Milton Cardoso: Um jornalista multifacetado

De DJ no Rio de Janeiro, até angariador de doações para pessoas necessitadas, o comunicador é um homem de muitas vertentes

A foto que ilustra este texto não foi escolhida à toa. É que estar entre as crianças é uma das diversas facetas do jornalista Milton Cardoso. Ele, que é carioca de nascimento e que foi criado em São Leopoldo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, tem na solidariedade algo natural para a sua vida e faz questão de auxiliar na realização de mutirões de doações para os pequenos.

Obviamente, esta não é, nem de longe, a única característica dele, que, com o microfone na mão, transforma-se em um comunicador crítico e polêmico, estilo que escolheu seguir desde o início da carreira. O microfone, aliás, já fazia parte de sua vida antes mesmo de entrar no Jornalismo. Aos 19 anos, de volta ao Rio de Janeiro, embalava a vida noturna carioca como DJ na histórica Hippopotamus, boate na qual muitas celebridades já se acotovelaram em suas pistas de dança, sobretudo nas décadas de 1970 e 1980, quando viveu o auge.

Mas o que tira seu sono, mesmo, é o Jornalismo. Literalmente, porém em um bom sentido. É que de madrugada Milton liga a televisão para acompanhar diferentes emissoras, inclusive internacionais, atrás de informações para sempre deixar seu público bem atualizado. "Para mim, não tem sábado, domingo e nem gosto de tirar férias. Vivo 24 horas por dia para a minha profissão, pela qual sou apaixonado", diz.

Milton jornalista

A principal faceta de Milton, sem dúvida nenhuma, é aquela pela qual mais é conhecido: a de jornalista. Embora admire muito o ofício de médico, não se vê ganhando a vida em outra profissão. É formado pela Universidade de Brasília (UnB), no centro político do Brasil, o que não poderia ser diferente, uma vez que desde sempre teve ligação com a política, inspirado em Antônio Carlos Rosa Flores, ex-deputado estadual e federal, que faleceu no último ano.

Durante mais de uma década morou na Capital Federal, onde cobriu Planalto, Congresso Nacional e Senado. Durante esse tempo, passou pelos principais veículos brasileiros, como Estadão, Folha de São Paulo, O Globo, TV Manchete, entre outros. "Foi uma época muito rica, quando pude conviver com grandes nomes do Jornalismo, tais quais Alexandre Garcia, Augusto Nunes, Carlos Chagas, João Emílio Falcão, e muitos outros", reconhece, sobre o início de carreira.

Com muito amor pela profissão que escolheu, desde sempre foi daqueles jornalistas dedicados ao máximo, que ia para rua atrás de pautas, algo, inclusive, que vê como uma das principais mudanças do Jornalismo. "Venho de uma época em que o repórter não tinha as facilidades que tem hoje, como internet, celular. A gente tinha que ir atrás da matéria, das fontes. Atualmente, você fica dentro da redação e faz tudo", avalia.

De muitas andanças, também morou no Nordeste, onde passou por Aracaju, capital de Sergipe, e Porto Velho, capital de Rondônia. E foi apenas em 1990 que retornou ao Rio Grande do Sul, para fazer parte de um projeto da Editora Abril, que acabou não vingando. Logo depois, atuou por um ano no Correio do Povo e na rádio Guaíba, depois de ter seu trabalho admirado durante um período como freelancer para as eleições.

Foi aqui que se aproximou do então governador Alceu Collares, com quem mantém amizade até hoje. Com felicidade, pegou rapidamente o celular para mostrar a foto que tirou com o amigo no aniversário de 95 anos do político. "Recebi uma proposta para sair do Estado e ele me segurou aqui. Por indicação do Armando Burd, assumi a Comunicação da Secretaria da Fazenda e lá fiquei até o fim do governo", relembra.

Milton polêmico

Já no início da carreira, optou pelo estilo jornalístico que o caracteriza: ser crítico, polêmico e opinativo. No entanto, sabe que essa forma de atuação não o faz ser bem-visto por todos, mas não desiste de lutar por seus ideais - a família, a honestidade e o respeito com o dinheiro público. "Quem fala a verdade é odiado por muitos e paga um preço muito caro."

Ele, que se vê como alguém com mais defeitos do que virtudes, tem em mente que uma de suas principais qualidades é a busca constante pela verdade, a partir do jeito que se porta nos microfones. "As pessoas me dizem: 'Poxa, tenta ser mais sutil'. Mas não adianta, esse é o meu jeito de ser. Não gosto de agredir ninguém. Tenho um senso de autodefesa muito grande."

