A mídia tradicional dá credibilidade ao digital

Por Elis Radmann

A massiva maioria dos gaúchos está conectada às redes sociais. As pesquisas realizadas pelo IPO - Instituto Pesquisas de Opinião indicam que nove de cada dez gaúchos utilizam o WhatsApp, Facebook ou Instagram para se comunicar, se entreter ou se informar.

Quanto maior a idade e menor a renda, maior a relação com o Facebook. Ao contrário, quanto menor a idade e maior a renda, maior a relação com o Instagram.

A conexão com o mundo digital é quase que a última atividade de um dia e a primeira ação do dia seguinte. Com a pandemia em curso, essa relação tem se tornado cada vez mais intensa, tornando a população mais dependente das informações que perpassam as redes sociais ou são enviadas pelo Whats.

Temos que ter a consciência de que a ampliação da utilização das redes sociais e das mídias digitais como um todo ocorre de forma simultânea com a ampliação dos sentimentos negativos trazidos pela pandemia: como a incerteza, o medo e a preocupação.

Nesse contexto, a população tenta "se defender" das Fake News (notícias falsas), das postagens dos Haters (pessoas que espalham o ódio) e dos golpes que são aplicados pela internet. E a saída encontrada está associada à busca pela credibilidade da informação, procurando as postagens de notícias ou de matérias de veículos tradicionais de sua cidade ou do Estado, que passam a ocupar um espaço de destaque na plataforma digital.

Os testes realizados pelo IPO - Instituto Pesquisas de Opinião começaram no início da pandemia. Conforme a pandemia crescia, verificou-se que se ampliava a utilização das mídias digitais como canal de informação, mas utilizando mídias tradicionais e jornalistas como referência de credibilidade. 

Ao longo dos últimos cinco meses esse fenômeno foi se comprovando, se tornando mais crescente. A população utiliza a plataforma digital para acessar a mídia tradicional, procura a informação postada pelo jornal local, pela rádio local ou portais de notícias de canais de televisão.

Com receio de ser enganada, a população começa a ser mais "seletiva" e, na tentativa de se proteger, volta a ativar a conexão com os meios tradicionais, passando a acompanhar as informações postadas, reportagens e comentários de jornalistas.

É importante registrar que esse fenômeno restabelece a velha prática das "bolhas de informação regional". Quando a mídia tradicional imperava, era comum a supremacia da informação local por veículos regionais, em especial, rádio e jornal impresso. O crescimento das plataformas digitais propiciou ao cidadão de cada cidade uma experiência global, com uma vasta possibilidade de fontes de informação. Diante da imensidão de possibilidades, dos golpes e sacanagens e da falta de credibilidade de muitas fontes, os gaúchos retomam a relação com os seus veículos de confiança, só que utilizando o canal digital como base de acesso.

Na prática, pode se dizer que o atual movimento está colocando a mídia tradicional com um "papel de destaque" dentro da mídia digital e resgatando o papel ímpar e primordial do jornalismo. 

O digital se torna uma nova forma de acesso na busca das informações metodologicamente validadas e tente a acabar com a dicotomia entre a mídia digital e a mídia tradicional.

 

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

Comentários