Max Rathke: Amor e ódio pela Propaganda

Mesmo com mais de 20 anos de carreira, ele se sente como um iniciante e sempre acha que o melhor ainda está por vir

Max Rathke - Divulgação

Por cinco anos, o teatro fez seu coração bater. Max Alexandre Rathke foi ator dos 15 aos 20 - e chegou a ganhar o prêmio de melhor coadjuvante em um festival amador do Rio Grande do Sul, mas achou que a arte o faria "morrer de fome". Morando em um seminário luterano, em São Leopoldo, desde os 14, decidiu voltar para sua cidade natal, Santa Maria, e cursar Publicidade e Propaganda na universidade federal de lá. Filho do militar alemão Rui Pedro e da "dona de casa mais empreendedora da família", Miriam, ele é o primogênito de quatro filhos. A prole é seguida pela terapeuta ocupacional Liliam Cristie, a enfermeira Melissa Karen e o dentista Jonata. "Todos na área da saúde. Sou a ovelha negra", brinca o executivo do Sindicato das Agências de Propaganda do Estado (Sinapro-RS).

Prestes a completar 48 anos, Max se considera uma pessoa realizada, entendendo que, "se o ponto final da vida fosse hoje, morreria feliz". Por outro lado, a meta é viver até os 120 anos, especialmente porque seu mantra é pensar que o melhor sempre está por vir. Casado com a bibliotecária Sabrina, completam a família suas Maria's: a Maria Júlia, de quatro anos, e a Maria Flor, de um e meio. "Sempre sonhei, desde muito jovem, em encontrar minha princesa encantada e ser pai", recorda, completando que a paternidade é um exercício diário de paciência, mas garante que foi a melhor coisa que lhe aconteceu.

Formado em Publicidade e Propaganda em 1997, um pouco antes de concluir a graduação, Max veio a Porto Alegre para participar de um programa proporcionado pela Martins e Andrade, o Publicitário do Futuro. Como uma espécie de vestibular, eram 300 candidatos para realizar uma prova, que selecionaria 16 jovens acadêmicos. Na sua opinião, peculiar e muitas vezes ácida, como ele mesmo antecipa, o tal teste era bobo e isso o irritou. "Lembro que escrevi uma série de críticas, metendo o pau na iniciativa, mas eles devem ter gostado do que leram e pensado 'Quem é este maluco? Vamos chamá-lo'", brinca. E esta agência foi, então, a porta de entrada para o mercado na Capital - em Santa Maria chegou a trabalhar dois anos em uma produtora de vídeos.

"Sou esforçado"

Quem convive pouco, o encontra ocasionalmente ou vê de longe, enxerga um cara muito tranquilo, de bem com a vida, sempre disponível e sorridente. Acontece que Max também pode ser alguém bastante difícil de conviver, conforme ele mesmo. Se as opiniões para com os outros podem ser duras, consigo próprio é pior ainda. Autocrítica é uma das características mais marcantes e, sobre isso, logo dispara: "Não me acho um cara talentoso, mas sou esforçado, dedicado e me jogo de cabeça naquilo que faço. Sei que foi isso que garantiu todas as oportunidades que tive".

Bem, o fato é que todo esse esforço lhe rendeu seis anos de Martins e Andrade, lugar que considera ter sido sempre a sua casa, o seu lar.  Começando como estagiário, ele sempre atuou na área de Atendimento e, neste cargo, colaborou, por exemplo, com o primeiro comercial de celular no Rio Grande do Sul, bem na época em que a CRT havia sido privatizada. "Foi um filme gravado em Buenos Aires, com investimento altíssimo. Uma experiência incrível", lembra. A saída só se deu por conta de uma "superoportunidade", diz ele, visivelmente irônico. Foi ser diretor de Atendimento na extinta Overcom, mas seis meses foram suficientes para perceber que nenhuma promessa se cumpriria.

A experiência, apesar de quase traumática, deixou uma marca em seu currículo: uma campanha reconhecida com o Grand Prix no Salão da Propaganda para a STB Viagens. Foi um comercial que antecedia a estreia do filme de Che Guevara, sem que o cliente investisse um real sequer, tudo fora viabilizado de graça. "Isso foi por volta de 2003. Um feito que me abriu muitas portas", avalia. Entre elas, teve a SLM, onde trabalhou com pessoas muito talentosas e que se tratavam como família; a Competence por duas passagens, experiências estas que considera verdadeiras escolas; e ainda a Global, de onde guarda um visível carinho.

"Gosto muito da família Skowronsky. Eles sempre me deram carta branca para trabalhar", diz, referindo-se a Romualdo e aos filhos Alexandre e Daniel. Na agência do trio, Max ficou cerca de três anos atendendo à marca GM, uma das experiências mais intensas na carreira e a qual chama de grande case na trajetória profissional. Entre tantos feitos neste período, um dos mais significativos foi uma campanha produzida em uma semana: "Sem dúvidas, a coisa mais louca que já fiz. Nesse período, em sete dias, dormi o total de oito horas. Insano, mas algo inesquecível." Segundo ele, a ação 'Gaúcho, conte comigo!' não foi apenas uma campanha, mas um projeto completo e integrado de marca.

Do céu ao inferno (e vice-versa)

Quando encerrou a segunda passagem pela Competence, pensou em largar a Propaganda e "sei lá, plantar batatas ou criar galinhas", ou seja, qualquer coisa que não o ligasse ao mundo louco da Comunicação. Uma das justificativas do publicitário é que já não aguentava mais o tamanho do ego dos colegas - característica, aliás, que o incomoda até hoje. Ele entende que humildade é essencial, mas uma boa parte destes profissionais não conhece essa palavra. "Vem daí a minha relação de amor e ódio com este mercado", diz. Apesar da convicção, um colega estava há algum tempo o seduzindo para que abrissem a própria agência. Com medo e inseguro, Max resistiu algum tempo, mas acabou cedendo aos encantos da vida de empreendedor.

