As belezas e os terrores de ser mulher empreendedora
De Fátima Torri, para o Coletiva.net

Empreender é, antes de tudo, suportar os próprios erros. É um caminho de solidão, um espaço sem pai , nem mãe ou patrões a quem culpar.
Para a mulher, isso significa dividir o corpo em dois cenários: o jurídico, o do CNPJ, que exige uma presença estética impecável, beleza padrão, vestimentas adequadas e um comportamento que se coadune com as expectativas do mercado e, muitas vezes, demonstrar que não sabe um monte de coisa, para não ferir o ambiente.
E o físico, que pertence à vida privada, onde se lida com as oscilações da TPM - para que não se demonstre "loucura", afinal, o mercado não aguenta os surtos causados pelas descargas hormonais mensais. Esse corpo, o do CPF, engravida, amamenta, cuida das crianças, ensina a caminhar, leva os pequenos à escola, ao médico - e, se for mãe atípica, o quesito "médicos" se amplia em proporções oceânicas. Em paralelo, ela gerencia uma casa que demanda roupas limpas, alimentação preparada, camas arrumadas e outras inúmeras tarefas que o lar exige. Posso chutar em mais de 100 tarefas.
Além desses, há ainda um terceiro corpo: o social, que se relaciona amorosamente. Nesse campo, não pode haver sinais de estresse, sobrepeso ou o rótulo de mãe, e espera-se a eterna juventude - uma aparência de 28 anos e uma mente de 20, no máximo.
Unir esses mundos é algo que, dizem, só uma mulher consegue fazer, pois ela é, por natureza, multifacetada. Embora pareça fantástico, esse realismo cru revela a complexidade e, ao mesmo tempo, a beleza de empreender.
As belezas de empreender residem justamente nessa capacidade única de transformar desafios em oportunidades. É na arte de conciliar essas diversas dimensões - profissional, pessoal e social - que a mulher empreendedora se reinventa a cada dia, mostrando que, mesmo diante das adversidades, é possível criar um caminho de resistência, criatividade e superação. Em cada conquista, há a celebração de uma força que transcende as limitações impostas e reescreve, com autenticidade e paixão, as regras de um jogo que, muitas vezes, parecia predeterminado.
Fátima Torri é comunicadora e criadora da FTcom, da Fala Feminina e mãe de dois filhos.