Rogério Caldana: Meu negócio é TV

Ele já viu o nascimento de muitas emissoras de rádio e tevê. Hoje, se dedica a um restaurante e à direção da TVE. Assim é Rogério Caldana: autodidata da comunicação e profissional sempre em busca de desafios.

Rogério caldana - Reprodução

Nascido em Porto Alegre, a 26 de agosto de 1947, Rogério Caldana é um autodidata da comunicação. Desde criança, ficava sempre ligado no rádio ou na televisão e sabia os nomes de todos os atores e apresentadores. Aos 17 anos, garantiu seu primeiro emprego numa emissora. Começou como contínuo da Rádio Difusora (hoje, Bandeirantes) e, por falta de recursos e de pessoal na empresa, teve a oportunidade de atuar em diversas áreas da rádio, na qual permaneceu por quatro anos. Após esse período, ficou por um bom tempo trabalhando com administração de condomínios, no banco Auxiliadora Predial. Seu pai acreditava que Rogério estava "feito na vida" com esse emprego, mas ele queria mais ? e o que ele queria estava na área de mídia.

O amigo Otávio Gadret, até então dono de uma pequena agência de publicidade, comprou a Rádio Caiçara, em 1970, e convidou Rogério para assumir o setor administrativo-financeiro. Sob os protestos do pai, ele aceitou. "Eu vi o surgimento da Rede Pampa. Passei 14 anos lá e presenciei momentos excelentes e também alguns muito tristes", recorda. No início, os contatos com clientes e anunciantes tinham que ser feitos de ônibus, pois não havia recursos, mas logo a Caiçara se tornou líder de audiência e ficou famosa pelo slogan Onde a música não pára. Em seguida, veio a rádio Pampa ? que duelava com a Continental pela preferência do público ?, a Eldorado, a Universal, as emissoras do interior e uma em Florianópolis.

Em 1982, foi a vez da TV Pampa. "Era um projeto incrível, com programação independente e muitos filmes. Depois da cassação da TV Piratini, a Pampa passou a transmitir o Programa Sílvio Santos aos domingos, que era um sucesso", conta. Foi justamente a saída dessa atração da grade da emissora que gerou uma grave crise na empresa. Sílvio Santos ganhara uma concessão para operar em Porto Alegre e os recursos atraídos pelo programa foram junto com ele para o canal 5. Foi então que a Pampa se tornou a primeira afiliada de uma nova rede, a Manchete, no final de 1983. "Foi um momento muito importante para a Pampa, pois a Manchete tinha uma proposta inovadora, de muita qualidade", diz.

Na RBS, no RS e em SC

Em 1985, surgiu o convite de Nelson Sirotsky para ser diretor da Rede Regional de Televisão, que reunia as emissoras da RBS no interior do Estado. "O objetivo era dar continuidade a um trabalho do Seu Maurício, que ainda estava vivo, de integrar as comunidades do interior com a capital, porque a TV Gaúcha, em Porto Alegre, tinha uma gestão diferenciada das demais. A partir daí, começamos a trazer caravanas de empresários de outras cidades para conhecer as instalações da TV e levar os programas para o interior, como acontece até hoje com o Jornal do Almoço ou o Galpão Crioulo", explica. Durante os três anos em que permaneceu na atividade, teve a chance de viajar bastante, conhecendo todo o Estado. Depois disso, acompanhou Pedro Sirotsky a Santa Catarina. Lá, recebeu a mesma incumbência: integrar as quatro emissoras catarinenses da RBS.

Caldana dirigiu as operações em TV do grupo, em Santa Catarina, até 1990, quando voltou para a Pampa. "A minha mulher também não queria mais morar em Floripa", recorda. Dessa vez, foram apenas 11 meses na empresa. Em seguida, retornou para a RBS, onde ficou responsável pela comercialização nacional da rede até 1992. Nesse ano, o grupo lhe delegou uma missão: assumir a direção-comercial do Diário Catarinense, que passava por dificuldades. "Encarei como um desafio, mesmo, porque meu negócio era TV. E de todos os desafios da minha vida, esse foi o mais rico em aprendizado. Foi maravilhoso, pois atingimos as metas de vendas, fomos vencedores", avalia.