Foi quando criaram a Branco, que atendeu a contas como Rede Marista, Tramonto, Sympala, Factum, entre outras. Com o sócio-fundador ficou quatro anos, depois mais um tempo sozinho e, finalmente, uma fusão com a agência Wega. E dessa união surgiu a WBR, que durou pouco mais de um ano. "Foi um período muito legal e tenho o maior orgulho da nossa história", resume. No total, o sonho da empresa própria durou sete anos intensos e de muitas e muitas conquistas. "Digo que fechei a agência, mas esse é só um nome bonito pra dizer que quebramos", desabafa. Quando os tempos ficaram difíceis, preferiu passar a régua e realizar o prejuízo, conforme conta.

Ele chegou a entrar em depressão, passou um tempo atendendo a alguns clientes de casa e, mais uma vez, vieram as diversas dúvidas sobre continuar nesta área. Foi quando surgiu o convite de Fernando Silveira para integrar a equipe do Sinapro. O amigo, inclusive, é muito importante na carreira, por se tratar de alguém por quem Max nutre sentimentos como admiração e gratidão. Ele lembra, por exemplo, de um dos argumentos que o presidente do sindicato usou para o desafio: "Vem ajudar outras empresas a não passarem pelo que tu passaste". Deu certo. Dois anos e meio depois da depressão, hoje, além do Sinapro, participa de um projeto de aplicativo e também atua como mergulhador organizacional na empresa Confluência. O resumo do momento é que ele está vivendo uma fase de "renascimento profissional".

Além da Propaganda

Se têm aspectos valorizados por Max longe da profissão, estes são: família, amigos e religião. Não necessariamente nesta mesma ordem, de preferência, todos juntos. O apartamento no bairro Menino Deus é o lar do quarteto e onde gosta de passar o maior tempo possível. A vida social, aliás, acontece dentro de casa, já que recebe amigos com bastante frequência. E, nesses momentos, ele também comanda a cozinha com prazer. "Gosto disso porque sou esfomeado", brinca, comentando que cozinhar é uma declaração de amor. E o prato que mais gosta de fazer é massa com strogonoff. De preferência, que estas gastronomias estejam sempre acompanhadas de cerveja, a bebida que mais gosta - artesanal, ou não.

Bem-humorado, Max jura que só não se tornou gay por realmente não gostar de homem, mas lembra que conheceu Sabrina (por intermédio de amigos) em um momento que nem pensava mais em relacionamentos duradouros. Colorada fanática, a esposa é a parte mais carinhosa da família, pois a ele cabe o papel de mais durão com as filhas. Gremista, ele conta que tem esperança de "salvar" Maria Flor, uma vez que a mais velha - Maria Júlia - já torce para o mesmo time da mãe.

E por falar em esportes, o único que ele ainda pratica com mais frequência é bicicleta, mas nada de competições ou treinos, apenas o prazer de estar sob duas rodas. A prática, aliás, foi o meio de transporte para levar a primogênita para creche e rumar para o trabalho durante algum tempo. Com a chegada da caçula, ficou mais difícil. "A Sabrina é a minha parceira de vida, que foi decisiva no momento mais difícil para mim. Formar família é uma delícia! Essa é a prioridade da minha vida", resume.

O que lhe faz bem

Ao admitir que se acha um analfabeto musical, Max conta que gosta mesmo é do que está em evidência. No Spotify dele, é possível encontrar desde Aba, One Republic, Beatles, rock num geral, mas até sertanejo raiz e os primórdios do pagode, como Raça Negra. Além, é claro, de Fábio Jr, artista que foi prestigiar em todos os shows que já fez em Porto Alegre. A leitura também é um hábito que o acompanha desde jovem. No seminário, por exemplo, chegava a devorar um livro por semana, e 'Cem anos de solidão' foi uma obra angustiante, mas uma das mais marcantes na vida.

Quando o assunto é filmes, ele também se reporta à época que morava no internato, já que era capaz de ir ao cinema cinco vezes de sexta a domingo, mesmo que fosse para assistir a algo repetido. 'Rambo 2 - A missão' diz que deve ter visto mais de 30 vezes, sem exagerar. Praticamente, não há gênero do qual não goste, mas um dos melhores filmes para ele foi Avatar. E também é apaixonado pelas obras de super-heróis da Marvel. Aliás, desenhos também têm papel importante na infância do publicitário: colecionava gibis. "Nossa! Quando fechei minha agência e precisava de dinheiro, chorei um dia inteiro por ter que vender minha coleção", recorda ele, que também deu sequência à coleção de selos que seu pai começou, um tio continuou e hoje está com um primo.

Luterano desde criança, a fé evangélica está presente na vida dele e das filhas, que são criadas na sua congregação, com o respeito de Sabrina, que é católica. Fundamental para ele, a fé o define e tem convicção de ser alguém melhor por conta disso, ainda que não permita que a doutrina religiosa o faça cego. Nunca deu muito valor ao dinheiro, mas quer ter o suficiente para proporcionar conforto às suas três mulheres e poder viajar muito. Ainda que conheça bastante o Brasil, pouco viajou ao exterior, então, esta é uma das metas. Otimista e de bem com a vida, ele gosta mesmo é de gente, de estar em contato com as pessoas. Aliás, ainda que esteja mais próximo dos 50 anos, diz que se sente "um piá inexperiente", pois, mesmo percebendo a bagagem que tem, prefere pensar que o que passou, passou, afinal, o melhor sempre está por vir.

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