Por ser dessa forma, já foi muito criticado e sabe que continuará sendo, principalmente "enquanto o Brasil e a classe política continuarem existindo como existe hoje". Para ele, vive-se em um contexto de sonegação da verdade, inclusive dentro do Jornalismo, em que "90% do que sai na mídia e na imprensa não é o que o povo pensa. A opinião das pessoas não é colocada em primeiro lugar". De acordo com Milton, essa situação faz com que a profissão perca cada vez mais credibilidade.

Por isso que, para o jornalista, o YouTube vem ganhando cada vez mais força e é, conforme ele, onde estão os principais nomes da opinião no Brasil atualmente. Rapidamente, cita profissionais que admira por conta disso, como Ana Paula Henkel, Guilherme Fiuza e Rodrigo Constantino: "Gente com total credibilidade e que trabalha em cima dos fatos, porque Jornalismo é isso, falar a verdade".

E esse pensamento é que pautou seu trabalho, sobretudo nos últimos 17 anos em que esteve na rádio Bandeirantes, à frente do 'Repórter Bandeirantes'. Durante muito tempo, inclusive, foi líder de audiência no horário, ultrapassando até o esporte, "algo impressionante", segundo ele.

A trajetória no grupo de Comunicação, que começou a partir de uma oportunidade dada por Leonardo Meneghetti, findou-se ainda neste ano por decisão da emissora, um acontecimento que o marcou. "Foi uma grande decepção o que aconteceu", lamenta. Agora, leva o seu jeito polêmico para uma nova casa, a RDC TV, com a recente estreia do 'RDC Repórter'. "Eu estava resistindo em voltar para veículo de Comunicação, mas pelo projeto da empresa e pelo Márcio Irion e sua esposa Carolina, que são amigos, mais a presença do (Armando) Burd, do Claro Gilberto e do Carlos Augusto Gostinski, decidi aceitar o convite", detalha.

Milton musical

Quem vê Milton na televisão ou o escuta no rádio dificilmente imagina que o jornalista foi DJ em sua flor da idade no Rio de Janeiro. Para ele, aquela época foi o auge da sociedade brasileira. "Foi uma fase maravilhosa. Era a década de 1970, muito rica em termos de qualidade de vida, tínhamos uma segurança muito grande."

O trabalho na vida noturna carioca fez com que o então DJ conhecesse grandes personagens da música brasileira, como Cazuza e Renato Russo, com quem conviveu brevemente. Porém, a principal história foi com Tim Maia: "Um dia jantei na casa dele, uma feijoada feita por ele mesmo. Era um cara incrível".

Apesar de ter deixado de lado as atividades entre as pick-ups, a música continua, até hoje, presente em sua vida, sendo uma de suas paixões. Atualmente, tem aulas de piano, pois o violão já domina. "A música é meu chão."

Milton apaixonado

Como um homem de muitas facetas, Milton tem também diversas paixões. A principal delas, sem sombra de dúvidas, é Patrícia De Conto, a esposa, com quem compartilha as alegrias e as tristezas há 16 anos e não perde a oportunidade de elogiá-la. "Para mim, ela é fundamental, é uma pessoa fantástica em todos os aspectos. É alguém que me apoia nos momentos mais difíceis e nos melhores. Está sempre junto de mim", diz.

Além dela, também não deixa de citar os filhos Rui e Paulo, além de Estefânia e Vitor, enteados, a quem considera filhos do coração. O jornalista ainda tem o sogro, Ivo, como um pai. Apegado ao núcleo familiar, no dia a dia faz questão de passar um tempo com os familiares. Entre as atividades preferidas, estão as sessões de filmes com a esposa e o cunhado Antônio, tido como um irmão.

No dia a dia corrido, tomado pelo trabalho, sempre guarda um tempo para praticar corridas e assistir ao seu Grêmio. Mas uma coisa que não pode faltar no cotidiano é tirar um momento para brincar com os três golden retrievers Chiquita, Bud e Beckham - nome inspirado no astro inglês do futebol: "Sou enlouquecido por eles".

Aos 66 anos, tem a solidariedade como algo natural na vida e nem sabe dizer quando seu envolvimento com causas sociais começou. Não à toa, pelos 17 anos em que esteve na Band RS, usava o mesmo método de Ricardo Boechat, já falecido, jornalista que admira, ao dar no ar seu número de telefone pessoal, o que o fazia receber diversas ligações e mensagens de pessoas pedindo alguma ajuda.

Por isso tudo, é impossível descrever Milton por apenas uma característica. Ele é um jornalista multifacetado e sabe disso: "Tenho essas vertentes, sou crítico, polêmico e, ao mesmo tempo, muito emotivo e solidário".

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