta como meta para o futuro a busca pela subjetividade. "Os espaços de competição estão se esgotando e, para se diferenciar, o desafio do planejamento é trabalhar no universo subjetivo, inspirando os consumidores", explica. "Os consumidores estão mudando e é preciso levar isso em consideração", complementa.

Workaholic assumido

A vida pessoal de Martin está submetida ao seu corre-corre diário na Escala. Não por obrigação, mas por gosto. "Eu venho todos os dias para o trabalho pensando: que bom, mais um dia", brinca. Dessa maneira, ele empresta para a agência suas melhores qualidades: o entusiasmo e a energia quase inesgotável.

Contudo, a dedicação excessiva ao trabalho acabou se tornando também o seu maior defeito. "Isso dificulta o meu convívio com os amigos, os relacionamentos amorosos e até mesmo os meus momentos de lazer", justifica. Apenas à noite, após o expediente, é que garante algumas boas conversas com conhecidos nos restaurantes de Porto Alegre. São pelo menos três jantares na semana.

Em sua vida, a única coisa que se equipara em importância à profissão é o filho, Nicolas, de sete anos, a quem ele destina todo o tempo livre. Divorciado de Cláudia Pereira, com quem foi casado por 12 anos, mora sozinho e recebe o filho todos os finais de semana. "Ele é um pequeno talento, toca bateria muito bem", afirma o pai coruja. Acostumado a comparar seus feitos pessoais aos feitos profissionais, diz que Nicolas é o seu melhor projeto, "mesmo quando ele ainda não tinha nascido".

O tempo é curto para Martin, que enumera os passatempos e necessidades dos quais não consegue dar conta: "Não consigo namorar, nem fazer academia, jogar tênis, ler romances ou ir ao cinema", lamenta. Sócio do Clube Jangadeiros, possui um barco para praticar o hobbie preferido, velejar, embora seja visita rara no local. Suas férias são reduzidas a uma semana por ano, quando costuma planejar algum roteiro internacional, geralmente para a Europa. "Recentemente estive em Nova York, que eu ainda não conhecia." Um de seus planos é uma viagem pelo Oriente, em especial por países como China, Tailândia e Singapura. "Será um período sabático, pelo menos 40 dias", adianta. "Além disso, quero me casar novamente, ter mais filhos e ser valorizado no ofício de vender idéias."

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