Embora satisfeito com os resultados no jornal, ele queria voltar para a TV, então assumiu a direção das emissoras catarinenses, cargo que ocupou de 1995 a 1998. Nesse período, agregou mais uma emissora à rede, a TV Eldorado, de Criciúma. "Era um sonho antigo ter um canal no sul do Estado", conta. Ele também participou dos projetos do Estúdio Santa Catarina, que deu origem ao Teledomingo na TV gaúcha, e do Santa Catarina: Um Século de História, que permaneceu três anos no ar. No Rio Grande do Sul, o projeto foi adotado e durou um ano e meio. Depois, assumiu também as emissoras gaúchas e passou a atuar em Porto Alegre. "A proposta era integrar as emissoras dos dois estados, assim como havia feito em cada um, separadamente. Mas não deu para fazer. Era muito difícil, em função das diferenças nas estruturas e suas respectivas lideranças", fala.

Os buracos da Via Dutra

No final de 2002, Roberto Buzzoni, da Rede Globo, começou a sondá-lo para um novo projeto, que instalaria em São Paulo, com seu sócio José Bonifácio, o Boni. Em janeiro de 2003, decidiu aceitar o convite e participar de todo o processo de instalação da TV Vanguarda, afiliada da Globo na região de São José dos Campos/SP, em Taubaté. Boni e Buzzoni queriam que a Vanguarda seguisse o modelo da RBS: "A RBS é exemplo de TV regional. Tenho minhas divergências com a empresa, mas isso é inegável". Foi um grande desafio. Além de ter que optar por deixar a RBS, sua família não quis mudar-se para o interior paulista, o que forçou Rogério a viver na ponte-aérea e na Via Dutra. "Conheço todos os buracos daquela estrada", brinca. Mas ele acredita que valeu a pena. A rede cobria 46 cidades e a integração entre elas, objetivo principal do projeto, ocorreu: "Tinha muita cultura, educação e turismo".

Ainda assim, cansou de viver entre Taubaté e Porto Alegre e, em maio de 2004, voltou para sua cidade-natal. Queria descansar, então se deu 90 dias de férias e resolveu seguir o conselho do amigo Beto Barreiro, abrindo um restaurante especializado em ostras, o Oysterbox, no Moinhos de Vento. "Fiquei curtindo minha vida de dono de restaurante por um tempo", conta. Até que, em maio deste ano, recebeu o convite de Celito De Granti, coordenador de comunicação social do Rio Grande do Sul, para assumir a presidência da TVE. "A emissora cobre 65% do território gaúcho, então é um desafio legal, que espero que não seja o último. Estou encarando como um job de um ano e meio, porque o governo já acaba no final de 2006?, pondera.

Dificuldades superáveis

Há apenas um mês à frente da estatal, Caldana já sabe quais são as maiores dificuldades que vai enfrentar: a falta de recursos e a burocracia. "A falta de recursos se dribla com criatividade, que é o que vai nortear nosso trabalho. O mais complicado é a burocracia. TV requer agilidade, as coisas mudam em segundos, mas num governo, é tratada como qualquer outro órgão", diz. O profissional destaca a qualidade do que é produzido pelo canal: "Um terço da produção é local e muitos de nossos programas são exibidos nacionalmente. O infantil Pandorga já recebeu diversos prêmios e temos planos para que o Radar saia dos estúdios. O parque técnico é muito bom e há bastante flexibilidade para se criar".

Com a nova função e a administração de seu restaurante, Rogério ficou com pouco tempo para seus hobbies: cinema, jantares com amigos, baixar músicas na internet. Ele diz que não tem um estilo musical preferido: "Gosto de música boa. Música não tem pátria". Viajar duas vezes por ano para o exterior é um prazer do qual não abre mão. No meio do ano, vai acompanhado de sua mulher, Isabel, com quem é casado há 18 anos, e nas férias de verão viajam junto com o filho, Roberto, de 13 anos. Dos passeios que já fizeram, ele destaca a viagem para Nova Zelândia e Austrália, em 1989, "quando ainda não era moda ir para lá".

Sua única mágoa é não ter tido a oportunidade de concluir uma faculdade. Chegou a iniciar o curso de Comunicação Social na Unisinos, na década de 1970, mas teve que abandonar por causa do trabalho. Na época, já estava na área, mas admite que um currículo acadêmico faz falta, embora se considere um autodidata em TV e saiba que há certas coisas que nenhuma universidade ensina. "Gostaria de ter me dedicado a uma vida escolar, mas o mais importante da carreira é não ter medo de desafios nem escolher atividades. Não gostava de jornal, preferia vídeo, mas a RBS me deu essa missão e foi uma grande oportunidade", cita como exemplo, deixando uma dica valiosa para quem quer seguir nessa carreira.

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