Árduo e incrível

Por Márcia Christofoli, para Coletiva.net

Completar 22 anos não é o que chamamos de número 'redondo', mas nem por isso deixaremos de comemorar. Junto dessas mais de duas décadas, particularmente, celebro 12 anos atuando no portal, dos quais cinco na sua direção. Aniversários às vezes são nostálgicos, especialmente quando vivemos tempos tão atípicos e o pano de fundo desta data - assim como foi a última - é a pandemia, o isolamento, a quarentena sem fim, o home office como modelo de negócio. 

Então, ao olhar para trás, penso que, sim, é preciso comemorar. Celebrar onde chegamos e também para onde queremos ir. Registrar para a posteridade o quão árduo é incrível foi o caminho até aqui. Mas tentarei não ser repetitiva, pois a maioria já conhece a trajetória desta que começou estagiária e hoje comanda o portal. Neste momento, o que realmente mexe com o coração de quem completa 22 anos hoje, 26 de abril, são os últimos cinco aniversários.

Dizer que o caminho foi árduo me faz lembrar de duas situações tensas - além, é claro, daqueles famosos 90 primeiros dias, os quais são, "cientificamente comprovados", os mais difíceis. Antes de contá-las, vale lembrar que Coletiva.net tem ótimas e históricas relações com as entidades que representam as múltiplas áreas da Comunicação. Afinal, são muitas e todas com papéis extremamente importantes aos profissionais por elas representados.

Certa vez, publicamos uma matéria que desagradou um dirigente. Ele me ligou no celular, pois tínhamos boas relações até aquele momento. Pediu uma alteração, mas me certifiquei de que nada havia de errado no texto original e que o pedido era dispensável. Não gostou. Começou a alterar o tom da voz e eu avisei que, caso a conversa continuasse naquele rumo, eu a encerraria. Foi quando ouvi a pérola: "Qual é o problema de alterar? Poxa, tu tens um veículo pequeno!". Já também bastante irritada, questionei, então, o motivo de tanta preocupação com o que publicamos, já que se tratava de um veículo tão impotente para ele. Recebi como resposta a interrupção da ligação por parte dele, o famoso "desligou na minha cara", trocando para um português mais claro. 

Em outra ocasião, outro dirigente, de outra entidade, também se incomodou com uma publicação. Soubemos do seu desgosto pois o mesmo fez questão de ligar para redação e falar com a repórter que o tinha entrevistado. Minutos depois, a cena começou a me desconfortar: a jornalista começava uma frase e não conseguia terminar por interrupções do outro lado da linha e o rosto ficava cada vez mais vermelho. Incomodada, pedi que me passasse a ligação para poder ajudar. Já havia me certificado de que não havia erros ou inverdades na matéria, mas o interlocutor continuava alterado, sem me dar a chance de falar direito. Após a tentativa frustrada de conversa, questionei: "Gostaria muito de saber se o tom dessa ligação seria o mesmo caso desse lado de cá falasse um homem mais velho - e não uma mulher e jovem". Ofendidíssimo, não respondeu. Pedi, então, que tal solicitação fosse feita por email, com todos os argumentos, tom e insultos proferidos e que as próximas entrevistas seguissem o mesmo caminho. Nunca recebi o tal email e as entrevistas futuras tampouco puderam ser feitas.

Não gosto de brigas, especialmente com fontes, elas me fazem mal, embrulham o estômago e acabam com o meu dia. O que as duas situações acima têm em comum é o fato de eu ter algumas convicções das quais não abro mão, como é o caso do jornalismo sério que pratico desde que assim fui ensinada (obrigada, Vieira!), e também da postura de bons relacionamentos mas firmeza nas decisões (obrigada, pai!).

A parte mais legal desses últimos cinco anos é quando se trata da palavra incrível. Logo nos primeiros meses do meu retorno, "gastamos sola de sapato", batendo na porta do mercado para nos apresentar, falar do nosso projeto e mostrar que a nova gestão tinha uma cara. Posso contar nos dedos (talvez de uma mão só) as visitas que não conseguimos realizar, mas não tenho memória (e olha que a minha funciona muito bem!) para contabilizar as portas que se abriram. O que eu já sabia se confirmava a cada reunião, às vezes cinco no mesmo dia: eu tinha nas mãos um canhão de credibilidade.

Não faz muito que recebi um áudio de uma empreendedora da Comunicação, agradecendo por todo apoio que sempre demos e ela e seu negócio, e confidenciando que, após uma das nossas publicações, foram diversos contatos feitos e até mesmo contratos fechados, que fizeram questão de dizer que souberam pelo portal. Não são raras as mensagens recebidas pela equipe elogiando o conteúdo, sendo gratos e detalhando os benefícios que surgiram após matérias postadas. 

Ok, ok, "sou de Humanas" e não me relaciono muito bem com números, mas "contra fatos não há argumentos". E, por incrível que pareça, são eles que me garantem estarmos no caminho certo, dando a nossa cara, cumprindo com a promessa que fiz aos fundadores, de manter a linha editorial e a seriedade do veículo. Em 2020, foram mais de 5 milhões de acessos no ano (há cinco anos, 2016 encerrava com 1,5 milhão); diariamente, são cerca de 30 conteúdos inéditos que vão ao ar; somos cinco jornalistas dedicados exclusivamente ao portal, mais quatro que trabalham em projetos especiais, uma publicitária cuidando da comunicação institucional, além de outros três profissionais em outras áreas. 

Além dos números, posso dizer que maiores do que eles, são as pessoas. Uma equipe engajada, fornecedores comprometidos, parceiros orgulhosos de trabalhar conosco, colunistas responsáveis por histórias fascinantes, profissionais interessados em compartilhar opiniões, fontes que entendem cada vez mais o nosso papel. É um aniversário mais "comum" pelo seu número? Sim. Diferente mais uma vez da pandemia? Também. Mas é uma data que merece todas as nossas comemorações. Afinal, o caminho foi árduo, mas igualmente incrível.

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