Lurdete Ertel: Os indicadores da vida de Lurdete

Os cabelos loiros, a altura e o tipo físico já revelam e identificam suas origens

Os cabelos loiros, a altura e o tipo físico já revelam e identificam suas origens. De ascendência alemã, desde criança a jornalista Lurdete Inês Ertel foi sempre muito determinada nas suas escolhas e decisões. Hoje, aos 35 anos, ela destaca-se entre os principais e mais requisitados colunistas gaúchos, com a assinatura da coluna "Informe Econômico", de Zero Hora. Mas a ascensão profissional não veio por acaso, pois, registra esta santa-cruzense, "os êxitos são conseqüências da paixão pelo que se faz e resultado de muita dedicação". E isso foi o que não faltou para Lurdete, que já nos primeiros anos de escola gostava muito de escrever.

A escrita era uma forma de exercitar a língua portuguesa, já que até ser alfabetizada só falava alemão. "Sofri para aprender português. Como não conseguia me comunicar com as outras crianças, me enfiava na biblioteca e lia. Mesmo assim, até hoje, eu checo algumas palavras sistematicamente. A minha lógica lingüística é alemã", diz. Foi em sua cidade natal que iniciou a carreira jornalística. Com apenas 16 anos Lurdete começou a trabalhar no Riovale Jornal, logo após concluir o Ensino Médio. Desde então, já estava decidida a ser jornalista. Porém, como em 1985 ainda não existia o curso de Jornalismo na Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul, a atual UNISC, cursou Letras até o 7º semestre.

Um ano depois, foi convidada para atuar no outro jornal da cidade, a Gazeta de Santa Cruz. Ela era a única mulher em uma redação com 17 homens. "Eu era a mascote da redação", lembra. Durante os quase três anos de atuação na Gazeta, ela conheceu todo processo de um jornal e passou por todas as editorias. "Sempre fui muito curiosa. Seguidamente, ajudava na montagem e diagramação do jornal, que ainda era feita pelo processo de fotocomposição. Ali, foi a minha verdadeira escola", afirma a jornalista. O fato de ter realizado coberturas jornalísticas de diversos assuntos contribuiu muito para seu aprendizado e profissionalismo. "Eu era apenas uma menina e já tinha responsabilidades. Os editores depositaram muita confiança em mim. Aprendi muito, até porque era uma foca ainda, que não tinha nem curso superior."

Buscando os ideais

Em 1989, interrompeu o curso de Letras, saiu do jornal e decidiu vir sozinha à Capital para realizar o sonho de cursar Jornalismo. Ingressou na Fabico, da Ufrgs, e logo conseguiu uma vaga no setor de copydesk de Zero Hora, onde atuou durante um ano. Devido à falta de tempo para conciliar trabalho e faculdade, Lurdete tomou uma decisão corajosa e deixou o jornal para dedicar-se exclusivamente aos estudos. Em 1992, formou-se em Jornalismo e retornou à redação de ZH, desta vez para o setor de diagramação. Simultaneamente, através da Ufrgs, participou de uma seleção concorrendo a uma vaga na redação do jornal. O diretor de redação de ZH na época, Augusto Nunes, ao saber que a jornalista trabalhava ali, mas não como repórter, transferiu-a para a editoria de Economia onde, até 1995, desempenhou as funções de repórter e editora de Economia.

Logo, passou a atuar, juntamente com Fernando Eichenberg, o Dinho, na produção do 'Informe Especial', projeto que trazia, em duas páginas, as principais notícias de todas as áreas. Quando Marcelo Rech assumiu a direção de redação, em 1997, considerou-a para transformar um pequeno canto de página em uma coluna de notícias sobre a economia gaúcha, o "Informe Econômico". O desafio estava lançado: fazer com que o espaço não se tornasse reprodução de releases apenas para agradar clientes e terceiros. Lurdete conta que se incomodou muito até conseguir mostrar a verdadeira proposta e objetivo do 'Informe'. Como conseguiu? "Tudo se explica na boa relação com as fontes", diz.

Ao avaliar os bons resultados obtidos na trajetória profissional - já são 19 anos, sendo 12 de Zero Hora -, Lurdete salienta que sempre procurou ir atrás não só da pauta que recebia, mas sim de outras informações, mesmo sabendo que não eram adequadas para seu espaço. "Quando eu vou para uma entrevista não volto só com a notícia da pauta, venho com notas de bastidores e de outros enfoques do assunto. Se não é da minha área, repasso para outros colunistas". Hoje, mesmo sendo considerada uma "expert" em economia, ela admite se sentir ainda uma "estranha no ninho", o que a motiva a ter o dobro de zelo na hora de divulgar números e balanços. "Por outro lado, eu tento brincar um pouco com os números. Procuro escrever o tipo de economia como eu gostaria de ler. Não torná-la tão áspera e sisuda", destaca.

Low Profile

Quem a conhece pouco certamente se surpreende ao verificar que Lurdete é uma pessoa caseira e mantém uma vida social restrita. "Eu já fui mais boêmia, mas devido a alguns acontecimentos e à grande demanda de convites para eventos, resolvi dedicar um tempo só para mim". A jornalista diz que vive literalmente o jornalismo 24 horas por dia e que gosta de ficar em casa, pois é uma forma de desligar-se um pouco do mundo. Passa a maior parte do dia na redação de ZH, e nas horas de folga, aproveita para praticar os dois hobbies preferidos.

Com uma boa música ambiente - geralmente blues -, no seu apartamento, onde mora sozinha, ela faz o que chama de "terapias", a restauração de móveis antigos com pátina e a jardinagem. "Eu sou apaixonada por jardinagem, até porque convivi muito com isso na infância. Meus pais tinham uma floricultura", relembra. Outra surpresa: Lurdete pratica remo há mais de 10 anos. A atividade física está suspensa por enquanto, devido a um atropelamento que exigiu um tratamento de fisioterapia. Mas a intenção é retomar o esporte. A literatura também está presente em sua vida. Além de ser paixão, a leitura sempre foi um refúgio para suas angústias e dificuldades. As preferências são pelos clássicos, como obras do autor Fiodor Dostoievski. "Opto sempre por um clássico. Essas obras são leitura de prazer garantido", comenta. Gosta de viajar, mas destaca que sua "ponte aérea" agora está sendo Porto Alegre-Santa Cruz do Sul, para onde vai quase todos os fins de semana, visitar os familiares.

"Viva e deixe viver"

Não podia ser diferente. Algumas características tinham de ser herdadas das origens e tradições germânicas. A teimosia é uma delas, porém é considerada por Lurdete, dependendo do contexto, ora como defeito ora como qualidade. Ela explica que "essa obstinação" por algumas coisas já é uma marca de sua personalidade. "Ao mesmo tempo em que a minha teimosia atrapalha, ela ajuda a conquista de objetivos e êxitos", confessa.

Lurdete revela que entre seus planos de futuro estão o de realizar um curso de especialização, o que vai ao encontro também de seu outro grande projeto: lecionar. "Ensinar é o meu sonho de vida. Quero muito dar aulas na área de comunicação, fazendo um link com o curso de Letras, pelo qual já estava me encaminhando para ser professora", comenta. Como filosofia de vida, ela é enfática ao dizer: "Viva e deixe viver", salientando que a frase é parâmetro tanto para sua vida pessoal quanto profissional. "A filosofia é muito válida no sentido de que cada um deve cuidar de sua vida e respeitar a dos outros. Pelo menos comigo, isso sempre dá certo", destaca ela.

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