A Ferrugem da Inércia: O Custo de um Porto Seguro
Por Beto Carvalho

Imagine que você é um navegador em seu próprio barco. O barco tem história, foi construído com conhecimento estrutural e sempre foi visto como exemplo de boa navegabilidade. Hoje, porém, ancorado em um porto muito conhecido por você, apresenta sinais de ferrugem.
As águas da baía são calmas, e você conhece cada amarra, cada recanto do cais. Seu barco, outrora robusto e feito para as grandes travessias, agora acumula cracas no casco e suas velas estão desgastadas pelo tempo. A cada dia, o sol bate, o vento sopra, e você consegue ouvir o chamado do mar aberto, com suas ondas intensas e horizontes infinitos. Mas você permanece ali, ancorado. Inerte.
A familiaridade do porto, mesmo com o cheiro de óleo velho e a vista das mesmas paredes em ruínas, parece mais segura do que a imensidão azul e incerta do mar aberto lá fora. Você sabe que seu barco está se deteriorando, que a ferrugem avança, que a cada dia suas chances de navegar diminuem. O motor engasga quando você liga, os mapas empoeirados do convés nem sequer mostram a saída da baía. Porém, paradoxalmente, há uma sensação de "conforto" nessa estagnação, nessa previsibilidade decadente.
Você, então, se convence de que o mar é perigoso demais, que as tempestades são implacáveis, que talvez seu barco não resista. Mas e se a verdadeira tormenta for essa sua inação? E se o verdadeiro "conforto" não for a ausência de dor, mas a ausência de movimento?
Pense no seu hoje: o que o mantém atracado, quando seu espírito anseia por desbravar novos mares? É a inércia, o medo do desconhecido? Cada dia no porto é um dia a menos de aventura, de descobrir novas paisagens, de sentir o vento fresco da liberdade nas velas o impulsionando a novos destinos.
Você consegue reconhecer quando suas próprias amarras, por mais seguras que pareçam, o impedem de zarpar? É hora de olhar para o horizonte. O movimento, mesmo que seja apenas içar uma vela remendada e testar o leme, é o primeiro passo para a libertação. Deixe que a coragem seja sua âncora, e a fé o guia do seu destino. O oceano da vida espera - com todas as suas maravilhas e desafios, que você, finalmente, navegue.