A cidade que perdi
Por José Antônio Moraes de Oliveira


Os poetas e escritores de minha geração sabiam como bem celebrar os encantamentos de Porto Alegre. A eles costumo recorrer, quando esqueço dos nomes, cores e flores de minhas antigas andanças pela cidade. Que era prazeirosa e amável, ainda guardando seu jeito de ser dos tempos da Província de São Pedro. E que sobrevive nos versos do poeta Mário Quintana:
"Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...".
E na poesia em prosa de José Fogaça:
"Porto Alegre me tem, não leve a mal
A saudade é demais, É lá que eu vivo em paz".
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A cada vez e sempre que pego a estrada, as saudades apertam. É quando recorro às cenas esparsas de um passado que permanece vivo:
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Com os amigos fraternos Prunes e Martau na mesa de janela do Bar Hubertus. Tomamos chopp bem tirado, nos regalando com os sanduiches de lombinho e salada russa.
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Em um banco da Praça da Matriz, com um olho atento na filhota que despenca lomba abaixo, pedalando em seu triciclo vermelho.
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Ou nos Moinhos de Vento, no Jockey Clube do Prado que não existe mais. Com o pai que aposta nos cavalinhos da Escuderia Azul-e-Branco no páreo dos 1.200 metros.
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Esperando para entrevistar o governador Leonel Brizola, que convocou a Brigada Militar para defender o Palácio Piratini dos blindados do III Exército que estão subindo a ladeira.
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É uma matinê de domingo, no Cine Baltimore, assistindo "A Dama de Shanghai". Ao mesmo tempo que tento um flerte com a garota da fila de cima.
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Agora imóvel e quase sufocando no palco do Theatro São Pedro. Enfiado em uma armadura de lata, no papel do fantasma do pai de Hamlet, o príncipe da Dinamarca.
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Mas fica tarde, os sonhos pesam, os olhos reclamam. Uma pausa para respirar e reler o que está escrito. Mas me pergunto:
" - Fui eu mesmo que escrevi isto?
De onde vieram tantas lembranças?.
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