Rogério Cucchiarelli: Vender e vencer

Atuar com TV, rádio, jornal e revista deu ao executivo a base necessária para consolidar sua própria representação comercial

Por Márcia Farias
Rogério Cucchiarelli, 54 anos, é um executivo movido a desafios, que fala da trajetória profissional com muita naturalidade. Durante quase duas horas de conversa, o tom de voz se mantém sempre sereno com algumas pausas para puxar datas e fatos da memória. Representante comercial, nunca fez outra coisa a não ser vender. Os 35 anos de carreira proporcionaram momentos inesquecíveis, tanto nas atuações em veículos e nas parcerias com agências de publicidade, quanto do outro lado do balcão, representando marcas como Sony, Disney e TAM. "Trabalhar em grandes empresas e atender a grandes marcas faz com que a gente não se acostume com coisas pequenas", reflete, para em seguida ponderar que o privilégio sempre vem acompanhado de responsabilidades muito maiores do que o glamour.
O motivo foi apenas a necessidade de começar a trabalhar, a oportunidade foi o que levou Rogério para a Comunicação. Era garoto de 17 anos quando teve seu primeiro emprego na Rede Riograndense de Emissoras e a rádio Eldorado foi o primeiro desafio na venda de anúncios. "De lá para cá, nunca mais parei", recorda, garantindo que, mesmo sem ter experiências em outras áreas, "gosta do que faz e se dedica muito a isso. Ter a oportunidade de colocar em prática tudo que adquiriu na carreira é o mais compensador, segundo ele. "Estou mais maduro, mais experiente, isso é muito bom profissionalmente."
Passo a Passo
Com passagens rápidas pela Capital FM e pela Farroupilha, do Grupo RBS, a primeira grande cartada da vida profissional se deu na Gaúcha, quando a emissora estava em pleno crescimento de audiência, no final da década de 1980. "Foi lá que aprendi a trabalhar", resume, destacando que conviver com profissionais de alta qualidade - como Flávio Alcaraz Gomes, Armindo Antônio Ranzolin e Ricardo Gentilini - também foi decisivo para sua carreira. A experiência durou quase uma década.
Em busca de novidades, queria conhecer como era atuar em televisão, o que o levou a aceitar uma proposta da TV Bandeirantes. O período de cerca de seis anos vivido ali é caracterizado como "muito interessante" e o resultado de muito trabalho, conta, foi assumir a diretoria comercial da emissora. Mais um convite chegou e Rogério não pensou em recusar: era o lançamento da TVCom, de volta ao Grupo RBS. Missão cumprida, o próximo passo foi a RBS TV, onde atuou como gerente comercial, no final dos anos 1990.
O Rio Grande do Sul estava pequeno e a chance de trabalhar em São Paulo o encheu de entusiasmo. Já no início deste século 21, o desafio era aumentar a receita da RBS, filiada à Rede Globo, em clientes nacionais, atendendo a marcas como MC Donald´s e C&A, além de vender eventos. A venda de uma cota de patrocínio do Planeta Atlântida para o Zaz (hoje, Terra) e outra para o Grupo Sadia foi, sem dúvida, uma vitória. O feito, que o fez superar qualquer meta proposta, é encarado como o grande momento da carreira. Foi também na capital paulista que aprendeu a trabalhar com jornal impresso, mídia com a qual nunca havia atuado.
Três anos foram suficientes para a saudade bater. Começou a crescer a vontade de retornar para sua terra, onde a família ficou. "Neste período, fiquei no vai e vem e foi difícil sustentar essa situação familiar", registra. Para sua sorte, a Bandeirantes surgiu novamente com uma proposta financeira atraente e, com ela, a possibilidade de voltar. "Afetivamente mexeu comigo." De volta ao solo gaúcho e à Band, em seguida veio a Pampa, segundo ele, uma oportunidade de "trabalhar com amigos".
A vida de empresário
Os primeiros contatos da Rede TV! com a emissora de Otávio Gadret foram responsáveis pela "mudança de lado" de Rogério. Os amigos feitos em São Paulo queriam ser atendidos por ele e a ideia fez com que o executivo abrisse seu próprio negócio, a Cucchiarelli Representações Publicitárias. Foram cinco anos trabalhando sozinho e em casa. "Foi uma luta, pois saí das gerências comerciais e passei a ser representante. Expandir o meu negócio foi um desafio diário", orgulha-se. Decidido a crescer, o segundo cliente foi a Disney Brasil - um divisor de águas, segundo ele - e, em seguida, veio o canal ESPN. A chegada de novos clientes aconteceu de forma natural, como com a TAM, que deu a Rogério a chance de ingressar no meio de revista.
