Equidade de gênero: um mundo melhor, pra mim e pra você

Por Por Clarissa Daroit, para Tendências - Especial Diversidade

Estamos em pleno 2024 e perseguir a equidade de gênero segue sendo atual e uma prioridade a ser tratada, sobretudo no mercado de trabalho. No entanto, há quem diga que essa pauta já está ultrapassada, que precisamos olhar além, pois os desafios já foram superados ou minimamente encaminhados. Eu mesma, ao longo dos quase 20 anos atuando com gestão de pessoas e, nos últimos dois, focada em diversidade, equidade e inclusão, escuto esse tipo de contestação, que normalmente é vocalizada por pessoas privilegiadas.

Em contrapartida, também há quem esteja no estágio "inconsciente/incompetente ou consciente/incompetente" da matriz de expansão de consciência em relação à pauta, ou seja, não sabe que deveria estar se movimentando para promover a paridade de gênero ou, então, sabe que já é tempo de iniciar a caminhada, mas não sabe por onde começar. A verdade é que, idealmente, seria importante que a maior parte da população tivesse conhecimento e consciência do contexto em que vivemos e do impacto que geramos com as nossas ações, seja desde as nossas relações mais próximas e íntimas até o nosso papel no trabalho e na sociedade como um todo.

Não vou me apegar a trazer muitos dados aqui, mas destaco alguns poucos, porém relevantes, sobre as mulheres: 1. de acordo com IBGE/PNAD (2019), somos a maior parte da população brasileira (51,8%); 2. representamos 46,5% das pessoas economicamente ativas no Brasil (IBGE/PNAD, 2010); 3. apenas 38% dos cargos de liderança do país são ocupados por mulheres (Woman in Business 2022); 4. recebemos cerca de 20% menos que os homens, mesmo comparando profissionais do mesmo perfil de escolaridade e idade e na mesma categoria de ocupação; 5. conforme o Fórum Econômico Mundial, precisaremos de 268 anos para atingir a paridade de gênero no mundo.

É evidente que as organizações precisam agir desde já, com intencionalidade, orientadas por compromissos públicos, a exemplo do Pacto Global e dos Princípios do Empoderamento Feminino da ONU Mulheres, cujos quais fornecem conhecimento, ferramentas e caminhos possíveis e consistentes para transformar a realidade do micro e do macrocontexto. Perfeito! Mas que tal agora também refletirmos a respeito do nível de influência que cada um e cada uma de nós exercem na perpetuação - ou transformação - do contexto exposto de forma breve anteriormente? Então, este é o principal convite que eu gostaria de fazer a vocês. 

Imagine ampliar sua percepção da realidade, agindo com mais curiosidade e empatia, educando-se ou, então, escutando, genuinamente, sobre os desafios e as barreiras que as mulheres à sua volta encaram diariamente. Considere também o peso que a interseccionalidade agrega ao contexto. Exemplo: em 2019, de acordo com o IPEA, a taxa de homicídios de mulheres negras no Brasil foi 71% maior do que a de mulheres brancas. Resumindo, o fato de ser mulher já é um desafio, mas se a mulher ainda for negra, mãe, LGBTQI+, com deficiência e/ou 50+, o fardo se torna ainda mais pesado.

E como podemos contribuir para a transformação dessa realidade no nosso dia a dia? Lanço proposições: que tal adotarmos o respeito, o reconhecimento e a valorização como inegociáveis nas nossas relações? E se sempre nos posicionarmos frente a "piadas" e atitudes preconceituosas? E se nos questionarmos a respeito da forma que estamos criando as nossas: estaríamos reforçando estereótipos de gênero? 

Que tal avaliarmos se praticamos a inclusão e equidade no ambiente de trabalho: eu valorizo as ideias das mulheres da mesma forma que a dos homens? Eu priorizo que uma reunião de alinhamento estratégico ou tomada de decisão aconteça dentro do expediente de trabalho, garantindo que a minha colega, ou liderada, que recém retornou da licença- maternidade, possa tranquilamente ir ao encontro da sua cria, sem ter o receio de que perderá informação e - o mais importante - espaço na mesa, tendo sua carreira prejudicada por isso?

Que adotemos o respeito e a empatia como valores inegociáveis em prol de um mundo melhor, mais justo e próspero para todas as pessoas. E como já dizia Simone de Beauvoir: "É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta". 

Façamos a nossa parte. Façamos a diferença!

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