A Máscara Caiu!

Por Fernando Puhlmann

"Três coisas não podem ser escondidas por muito tempo: o sol, a lua e a verdade."

Buda ( atribuída) 

 

A política brasileira tem uma nova performance favorita: a do "herói dos pets". Políticos de todas as cores se abraçam a cães resgatados e postam discursos emocionados que inflam as redes sociais. A receita é simples e eficaz: associe sua imagem à causa animal, e você conquista o selo de gente boa. Mas a recente votação da PEC da Blindagem expôs a farsa.

O que vimos não foi apenas um voto, foi a falência da coerência. Os mesmos parlamentares que usam a causa animal como trampolim eleitoral votaram a favor de um projeto que, na prática, enfraquece os mecanismos de investigação e protege corruptos. Esse ato envia uma mensagem clara: o bem-estar animal é uma ferramenta, não um princípio. Quando a lógica da autopreservação política entra em conflito com a causa que eles defendem, a causa animal é jogada para escanteio.

Essa contradição não é um acidente, é o reflexo de uma política que vive da superfície. A compaixão seletiva é a regra. A indignação com um cão abandonado em um vídeo de 30 segundos não se estende à exploração de animais em rodeios ou às práticas cruéis de indústrias que financiam campanhas. A empatia se calibra não pelo que é justo, mas pelo que rende mais. O holofote está nos pets, enquanto o sofrimento de tantos outros animais segue invisível, ignorado por aqueles que se dizem seus defensores.

O problema é que, nesse jogo, os animais se tornam meros figurantes. Sua vulnerabilidade é explorada para construir uma imagem de bondade que não se sustenta no momento da verdade. A mão que acaricia um cachorro para a câmera é a mesma que, em uma votação, pode proteger criminosos. O voto na PEC da Blindagem não foi apenas um gesto político; foi a instrumentalização descarada da compaixão. Foi a prova de que, para muitos, a causa animal é apenas um adereço, um acessório que se usa para ganhar eleição e depois se descarta.

Nós, da causa animal, estamos agora diante de uma escolha. Devemos continuar aplaudindo a performance, ou devemos exigir coerência e ações reais? A causa animal tem o potencial de ser uma força transformadora, capaz de gerar políticas públicas sérias e duradouras. Mas, para isso, ela precisa ir além das fotos e dos discursos vazios.

Chegou a hora de parar de seguir heróis que desmascaram a si mesmos. O preço dessa incoerência será cobrado nas urnas. O debate não é mais sobre quem ama mais os animais, mas sobre quem tem a coragem de transformar a compaixão em uma política de verdade. E, para isso, a palavra de ordem é fiscalização, e não blindagem.

Autor
Sócio-cofundador da Cuentos y Circo, Puhlmann é um dos principais especialistas em YouTube do país, com um olhar focado em possibilidades de faturamento na plataforma e uma larga experiência em relacionamento com grandes marcas do mercado de entretenimento. Além de diretor de Novos Negócios da CyC, tem também no seu currículo vários canais no país, entre eles o do escritor Augusto Cury, do Gov Eduardo Leite, Natália Beauty e do Grêmio FBPA, sempre atuando como responsável pela estratégia de crescimento orgânico dos canais. Já realizou palestras sobre a nova Comunicação juntamente com diretores do YouTube Brasil como a abertura do 28º SET Universitário da Famecos-PUCRS, o YouPIX/SP e o Workshop YouTube Gaming Porto Alegre. Desde 2013, Puhlmann ministra cursos, seminários e oficinas sobre YouTube, tendo mentorado mais de 30 canais nos últimos anos.

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