A imprensa e o tempero ideal
Por Grazi Araujo
Paira no ar um sentimento de mudança. De transformação. Ainda com resquícios do ontem, mas com uma forte brisa de expectativa de melhora. É assim toda passagem de ano. E é assim sempre que se troca governo. Como diria Belchior, "tudo muda, e com toda razão". E essa é a expectativa que temos, na vida e na política. Afinal, as duas coisas estão entrelaçadas. Dentre tantas melhorias necessárias e urgentes, está a do trato da imprensa com a opinião pública, com as instituições e consigo mesma.
Após um período truculento na relação com o governo Bolsonaro, onde as fake news proliferaram geometricamente e a liberdade de expressão foi confundida com desobediência constitucional, a imprensa livre e responsável foi colocada à prova e teve que, mais do que nunca, provar sua utilidade na defesa da democracia e da verdade. Sem abdicar, claro, da sua característica maior que é informar, fiscalizar e criticar.
Mas se tudo muda, isso incluiu a imprensa. E pelo que estamos observando nos primeiros dias do governo Lula essa mudança ainda parece equidistante. Ou seja, a crítica e a descrença com as ações governamentais ainda predominam nas reportagens, colunas e comentários. Isenção e imparcialidade, sabemos, são pilares mestres do bom jornalismo, mas alto lá, devagar com o andor.
É preciso dar tempo ao tempo. Desaprovar antecipadamente o que o novo propõe, usando como régua de comparação os erros do passado recente, não parece ser um parâmetro justo. É preciso colocar nos conteúdos uma pitada de confiança na possibilidade de que as coisas possam melhorar. Tal qual ocorre na culinária, carregar no sal e na pimenta torna a comida impalatável.