Quando a mentira derrota a reputação: lições do Spaten Fight Night
Por Giovani Gafforelli, para Coletiva.net

O último sábado (27) mostrou ao Brasil que nem sempre a vitória dentro do ringue é suficiente para salvar a reputação fora dele. O Spaten Fight Night, que deveria ser lembrado por celebrar a luta como espetáculo, acabou marcado por uma pancadaria transmitida ao vivo e por uma sequência de erros na gestão da crise que se seguiu. Mais do que uma confusão esportiva, o episódio revelou como a má condução da comunicação pode arruinar a imagem de atletas consagrados.
Não faltaram análises do ponto de vista do marketing da cervejaria patrocinadora. Mas a discussão mais urgente está no campo da assessoria de imprensa e da gestão de crise. Quem acompanhou o evento viu as imagens da briga que se instaurou após a desclassificação de Wanderlei Silva. A cena correu o mundo em segundos, reforçando a máxima de que, em tempos digitais, a crise não espera, ela explode em tempo real. Nesse cenário, a tentativa de controlar a narrativa com discursos desconexos é um caminho sem volta para o descrédito.
Foi exatamente isso que fez Acelino "Popó" Freitas. Mesmo diante de registros em vídeo incontestáveis, o lutador insistiu em distorcer a ordem dos fatos. Disse que a confusão havia sido iniciada pela equipe de Wanderlei Silva. Negou a participação do próprio filho em uma agressão covarde, um soco na nuca, pelas costas, mesmo com inúmeras imagens mostrando o contrário. Mais tarde, desqualificou áudios divulgados por Fabrício Werdum, onde Popó já prometia a confusão, um dia antes da luta, sem apresentar os originais. Para fechar a escalada de contradições, buscou gerar comoção com uma foto hospitalizado, dias após o ocorrido, numa estratégia de vitimização que soou artificial diante do acúmulo de versões frágeis.
Para quem trabalha com comunicação, esse caso serve como um manual ao avesso da gestão de crise. Toda faculdade de jornalismo ensina que velocidade de resposta e transparência são fundamentais. O silêncio prolongado gera suspeitas e a mentira destrói credibilidade. Uma resposta rápida, mesmo que provisória, dá tempo para a apuração. Uma postura transparente, ainda que difícil, preserva a confiança do público. Popó venceu a luta após a desclassificação de Wanderlei, mas perdeu o duelo mais importante, o da opinião pública.
A lição principal desse episódio para os envolvidos é compreender que a crise não se limita ao noticiário esportivo, ela seguirá nos tribunais, na imprensa e, sobretudo, na memória digital, que não perdoa versões inventadas. Em tempos de redes sociais não existe vitória possível quando a estratégia é construída sobre mentiras. Popó pode ter vencido o duelo dentro do ringue, mas sua imagem saiu do evento nocauteada. Quem entende de comunicação sabe, e quem insiste em ignorar continuará aprendendo da forma mais dolorosa, que reputação não se reconstrói com álibis frágeis, mas com verdade, consistência e responsabilidade.
Giovani Gafforelli é jornalista e assessor de imprensa da bancada do NOVO na Câmara de Porto Alegre