Ter trabalhado tanto tempo em casa o fez adquirir alguns hábitos, como acordar muito cedo para ir à academia. "Incluí esta prática na minha vida quando percebi que não encontro ninguém do mercado de trabalho antes das 9h", brinca. Mesmo com os exercícios matinais, o executivo faz questão de chegar no escritório às 8h30. Pontualidade, aliás, é uma das suas principais características. Sem hora para sair? Nem pensar. Ele se esforça para encerrar o expediente, no máximo, às 19h30, pois entende que não pode ficar refém dos seus clientes.
'Uma andorinha só não faz verão'. Este é o único lema de alguém que acredita muito no trabalho em equipe. Mesmo admitindo que os negócios vão bem e, hoje, contando com uma boa turma ao seu lado, Rogério ainda não se considera um profissional realizado: "Quero trabalhar mais uns 15 anos, e tenho certeza que serão os melhores da minha vida. Quero ver a minha empresa forte, crescendo mais", garante. Mas adverte: "Não muito mais, pois prefiro uma carteira de clientes qualificados a me importar com a quantidade deles".
Os laços eternos
Filho do comerciante e corredor de carro Gabriel, e da funcionária pública Doraci, Rogério guarda dos pais a saudade e forte lembrança da presença deles durante a infância e a juventude. Aos 23, perdeu a mãe, que sofreu com complicações pós-cirúrgicas, e dois anos depois, o pai foi vítima de um ataque cardíaco fulminante. Para falar dos irmãos, ele brinca: "Sou o recheio do sanduíche", para explicar que é o irmão do meio do também representante comercial Gabriel Filho e de Graziela, professora da Ulbra, em Torres.
Casado há 32 anos com Maria do Carmo, "a mulher do dinheiro", como brinca o executivo ao revelar que ela é responsável pelo setor financeiro da empresa. Diz que tinha muita razão a amiga que aos apresentou dizendo qualquer coisa como "acho que vocês dois têm tudo a ver um com o outro". As mais de três décadas deram ao casal três filhos, que já voaram para longe: Daniela, de 31 anos, formada em Cinema e TV, atua em São Paulo; Marcelo, 30, cursa Turismo em Santa Catarina; e Mariana, 27, seguiu os passos da primogênita e atua com a irmã na capital paulista. A falta da prole é compensada no Gordo, um cachorro da raça Pooddle.
Quem é o Rogério?
Ele se considera tímido e a característica é provada quanto diz: "Sou um guitarrista frustrado". Apesar de ter sua guitarra em casa e uma coleção de CDs e DVDs, só toca o instrumento para si mesmo, não se arrisca nem para os amigos mais chegados. Música, aliás, divide a lista de preferências com o cinema. Encontrá-lo em um sábado à tarde é fácil, basta ir numa livraria ou numa loja de CDs. "Estou sempre procurando novidades e, mais do que isso, encontrando raridades. Gosto do rock clássico", especifica. Mas isso só acontece depois de assistir a algum filme e, se for preciso, vai ao cinema até mesmo sozinho.
Sempre gostou de esportes e, além da musculação, adotou a corrida como prática preferida. Gosta tanto que, ao viajar, procura hotéis que tenham academias e leva o tênis para onde for. "Sempre procuro um tempo para isso. É o que me desopila." Na gastronomia, adotou alguns costumes. Segundo uma das filhas, ele já é quase um budista, pois parou de beber e está prestes a virar vegetariano. Só não ousou chegar a este estágio porque sabe que precisa das proteínas e dos carboidratos para continuar com suas corridas.
Gremista roxo é como se considera ao explicitar a paixão pelo tricolor gaúcho. A cor inclusive é predominante no visual, no qual até o relógio desponta com um azul discreto. Apesar de acompanhar todos os jogos, prefere fazê-lo de casa, pois não tem mais paciência para muitas multidões. "Sempre trabalhei muito e a minha vida foi corrida. Agora, estou em um momento mais zen e a única meta é buscar um final feliz para minha vida."
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