O ColdPlayGate é um alerta para todas as empresas

De Fabiane Madeira, para o Coletiva.net

Fabiane Madeira é consultora de reputação, prevenção e gestão de crises. - Crédito: Arquivo Pessoal

Há muito tempo as fronteiras entre as nossas vidas pessoal e profissional caíram por terra. O que fazemos fora do horário de trabalho ou da sede da empresa conta tanto - ou até mais - do que nossos atos e palavras no escritório. É isso que estamos vendo com o que estão chamando de ColdPlayGate, uma crise criada pelo flagra da câmera do beijo durante um show da banda em Boston. O que seria, aparentemente, um casal de namorados, é na verdade dois executivos da empresa de tecnologia Astronomer, colegas de trabalho. Ele, o CEO Andy Byron, casado; ela, é a diretora de RH, Kristin Cabot.

A internet, claro, tratou de julgá-los e a situação ganhou o mundo, colocando a Astronomer numa situação extremamente delicada, gerando uma crise de imagem desnecessária e afetando a sua reputação corporativa. Fui pesquisar sobre a empresa e ela é fornecedora de uma plataforma que se diz "líder do setor de orquestração e observabilidade de dados". Em seu site, foca em valores como transparência e confiabilidade e ostenta uma carteira de mais de 80 mil clientes como Uber, Linkedin, Ford, Apple e outras gigantes mundo afora. E mais: recebeu aportes de instituições de alto renome como JP Morgan, SalesForce, entre outras.

 Mas por que o flagra se reflete na reputação da empresa? Porque as lideranças são as guardiãs da cultura empresarial e, por consequência, da reputação. No caso da Astronomer, houve, aparentemente, um claro descompasso entre os valores comunicados pela empresa e a conduta de dois de seus líderes. O ColdPlayGate colocou em dúvida valores como integridade e respeito.

Se a empresa for conivente com isso, é fácil entender que ela de certa forma referenda a postura dos executivos. Há uma espécie de licença para o erro. Como confiar dados sigilosos a uma empresa como essa? Como trabalhar com gestores expostos dessa forma? O impacto vai desde a manutenção dos clientes, até atração de investidores e de talentos.

Prever e preparar-se para o erro

Situações como essa certamente não estarão previstas na matriz de riscos de uma empresa. Ninguém poderia (mas deveria) imaginar que uma câmera iria expor publicamente o CEO num (ao que tudo indica) caso de adultério. Por outro lado, o estilo de vida dos gestores precisa estar mapeado. A Meta, por exemplo, há anos coloca na sua lista de riscos corporativos o apetite de Mark Zuckerberg por esportes de aventura. Qualquer acidente em que ele se envolver poderá impactar diretamente a empresa. E isso precisa ser previsto, tratado e a resposta planejada.

Por  outro lado, é urgente educar os executivos (especialmente os novos) para que entendam como suas posturas pessoais podem prejudicar os negócios. Internet, áudios vazados, comportamentos... são inúmeras as possibilidades de um simples ato se transformar em uma crise corporativa. Explicar aos executivos as suas responsabilidades dentro e fora da empresa, os impactos dos seus atos e lembrá-los que vida privada não existe mais nos moldes de antigamente, é a primeira estratégia de prevenção de situações como essas.

Fabiane Madeira é consultora de reputação, prevenção e gestão de crises.

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